Líderes costumam assumir que o assédio sexual não irá acontecer em suas equipes se adotarem uma postura assertiva para os casos, afinal, trata-se de uma má conduta que deve ser advertida . Contudo, essa resposta costumeira aos casos não funciona como garantia de que deixarão de acontecer. Em poucos minutos de pesquisa, é fácil encontrar estatísticas e relatos alarmantes do abuso de poder dentro do ambiente de trabalho. Tal urgência traz a tona um questionamento antigo: qual seria a postura correta que uma empresa deve adotar diante do assédio sexual?
Reconhecer que casos de assédio podem (e vão) acontecer a qualquer momento dentro da sua empresa, é a chave que precisa ser virada para ir ao encontro de uma postura proativa.
Ao analisar esse contexto dentro da cultura organizacional, é de suma importância levar em conta a estrutura social que funciona com base nas relações de poder. As relações de poder são fenômenos baseados nas desigualdades e preconceitos, como o sexismo e o racismo — a partir do momento que uma sociedade constrói sua cultura com relações de poder imperando, um lado da moeda sempre se privilegia em relação ao outro. Para além do contexto social, a própria hierarquia dentro das equipes influencia as relações interpessoais. Este é o caminho para que desvios de conduta como o assédio aconteçam.
Casos de assédio sexual e moral dentro do ambiente de trabalho são mais comuns do queo esperado. De acordo com dados do Tribunal Superior do Trabalho (TST), reportados entre janeiro de 2015 e janeiro de 2021, 26 mil pessoas ingressaram com ações na Justiça por conta do assédio sexual no trabalho. São cerca de 204 processos por mês, uma média de sete casos por dia. Neste caso, as análises não podem ser levadas como absolutas uma vez que, a porcentagem de pessoas que chegam a denunciar é baixa.
Diante desta lógica, assumir uma postura apenas reativa diante do problema não evita de nenhuma forma que ele volte a acontecer, além de tornar o tema um estigma/tabu.
Engajamento tardio
Um dos problema mais comuns ao lidar com o assédio sexual, é o engajamento tardio. A gestão em organizações opta por tomar ações de reestruturação da cultura apenas quando a questão se torna uma crise, provavelmente já escalonada a casos extremos e refletindo um problema intrínseco ao dia a dia corporativo.
É inegável que falar sobre assédio é um assunto delicado, mas não deveria. É preciso abrir espaço no ambiente corporativo para a desconstrução, debate e entendimento da problemática, o que só é possível com uma cultura organizacional que passe confiança no combate a desvios de conduta. Redefinir a forma como lideranças abordam o tema para uma abordagem preventiva deixa explícito que, naquele ambiente, existe vigilância em relação a desvios de conduta.
A resposta complementar está na adoção de uma postura proativa, relacionada a educar a liderança para tornar o compliance parte da cultura organizacional. Trazer conformidade e prevenção para dentro da estratégia do negócio, capacita a gestão para mapear e lidar com problemas estruturais desde muito cedo.
Um canal de escuta inteligente, focado na experiência da pessoa colaboradora é uma das ferramentas mais importantes neste sentido. O propósito é equipar as pessoas internamente para relatar casos de assédio e outros desvios de conduta com segurança, caso seja necessário.
Nenhuma empresa está livre de casos de assédio sexual, nem mesmo a SafeSpace. Se preparar para mitigá-los diminui os impactos deste comportamento, tanto para a organização quanto para a pessoa em contexto vulnerável.