Cassio Spina, fundador e presidente da Anjos do Brasil | Foto: Divulgação
Cassio Spina, fundador e presidente da Anjos do Brasil | Foto: Divulgação

A Anjos do Brasil encerrou 2025 com um balanço positivo. A rede realizou 19 investimentos ao longo do ano e tem outros três em fase final de assinatura – o que pode levar a um total de 22 aportes neste ano. Além disso, o grupo ampliou sua atuação com o lançamento de duas novas verticais, de biotechs e energia, reforçando a estratégia de foco setorial no apoio a startups.

“No ano passado fechamos 26 investimentos, mas, considerando a conjuntura, podemos dizer que foi um bom ano”, afirma Cassio Spina, fundador e presidente da Anjos do Brasil, em entrevista ao Startups. Hoje, a organização conta com mais de 530 membros, incluindo investidores do Brasil, Estados Unidos e Europa.

Apesar do crescimento do grupo ao longo dos anos, Cassio afirma que o mercado de investimento anjo no Brasil ainda é limitado por entraves estruturais. Em especial, os tributários. Dados da Pesquisa sobre Investimento Anjo no Brasil, realizada pela Anjos do Brasil em parceria com o Sebrae Startups, mostram que a tributação elevada sobre o ganho de capital é o quarto maior motivo para quem não investe como anjo, citada por 34,52% dos respondentes.

“O tratamento tributário é uma grande barreira. O investimento em startups é mais arriscado, de médio e longo prazo, mas acaba sendo tributado como se fosse renda fixa”, diz Cassio. Hoje, a tributação pode ocorrer sobre o ganho de capital, com alíquotas entre 15% e 22,5%, ou seguindo a lógica da renda fixa, que começa em 22,5% e cai até 15%. “E o pior é que o investidor anjo não pode sequer compensar perdas com ganhos, algo que acontece no mercado de ações.”

O estudo também aponta que, entre os incentivos que teriam maior impacto positivo no ecossistema, foram citados a isenção de imposto sobre ganho de capital e a dedução parcial do valor investido no imposto de renda.

Para Cassio, a ausência de uma política de estímulos ao investimento em startups fica ainda mais evidente quando comparada a outros ativos. “Hoje, quem investe em LCI, LCA tem isenção. Small caps também eram isentas, até o ano passado. Já o investimento em startups, que é mais arriscado e de longo prazo, recebe um tratamento tributário desequilibrado”, afirma.

Segundo o presidente da Anjos do Brasil, o país tem cerca de 8 mil investidores anjo, enquanto os Estados Unidos somam aproximadamente 400 mil. “Para ser proporcional ao PIB, o Brasil deveria ter pelo menos 32 mil investidores anjo. Estamos de oito a dez vezes abaixo do que deveríamos estar”, compara.

Ele lembra que existem projetos de lei em tramitação no Congresso para tratar do tema, mas que muitos não avançam – inclusive pontos previstos no Marco Legal das Startups, que acabaram vetados.

O cenário de juros elevados também traz desafios para os investimentos em startups, que se tornam menos atrativos que a renda fixa. Segundo a Pesquisa sobre Investimento Anjo no Brasil, essa é a aplicação mais escolhida pelos investidores (94%), que também optam por ações e fundos, entre outros investimentos, para diversificar.

Para Cassio, apesar de o cenário macroeconômico tornar a situação mais complexa para o investimento anjo, o momento também abre oportunidades. “Quando os juros estão altos, o capital fica mais restrito e surgem melhores oportunidades de investimento. O maior problema não é o juro em si, mas a falta de incentivos estruturais”, avalia.

Ainda assim, o presidente da Anjos do Brasil reforça que o investimento em startups deve ser visto com uma perspectiva de longo prazo e vai além do retorno financeiro. “Existe um ganho enorme em aprendizado, em conexão com novas tecnologias e em fazer parte das transformações que estão acontecendo. Essa troca é muito rica e traz um retorno que vai muito além do dinheiro”, avalia.

Atualmente, a Anjos do Brasil opera em 14 verticais setoriais. Além das recém-lançadas biotech e energia, fazem parte do portfólio áreas como saúde, educação, agro, software SaaS, inteligência artificial, fintechs, proptechs, retail tech e mulheres investidoras anjo. Em 2025, os investimentos ficaram bem distribuídos entre os setores, com destaque para retail tech e healthtech, que receberam dois aportes cada. Os cheques variam entre R$ 250 mil e R$ 450 mil, com média de R$ 20 mil por investidor em cada startup.