Depois de 5 anos trabalhando todos os dias com founders de todo o Brasil, principalmente nos estágios pré-seeed a série A, eu identifiquei duas mentalidades fundamentais do empreendedor, que definem muito como ele toca o negócio de uma maneira geral.
O founder “business-oriented” vê a startup como um negócio. Tem uma visão de certa forma mais fria e calculista. Pensa como um VC. Geralmente tudo começa garimpando o mercado por oportunidades. Ele faz business-plans, pensa no melhor time e monta um plano robusto de captação, o que faz muito bem. Ele é analítico, toca a empresa menos preocupado com detalhes de produto e tem pouca empatia com o cliente. Tenta contratar especialistas nas áreas e costuma delegar bastante e ficar longe dos detalhes da execução. Ele conhece todos os VCs, os modelos do “pitch perfeito” e já tem um plano de saída se tudo ocorrer bem, mas pouco pensa no seu cliente.
O founder “customer-centric”, por outro lado, tem o cliente como a grande referência. Geralmente tudo começa por que viveu a dor que quer resolver ou conhece alguém próximo que sofreu por não ter uma alternativa melhor. Ele sofre junto com o cliente. Gasta mais tempo falando com cliente e pensando em detalhes de produto do que em eventos de startups e planilhas financeiras. Tem forte propósito no que faz e traz o time junto por sua paixão. Alguns acham que este líder é controlador ou gasta muito tempo com detalhes, mas para ele é aí que pode estar a diferença. Ele toca o dia a dia bem mais próximo do time e das decisões táticas. Pra ele, qualquer contato com investidor, a menos que seja uma real ajuda, é perda de tempo.
Uma forma que gosto de enxergar o desafio de startups neste estágio é a seguinte. Precisamos criar valor e capturar valor. Tudo se resume a isso. O founder “customer-centric” é muito focado em criar valor, muitas vezes colocando o negócio em risco. O founder “business-oriented” gasta mais energia em capturar valor, pecando muitas vezes no básico, que é entender profundamente o cliente e criar uma solução única pra ele.
Ambos estilos têm seus pontos fortes e suas fraquezas. O importante é identificar seu jeito empreendedor, se você é orientado pelo negócio ou pelo cliente, e seguir em frente procurando se complementar com advisors, co-founders ou pessoas-chaves da empresa que te ajudem a enxergar sua startup de forma completa.
Caso contrário, você sempre será um empreendedor míope, enxergando seu negócio com seu olhar enviesado.