Manifesto aos hypes & modinhas

“Ah cara, inteligência artificial é tipo bitcoin, blockchain e aqueles desenhos de macaquinhos lá. Tudo modinha. Daqui a pouco ninguém mais lembra que isso existe!”. Comecei meu fim de semana ouvindo essa frase de um amigo depois que compartilhei com ele minhas aventuras nos anos de 2021 e 2022 no “universo blockchain”. Admito, fui uma das pessoas mais entusiastas com o hype do mercado crypto. Arrisquei em investimentos em DeFi, comprei várias NFTs que hoje mal valem o espaço digital que ocupam e até fui sócio de uma DAO (Decentralized Autonomous Organization) que não vingou.

Sim, perdi uma grana, mas isso não abalou minha fé no potencial disruptivo da tecnologia. Ao contrário, essa experiência me impulsionou a mergulhar ainda mais fundo nos fundamentos e entender o verdadeiro valor da blockchain. Aquilo que falei no começo é só a ponta do iceberg. A real é que somos seduzidos pelo brilho superficial das novidades tecnológicas, negligenciando a riqueza que se esconde em suas profundezas.

A conversa evoluiu, e aí começamos a falar sobre inteligência artificial e como eu acredito que ela tem o poder de reconfigurar nosso mundo de formas inimagináveis. Foi quando ele soltou aquela frase do começo do texto. E aí caiu minha ficha. De novo estamos criando um hype, mas agora em torno da IA. Deveríamos fomentar o uso da tecnologia de maneira responsável e criativa, mas ao invés disso estamos dando luz para deep fakes, músicas criadas por algoritmo e aplicativos para melhorar sua foto do instagram.

Em cima disso, a reflexão que quero fazer hoje é: Estamos realmente explorando todo o potencial transformador da inteligência artificial e da blockchain? Ou estamos nos deixando levar pelo barulho das aplicações superficiais e passageiras?

O potencial transformador da blockchain

Pra começar, é importante deixar claro que blockchain é muito mais do que criptomoedas e NFTs de macaquinho. Não vou ficar explicando aqui os fundamentos, mas vou trazer um exemplo de como um cidadão comum da Estônia se beneficia da tecnologia, na prática.

Vamos imaginar um cara chamado Markus. Estoniano, 32 anos, residente na cidade de Tallinn. Ele é um exemplo perfeito de como a vida pode ser transformada pela blockchain. Todos os dias, ele usufrui dos benefícios do programa e-Estonia, uma iniciativa pioneira que tornou a Estônia a sociedade mais digitalmente avançada do mundo.

Pela manhã, ele marca uma consulta médica online e seu médico tem acesso instantâneo ao seu histórico médico completo, garantindo um atendimento personalizado e eficiente.

No caminho para o trabalho, Markus é parado por um policial de trânsito, mas não precisa mostrar sua carteira de motorista física; o policial verifica rapidamente sua validade através do X-Road. Durante o almoço, Markus decide votar em uma eleição local usando seu smartphone, confiante de que sua votação é segura e anônima. Ao chegar em casa, ele verifica online sua declaração de imposto, que leva menos de cinco minutos para ser preenchida e enviada.

Sim, tudo isso é real. A vida dos estonianos é simplificada graças à integração da blockchain em quase todos os aspectos dos serviços públicos.

As distrações da blockchain

No entanto, ao invés de focar em soluções descentralizadas para problemas do mundo real, a galera, inclusive eu, estava ocupada tentando adquirir um macaco digital raro e colocar na foto de perfil do Twitter/X.

Até os astros do esporte e celebridades foram atraídos pela moda. Nosso Menino Ney não foi exceção. Em 2022, ele investiu quase 6 milhões de reais em três macacos da Bored Ape Yacht Club, uma coleção que totaliza 10 mil NFTs na blockchain da rede Ethereum. No entanto, o retorno desse investimento não foi como o esperado. Atualmente, essas três NFTs valem juntas “apenas” 600 mil reais.

Eu acredito que em até certo ponto esse hype ajuda a introduzir as pessoas à tecnologia, mas nesse caso virou uma distração superficial que obscureceu o seu verdadeiro potencial e propósito. Afastou investidores, empreendedores e jovens que poderiam maximizar o uso em prol dos negócios e da sociedade como um todo.

E aqui começa meu manifesto. Na verdade é meio que um lembrete pra mim também. Não podemos deixar a inteligência artificial ir pelo mesmo caminho. E meio que já está indo…

Inteligência artificial

Ao invés de focar em soluções para impactar o mundo de forma positiva, a galera, dessa vez não eu, está ocupada tentando criar um deep fake do Papa Francisco vestindo um casaco puffer ou do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, sendo preso por policiais. Ah, e rolou até uma música fake do Drake e The Weeknd feita por IA. Tudo isso pra quê? Pra viralizar no Twitter/X.

Qualquer semelhança com o hype da Blockchain é mera coincidência… ou não.

Embora essas imagens possam ser vistas por alguns como divertidas ou inofensivas, elas também levantam preocupações sobre a desinformação e o potencial de abuso da tecnologia. Mas o ponto é: Vamos nos distrair novamente ou focar nossa atenção para as mudanças reais? Vamos investir rios de dinheiro nos lugares errados ou em negócios de alto impacto?