Coluna

"Faz sentido?"

"Faz sentido?"

Uma das perguntas que mais ouço no ecossistema “startupeiro” é… “faz sentido?”.

Às vezes, há variáveis na formulação da frase, como “se isto fizer sentido para você…”, mas não na quantidade. Ela é sempre muito frequente.

O que não é comum nas startups é a diversidade.

Um mapeamento feito pela Associação Brasileira de Startups concluiu que, apesar de 96,8% delas declararem que apoiam a diversidade, apenas 39,3% dos empreendimentos pesquisados possuem ações concretas sobre o tema e 37,7% contam com profissionais acima dos 50 anos na equipe.

Faz sentido?

Além de propiciar enriquecedores debates intergeracionais, e com isto ajudar a construir soluções inovadoras, os profissionais 50+ possuem valiosas experiências obtidas em décadas de carreira, aprendizados conquistados com erros já cometidos e uma incrível bagagem de respeito, networking e inteligência emocional – diferenciais que comprovadamente contribuem para a geração de resultados financeiros mais expressivos.

Os 50+ de ontem foram capazes de fundar empresas disruptivas que se expandiram globalmente, mesmo sem os atuais recursos tecnológicos – e muitas delas comemoraram um centenário de existência.

Há inúmeros exemplos, vou citar três:

– Henri Nestlé iniciou a empresa alimentícia com 52 anos.

– John Pemberton inaugurou a Coca-Cola com 55 anos.

– Charles Flint fundou a IBM quando tinha 61 anos.

Os 50+ de hoje não nasceram neste mundo digital. Mas criaram o computador.

Os 50+ de hoje não nasceram neste universo escalável. Mas viabilizaram a Internet.

Normalmente, as startups são associadas à juventude.

No entanto, em termos globais, a idade média dos fundadores das startups de sucesso é de 45 anos.

A conclusão é do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). De acordo com o responsável pelo estudo, o professor Pierre Azoulay, o empreendedor de 50 anos tem duas vezes mais chances de vender uma empresa do que um de 30 anos.

Ah, mas e o Mark Zuckerberg?
Quantos “Marks Zuckerbergs” existem?

Jeff Bezos tinha justamente 45 anos quando obteve a sua maior taxa de crescimento de capital da Amazon.

E foi aos 52 anos que Steve Jobs chegou ao auge da Apple, ao anunciar o iPhone. Mesmo assim, valorizava a experiência: “Trocava toda a minha tecnologia por uma tarde com Sócrates”.

Chip Conley tinha 52 anos quando decidiu se juntar a uma startup na área de turismo. Era o Airbnb… que começou a decolar exponencialmente a partir daquele momento.

E, no Brasil, há inúmeros exemplos de “gente como a gente” – menos famosos, mas que demonstram invejável capacidade e disposição.

Aos 62 anos, o empreendedor Elyseu Mardegan teve sua startup LendMe selecionada pelo programa “Sandbox” do Banco Central. A plataforma utiliza a tecnologia para reduzir a burocracia e o tempo para a concessão de home equity. Ele explica a iniciativa: “As pessoas estão vivendo mais, as aposentadorias rendendo menos e a hipoteca reversa pode ajudar viver com mais dignidade”. Ou seja, um 60+ que criou um projeto destinado a outros 60+.

Outro caso interessante é o de Edson Andrade. Ao ser demitido aos 65 anos, criou o projeto “Plataforma da Gestão”, que oferece cursos, consultoria e treinamentos 100% online. Ou seja, um 60+ resolvendo dores do mercado.

Como as venture builders enxergam este movimento?

Fiz esta pergunta para o sócio-fundador da CriaBiz, Christian Pensa, de 42 anos. Ele foi taxativo: “A diversidade de idade, gênero e experiências, por exemplo, trazem grande riqueza de pontos de vista complementares. Fortalece o ambiente, permite o exercício saudável do contraditório e enriquece o arcabouço de entregas que podem ser feitas para as startups, e das startups para o mercado”.

Já Henriette Krutman, que tem 74 anos e é presidente do Conselho de Administração da empresa, acrescenta que este conceito não fica no discurso, mas é aplicado na prática dentro da CriaBiz, tanto em termos etários, como também de gênero: “Buscamos fortalecer essa diversidade constantemente: 30% das startups da carteira são lideradas por mulheres e 25% da nossa base de investidores-anjo são mulheres. Nas verticais CriaBiz, especializadas em seus nichos de mercado, buscamos formar equipes de sócios-especialistas com dois homens e duas mulheres”.

Então, “se isto fizer sentido para você…” comece a agir!