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O mercado secundário entra em cena

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Em momentos de incerteza econômica como o que estamos atravessando agora, investidores e especialistas financeiros buscam maneiras de maximizar seus ganhos. Neste cenário, o mercado secundário vem dando as caras e surgindo como uma opção dentro do segmento de venture capital. Apesar de ainda ser incipiente no Brasil, esta modalidade apresenta um potencial enorme para quem busca diversificar sua carteira e obter bons retornos financeiros.

Mas o que é mercado secundário e qual a sua posição em outros países?

No mercado secundário, quem quer investir compra ações de outros investidores ao invés de buscar diretamente as empresas. Em uma ponta estão os investidores anjos, colaboradores, ex-colaboradores e fundos que entraram na empresa em um momento early stage, colheram uma boa valorização de sua participação e agora buscam liquidez. Na outra ponta, há os investidores interessados em aportar na empresa, com desconto no valor da ação em relação ao último valuation, acreditando no crescimento para obter um bom retorno no médio e longo prazo. 

No Brasil, o setor ainda é incipiente, com algumas poucas plataformas surgindo para viabilizar negociações e com uma série de empresas começando a vender suas ações nesta modalidade. Inclusive, já escrevi sobre isso, te convido à leitura para compreender melhor a estrutura do mercado secundário. Todavia, de acordo com um relatório da Velvet, fintech que atua no mercado secundário, hoje ele ainda representa apenas 0,6% do mercado de venture capital da América Latina, com US$100 milhões em transações de um total de US$16 bilhões. Isso significa que a região está cerca de 10 anos atrás em termos de maturidade, na comparação com o mercado norte-americano.

Quando olhamos para o cenário global, em 2021 o mercado secundário atingiu um recorde, com um total de US$130 bilhões negociados em acordos. Só nos EUA, este segmento cresceu 6 vezes na última década e, em 2022, acumulou 30% das transações de venture capital (responsável pela movimentação de US$100 bilhões dos US$330 bilhões do mercado total). Isso demonstra o potencial enorme de crescimento que o mercado secundário tem e ainda deve alcançar no Brasil.

O mercado secundário norte-americano oferece um desconto entre 20% – 80%. Espera-se que o mercado latino-americano de secundários se desenvolva de forma semelhante, permitindo acordos de investimento favoráveis nas principais empresas privadas.

“O pessimista vê dificuldade em cada oportunidade e o otimista vê oportunidade em cada desafio”

A célebre frase atribuída a Winston Churchill resume bem o cenário. Estamos em um momento de baixa, no qual muitas startups encontram dificuldades para captar recursos e manter seus valuations elevados. Dados da Distrito mostram que os investimentos em startups no Brasil tiveram queda de 86% no primeiro trimestre de 2023 e dentre os reflexos estão os inúmeros anúncios de demissões em massa que temos visto ultimamente, em consequência da nova realidade financeira. 

No entanto, para os investidores otimistas, esta pode ser uma oportunidade de identificar empresas com potencial de crescimento e investir nelas. Gestoras de fundos de investimentos acreditam que os momentos de baixa podem ser interessantes para os investidores. Afinal, nestas ocasiões, é possível fazer o famoso movimento de comprar “na baixa” para resgatar os investimentos “na alta”, confiando na característica cíclica do mercado.

Foi assim em 2009, no auge da crise financeira mundial, quando a DST Global investiu US $200 milhões no Facebook via mercado secundário. Detalhe curioso é que muitos taxaram o fundador do fundo, Yuri Milner, como louco na ocasião, por entrar em um down round em comparação com a última rodada realizada pela MSFT de US$ 240M, avaliada em US$ 15B, em outubro de 2007, cerca de dois anos antes.  Os US$200M investidos por Milner representaram 2% de participação na empresa na época, avaliada em US$10 bilhões. Três anos depois, Milner que havia sido taxado como louco, virou guru! O Facebook fez um dos maiores IPOs da história no Nasdaq, com a empresa avaliada em US$ 100B, gerando um retorno sobre investimento de 10x. 

Este é apenas um dos exemplos de como o mercado secundário pode ser uma opção rentável para os investidores.

Velvet: um case brasileiro

A Velvet foi uma das pioneiras a explorar o mercado secundário no Brasil. Fundada em setembro de 2021, a empresa atua na compra e revenda de ações de startups com capital fechado e tem mirado em empresas em estágios mais avançados com valuation superior a US$ 500 milhões, para evitar oscilações do mercado, e que já tenham recebido grandes aportes de fundos consolidados de venture capital. 

Entre as empresas que a startup negociou em transações secundárias estão nomes como Nubank, Space X e Open (maior neobank da Índia), com taxas de retorno (IRR) de 82.07%, 177.8% e 74.6%, respectivamente. Além disso, a Velvet tem em seu portfólio Quinto Andar, Future Farm, Oishii, Nuvemshop, Covalto, entre outras.

A estratégia da startup tem agora como foco empresas da América Latina, investindo em negócios que resolvem os maiores problemas e que utilizam a tecnologia para tal. A Velvet enxergou o tamanho do potencial inexplorado do mercado secundário no Brasil e aposta principalmente em fintechs e retail techs. A nível de comparação, para exemplificar a empolgação da Velvet com a América Latina, enquanto há mais de 200 fundos primários de VC competindo por negócios nessa região, não existe nenhum fundo dedicado ao mercado de secundários por aqui, até agora.

De olho em novos produtos para o seu portfólio, a Velvet pretende, em alguns anos, se tornar a carteira dos colaboradores que estão recebendo liquidez, como um benefício corporativo visando a retenção de talentos. 

A startup já fechou 2 rodadas de investimento, levantando US$ 3,5 milhões da Global Founders Capital, numa rodada seed, e mais US$ 200 milhões da Yolo Investments, com participação de family offices da Suíça e dos Estados Unidos, em fevereiro do ano passado.

Perspectivas para o mercado secundário

Os exemplos e os dados de outros países demonstram que o mercado secundário no Brasil tem potencial para crescer e oferecer boas oportunidades de investimento, inclusive em um momento de baixa, como o atual, com recorrente desaceleração do mercado de IPOs e os cortes que temos observado. Tudo isso deve impulsionar ainda mais as atividades secundárias.

De acordo com um relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o desenvolvimento do mercado secundário pode aumentar a liquidez, reduzir os custos de financiamento para as empresas e atrair mais investimentos estrangeiros. No entanto, ainda há alguns desafios a serem superados no tocante à regulamentação financeira e confiança do investidor.

Claro que diversos fatores influenciam o mercado, que é altamente volátil, mas as análises mostram que há um terreno fértil e valioso para ser estudado com dedicação aqui na América Latina, principalmente o Brasil que abriga o maior celeiro de unicórnios.

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