*Por: Caroline Abreu, Head de Inovação, Qualidade e Meio Ambiente na MPD Engenharia, corporação membro do Cubo Itaú
A industrialização está entre os principais pilares de transformação do setor da construção civil, ao lado da digitalização e da sustentabilidade. As três frentes são fundamentais para modernizar o segmento, tornando-o mais eficiente, sustentável e competitivo.
Vale ponderar que historicamente, a construção civil foi um dos setores mais tradicionais, com baixo uso de tecnologia, ficando atrás apenas de áreas como a caça e a pesca, de acordo com relatório da Mckinsey. Entretanto, o cenário tem mudado. Iniciativas como o Cubo Construliving, HUB com o objetivo de impulsionar a inovação na construção e habitação por meio do fomento ao empreendedorismo tecnológico, com teses focadas em Investimento e Finanças, Planejamento e Construção e Uso do Imóvel.
Além disso, o crescimento expressivo de startups no setor, exemplificam claramente essa transformação tecnológica, de acordo com o último Mapa de Construtechs e Proptechs da Terracotta Ventures, o número de startups no setor aumentou significativamente, com 1.209 empresas mapeadas em 2024, em comparação com cerca de 300 startups em 2018. Embora os investimentos para desenvolvimento de soluções industrializadas para a construção ainda sejam elevados, limitando o número de players, nota-se um crescimento contínuo de startups voltadas para essa tese.
No entanto, a construção civil enfrenta diversos desafios como a escassez de mão de obra qualificada, o aumento da idade média dos trabalhadores, os altos custos de insumos e a baixa adoção de novas tecnologias. Esses obstáculos são agravados pela fragmentação da cadeia de suprimentos, o que torna o avanço da industrialização ainda mais necessário.
Descrevo abaixo algumas iniciativas, que acredito serem essenciais na promoção da mudança:
Um pilar central na transformação do setor
A industrialização na construção civil pode ser implementada em diferentes níveis, desde modelos mais tradicionais, onde grande parte da construção é feita no canteiro de obras, até modelos mais avançados, com boa parte do processo realizada off-site. Essa frente se refere ao uso de tecnologias e métodos que permitem a produção de componentes em fábricas, com a montagem final ocorrendo no local da obra. Esse modelo oferece benefícios como redução do tempo de entrega, maior controle de qualidade, menor desperdício de materiais e menor dependência de fatores climáticos e da mão de obra no canteiro.
Outro exemplo importante é que vem avançando é a construção modular, que utiliza módulos independentes, sejam bidimensionais (2D) ou tridimensionais (3D), para compor estruturas maiores. As peças são aplicáveis a diversos tipos de projetos, desde banheiros prontos plug and play até painéis para lajes e fechamentos. Além da eficiência, o uso contribui diretamente para as metas de ESG, promovendo o uso racional de recursos hídricos e energéticos, além de minimizar o desperdício e otimizar a gestão de resíduos.
Exemplos em destaque incluem estruturas em Light Steel Frame, madeira engenheirada, componentes prontos, como banheiros modulares, e até casas completamente fabricadas fora do canteiro.
Apesar dos avanços, a industrialização no setor de construção enfrenta desafios consideráveis. O setor é tradicional e muitas vezes resiste à adoção de novas tecnologias e metodologias. Além disso, questões tributárias e a complexidade da regulamentação dificultam a expansão dos métodos industrializados em larga escala. A questão logística também é importante para fechar a conta com o modelo, sendo necessário certa proximidade das fabricações dos componentes ao canteiro para comprovar sua viabilidade.
A superação desses desafios pode abrir caminho para novas oportunidades, incluindo a melhoria da eficiência operacional, a redução de custos e o atendimento às crescentes demandas por construções mais sustentáveis e de alta qualidade.
Do lado das empresas é importante desenvolver estudos ligados a industrialização e promover testes para entender e aprender quais modelos melhor funcionam nos negócios, em busca de entregar itens e soluções cada vez mais aderentes às necessidades dos clientes e, principalmente, em busca da evolução do setor.
Um futuro baseado em industrialização
A adoção da industrialização em larga escala na construção civil exige tanto a superação dos desafios tradicionais quanto o reconhecimento das oportunidades que essas inovações oferecem. Com o aumento de empresas e startups ligados à industrialização e o desenvolvimento de soluções voltadas à eficiência, sustentabilidade e qualidade, o setor se posiciona cada vez mais para uma transformação completa, atendendo às demandas do mercado e às expectativas de um futuro mais sustentável.
Além do uso de tecnologia e inovação nos processos construtivos e no contato com o cliente, uma das grandes oportunidades do setor está em qualificar os profissionais que atuam nos canteiros de obras, para que todos estejam operando dentro do mesmo padrão. Nessa frente, capacitar os colaboradores, por meio de projetos e ações proprietárias fazem com que todos os profissionais conheçam mais sobre os produtos e ferramentas e possam atuar como agentes de transformação.
Acredito que a inovação e as estratégias de industrialização citadas são um caminho para melhoria do setor, mas que há muito mais sendo feito e que deve ser compartilhado a fim de fomentarmos ainda mais o mercado e crescermos em conjunto, uma vez que essas ações impactam todo o ciclo da jornada do cliente e a competitividade das empresas.