
Nos últimos cinco anos, o ecossistema brasileiro de venture capital atravessou um ciclo intenso de transformação. Se 2021 foi marcado pela euforia do capital abundante, valuations inflados e um otimismo quase desmedido, o inverno dos anos seguintes fez com que o setor chegasse a 2025 mais sóbrio, maduro e consciente da suas próprias particularidades e diferenças para o mercado norte-americano.
Pedro Melzer, sócio do Patria Investments e vice-presidente da ABVCAP, destaca que a fase de “vacas gordas” trouxe importantes aprendizados. O excesso de liquidez levou muitos investidores a decisões apressadas, em um ambiente onde o crescimento a qualquer custo era exaltado e a racionalidade frequentemente deixada de lado. A correção que se seguiu obrigou o ecossistema a recalibrar suas expectativas e, mais importante, suas práticas.
“O cenário atual é mais saudável. Há mais diligência, mais foco em geração de valor real e uma percepção mais clara do que significa construir uma empresa sustentável. Chegamos a 2025 com um ecossistema mais sóbrio, mais técnico, e com uma geração de founders muito mais preparada”, diz.
Essa transição da euforia para a responsabilidade é comparada por Marcello Gonçalves, cofundador da DOMO.VC, à passagem da adolescência para a vida adulta. Para ele, o venture capital brasileiro passou, nos últimos cinco anos, por uma etapa essencial de construção de identidade.
“Nesses cinco anos, muito mais do que nos cinco anos anteriores, em que realmente era mato alto no venture capital, a gente viu a aplicação de vários conceitos no Brasil. Alguns deram certo, outros errado, mas ajudaram a criar a cultura nacional de venture capital. Que não é nem melhor, nem pior que a norte-americana, só diferente”, afirma o investidor.
Com menos liquidez, a primeira lição aprendida pelo mercado é que crescimento a qualquer custo não se sustenta, o que passou a exigir das startups uma governança melhor estruturada e uma relação mais próxima e transparente entre fundos e fundadores. O capital é um recurso poderoso, mas que, mal alocado, destrói valor, ressalta Pedro.
É por conta dessa destruição de valor que Marcello espera que euforias como a de 2021 não se repitam tão cedo no venture capital brasileiro. “Foi muito bom para poucos e não necessariamente da maneira certa. O mercado foi irresponsável e pagou por isso e segue pagando”.
Com a proximidade das eleições e um cenário macroeconômico e político desfavorável, os próximos dois anos ainda serão de ajustes e questionamentos: haverá espaço para tantos fundos de VC no país, especialmente no estágio Seed? Qual será o papel das gestoras menores? É preciso buscar novas formas de financiamento? E o que o mercado brasileiro de venture capital quer ser quando crescer?