Acompanho o ecossistema das startups há algum tempo e, recentemente, um dos segmentos que têm chamado minha atenção devido ao seu potencial de crescimento é o das biotechs. Estas startups são empresas do ramo de biotecnologia, que pesquisam propriedades de microorganismos, plantas e outros seres vivos para serem aplicadas à área da saúde, ou seja, no desenvolvimento de vacinas, medicamentos e tratamentos, por exemplo.
Neste setor, a pesquisa tem grande valor: 60% de todas as publicações científicas do país são relacionadas à biotecnologia. Porém, existe um abismo entre a academia e o mercado: quando um pesquisador se forma, ele é motivado a seguir na área acadêmica, não a empreender. Por isso, muitos cientistas vão para fora do país assim que concluem suas pesquisas e se tornam professores em universidades no exterior. Neste movimento, o país perde um importante capital intelectual.
E se estes pesquisadores fossem incentivados a implementar suas pesquisas, fundando empresas da área médica ou farmacêutica?
O resultado seria um retorno financeiro expressivo, com potencial para causar um impacto positivo no mundo. Por isso, já existem fundos de investimentos que identificaram este quadro e estão financiando estudos acadêmicos com o objetivo de transformá-los em empreendimentos.
A Vesper Ventures é pioneira neste sentido. No início de sua operação, foram avaliados 1.600 projetos, dentre os quais sete foram selecionados. Cada um recebeu entre US $150 mil e US $1,5 milhão para o desenvolvimento de suas soluções, que englobam temas como o tratamentos para doenças raras, novas formas de diagnóstico de câncer, vacinas, biofertilizantes e alimentos mais resistentes a pragas.
O cenário parece perfeito, mas existe um porém: o ciclo de produtos em biotecnologia é diferente. Os times são reduzidos e o investimento inicial é direcionado para testes clínicos, que são feitos por períodos longos, de 4 a 6 anos, até que se consiga a liberação dos produtos no mercado. A empresa não gera faturamento durante este período, o que torna a espera pelo retorno bastante demorada. Algo que, no Brasil, penso que pode ser um obstáculo relevante.
Todavia, como vemos no gráfico acima, quando a pesquisa é concluída e consegue-se colocar o produto no mercado, a empresa apresenta um forte potencial para fazer um IPO ou ser vendida para uma farmacêutica já consolidada. Nos EUA e Europa, o capital levantado em IPOs de biotechs aumentou 8 vezes desde 2010. Na Vesper Ventures, o objetivo é criar empresas globais com saídas (M&As ou IPOs) após 5 anos (em média) e com valuation médio de US $600 milhões.
Casos de sucesso de biotechs
Um exemplo de caso de sucesso do próprio portfólio da Vesper Ventures é a Aptah Biosciences, que desenvolve novas plataformas para terapias de mRNA (RNA mensageiro) para resolver distúrbios genéticos, o que pode auxiliar no tratamento de câncer e doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. A pesquisa já tem pedido de patente internacional e deve atingir o estágio de go-to-market entre 2026 e 2027.
Um exemplo da Europa: a Celon Pharma começou como uma empresa farmacêutica tradicional, mas passou do desenvolvimento de genéricos para a elaboração de medicamentos biológicos inovadores. A empresa está desenvolvendo, em estágio pré-clínico, um biossimilar do medicamento Lucentis, da Genentech, para degeneração macular (área da retina responsável por atividades como ler, dirigir e reconhecer rostos) relacionada ao avanço da idade. A Celon Pharma está cotada na Bolsa de Valores de Varsóvia desde 2016, com um valor de mercado superior a 150 milhões de euros.
Acredito que há um mercado a ser explorado com as biotechs no país, no qual a Vesper Ventures tem sido pioneira. Todavia, para que haja sucesso nesse setor, é preciso educar o mercado sobre o ciclo de crescimento (por este ser diferente das empresas de tecnologia e das startups tradicionais) como também sobre os impactos para a sociedade. Trata-se de uma das indústrias com maior potencial de melhorar e salvar vidas, além de oferecer oportunidades de altos ganhos financeiros. O contraponto é a necessidade de tempo para o desenvolvimento das pesquisas e o retorno que só vem a longo prazo.
Será que os investidores brasileiros estão preparados? Ou perderemos as empresas locais para as empresas globais – assim como perdemos nossos cientistas?