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Green Ventures: a bola da vez?

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Green Ventures é um termo que tem aparecido muito em conversas sobre tendências e previsões de cenários no ecossistema de startups, principalmente entre os investidores. A expressão refere-se aos negócios focados em criar soluções sustentáveis e ecologicamente responsáveis.

As empresas podem ser dos mais variados ramos dentro deste nicho, desde energia renovável e eficiência energética até agricultura sustentável, reciclagem, mobilidade urbana, construção verde, entre outros. Em suma, são startups que buscam trazer e promover produtos, serviços ou tecnologias que tenham um impacto ambiental positivo ou que contribuam com a transição para uma economia verde.

Uma vez que a questão climática é a cada dia mais urgente e pauta nas principais discussões mundiais sobre o futuro da humanidade, esse tipo de negócio é fomentado pela necessidade de enfrentar os desafios ambientais e climáticos, ao mesmo tempo em que buscam oportunidades de negócios lucrativas e com potencial de escalabilidade. 

Alinhamento com a urgência do desafio

Os números falam por si, as startups de tecnologia climática representaram mais de um quarto do total de investimentos de VC nos três primeiros trimestres de 2022, de acordo com a PwC. Aprofundando a análise, as startups focadas na descarbonização do transporte são as que têm recebido mais financiamento e oito em cada dez investidores entrevistados para a análise do relatório disseram estar planejando aumentar seus investimentos em produtos ambientais, sociais e de governança nos próximos dois anos.  

De acordo com a Climate Tech VC, desde 2021 já foram criados 135 fundos focados em investimentos relacionados ao clima, com US$ 94 bilhões. Já são ao menos 83 unicórnios neste nicho, startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão, segundo dados da empresa de pesquisa HolonIQ.

Do lado dos fundos de investimentos, não há dúvidas de que este é o futuro e para onde irão destinar grande parte dos recursos, visando estimular negócios que tragam soluções para se ter energia mais barata, confiável e que continuem a alimentar o crescimento da tecnologia limpa. Para se ter ideia da dimensão que este mercado está tomando, o relatório da PwC aponta ainda que 14 centavos de cada dólar de investimentos de VC estão em tecnologia climática. No ano passado, os investimentos em tecnologia climática atingiram o máximo histórico, uma proporção maior do que 12 dos 16 trimestres anteriores.

Esses dados traduzem o que vem acontecendo na prática. A Frontier – parceria composta pelas empresas Stripe, Alphabet, Shopify, Meta e McKinsey – já fez um investimento inicial de US$ 925 milhões em cinco startups que oferecem remoção de dióxido de carbono (CDR). Outro grupo, a First Movers Coalition – incluindo Microsoft, Alphabet e Salesforce – prometeu US$ 500 milhões para a remoção de CDR até 2030.

A Sequoia Capital e a General Atlantic também aumentaram suas apostas em empresas de tecnologias para o combate às mudanças climáticas. Estes são apenas alguns exemplos recentes de grandes players que vem apostando no mercado de Green Ventures. 

Outros fatores que devem impulsionar o setor são a Lei de Redução da Inflação, que provavelmente levará a um maior investimento do setor privado em tecnologia climática no mercado norte-americano este ano, e o fato dos custos de implementação das energias renováveis terem diminuído significativamente nos últimos anos.

Por aqui, este nicho está dando seus primeiros passos mas já apresenta um número considerável de players: são pelo menos 177 cleantechs já mapeadas, segundo um levantamento da ABStartups, Associação Brasileira de Startups, sendo que 22,5% delas têm menos de um ano de atuação e 17,7% têm mais de cinco anos. Neste panorama, um terço destas empresas está no momento de tração, à procura de investimentos para crescer e potencializar sua atuação. 

Ao mesmo tempo que temos potencial para ser um dos países líderes na condução de iniciativas e políticas ambientais que poderiam alavancar, juntamente, o ecossistema das cleantechs e climatechs por aqui, o que vemos por enquanto são muitos planos do governo com dificuldades de saírem do papel e consequentemente uma inércia no cenário das startups brasileiras que tentam deslanchar neste nicho.

O potencial de disrupção do mercado é significativo e esse é o principal fator para que ele seja atrativo, tanto para empreendedores, como para os investidores. Para exemplificar, basta olhar para o mercado de IA e o big data, mesmo que relativamente pequenos em volume de empresas, respondendo por menos de 5% da criação de valor total em todos os segmentos, é o mercado que originou 16 dos 100 principais unicórnios.

Mas, apesar de promissor, o desafio climático ainda é bastante complexo e exigirá muitos anos de pesquisa, trabalho e soluções inovadoras. Portanto, por ora, reflete um mercado ineficiente a curto e médio prazo, mas absolutamente necessário, visando amadurecimento. Outra preocupação é o aumento da prática “Greenwashing”, quando empresas assumem compromissos sustentáveis na teoria, mas na prática acabam por não implementar ações concretas e empregar esforços em prol da sustentabilidade e do meio ambiente.

Com todos esses aspectos em perspectiva, é necessário avaliar que, nacionalmente, esse é um mercado jovem e com barreiras de entrada relativamente baixas, sem empresas dominantes até o momento, por isso os Green Ventures podem oferecer oportunidades atraentes. Aliado ao seu  potencial natural, é fato que será um dos focos de investimentos públicos e privados em 2023 e nos próximos anos, devendo atrair capital de risco, mas outro ponto é fundamental para um crescimento sustentável do setor e para o amadurecimento das empresas deste ecossistema: saber direcionar todo o capital aportado.

E no Brasil?

No Brasil, a maior parte das startups voltadas para amenizar as questões climáticas e  desenvolver soluções sustentáveis estão em fase early stage, o que representa um vasto campo de oportunidades para desenvolver o setor por aqui. Além disso, o país é um dos expoentes globais na temática ambiental, com perspectiva de se tornar um das referências mundiais em ESG.

Mesmo com a desidratação que vem acontecendo da pasta da Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente, ela segue empenhada em acelerar as medidas pró gestão ambiental e proteção da biodiversidade, como a já em atividade Secretaria Nacional de Bioeconomia, contando também com o apoio das maiores potências da Europa – como Alemanha, Reino Unido e Noruega -,  e isso deve ajudar a deixar o caminho mais aberto e atrativo para os Green Ventures num futuro próximo.

Resta acompanhar se o ecossistema brasileiro vai seguir na competição para brigar de igual para igual com os demais players globais ou até mesmo liderar essa corrida, contribuindo com soluções inovadoras, ou se o delay no amadurecimento do nicho e a falta de direcionamento de investimentos públicos para potencializar o país como um líder na sustentabilidade vai nos prejudicar. 

A grande oportunidade está aí. Potencial temos de sobra, capital também está disponível nesta equação, o que vai definir o resultado é a destinação dos esforços.

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