O inverno das startups deu origem a uma safra de empresas resilientes e mais maduras, mas que têm encontrado dificuldades para levantar recursos em um cenário de liquidez ainda baixa. Para os fundos que estão com o bolso cheio, o momento é de aproveitar a oportunidade de encontrar empresas de qualidade, sem valuations inflados. É o caso da Angra Partners, gestora tradicional de private equity, que acaba de lançar seu primeiro fundo de venture capital, com R$ 200 milhões para investir.
Voltado para inovação, tecnologia e impacto, o fundo tem como única cotista a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O fundo será focado no early growth, com investimento em rodadas de séries A e B.
O novo braço de capital de risco da gestora está sendo comandado por Murillo Vianna, que havia deixado a empresa em 2017, após 11 anos no negócio, para tocar projetos pessoais. Entre eles, o empreendedorismo.
Experiência como empreendedor
Em 2020, Murillo fundou a startup de vitaminas e suplementos personalizados SetYou, ao lado da sócia Juliana Duarte. Em 2022, a empresa chegou a captar R$ 3,5 milhões em uma rodada seed com DOMO Invest, IKJ Capital, The Next Company e Plataforma Capital, além de anjos da Universidade de Chicago, onde os dois empreendedores fizeram MBA. Em 2023, porém, Murillo decidiu deixar o dia a dia da startup para voltar a se dedicar à carreira de gestor.
De volta à Angra desde o início do ano, Murillo quer unir os dois mundos no trabalho com o venture capital. “Minha experiência como empreendedor me fez conhecer mais sobre esse ecossistema de venture capital que é muito diferente de private equity, além de entender melhor os desafios que o empreendedor passa. Eu tinha noção do desafio que existia do outro lado da mesa, mas só vivendo na pele para enxergar como realmente é”, afirma.
Startups mais maduras
A busca por empresas mais maduras para o novo fundo tem a ver com o histórico da Angra, de investir em companhias já estabelecidas. A ideia é que sejam realizados investimentos em cerca de 8 a 12 empresas, com cheques de R$ 15 milhões a R$ 30 milhões.
Segundo Murillo, a procura é por startups que já tenham modelo provado, tração e estejam em fase de escalar. Além disso, que tenham faturamento a partir de R$ 15 milhões. O fundo também exige, além dos direitos padrão de venture capital, participação minoritária relevante e pelo menos uma cadeira em conselho. O primeiro investimento do fundo deve ser anunciado em breve, e já há mais duas outras empresas em negociação.
“Queremos estar no ciclo completo das empresas. Olhamos startups mais maduras pela nossa expertise com o private equity, por isso não nos aventuramos no early stage. Também temos uma abordagem muito fundamentalista, por isso nossos clientes gostam da gente”, brinca.
Com relação ao cenário para o venture capital no Brasil atualmente, Murillo acredita que o ecossistema está mais maduro, o que favorece os investidores.
“O Brasil mudou muito de 10 anos para cá. Hoje em dia, temos muitos centros de aceleração, incubadoras, redes de investidores-anjos, fundos em todos os estágios e, mais importante ainda, empreendedores de altíssima qualidade e novos modelos de negócio que se propõem a inovar. E esses empreendedores precisam de apoio do mercado, as ideias precisam de apoio do mercado. Então cria-se um cenário onde há, sim, muitos bons investimentos a serem feitos e muito valor a ser destravado”, diz.