Quanto maior a empresa, mais dados financeiros ela possui, o que facilita o processo de análise por parte dos investidores. Para startups em estágios iniciais, porém, essa análise se torna um desafio, e os fundos de venture capital acabam usando critérios pouco objetivos para saber quanto uma empresa vale antes de fazer o aporte.
Foi para resolver esse problema que a Astella, uma das principais gestoras de venture capital do país, decidiu lançar uma fórmula, chamada de V multiple, que ajuda a determinar o investimento nas startups early-stage de forma mais precisa.
A gestora, especializada nos estágios pré-Seed, Seed e Série A, está buscando startups para compor o seu quinto fundo, e tem usado o V multiple para aprovar os investimentos.
“Tem uma escassez de métricas para analisar empresas no early-stage, já que são empresas que estão distantes de ter geração de caixa. Então, em vez de considerar o fluxo de caixa, a gente criou uma fórmula que considera a margem bruta, e que nos permite comparar maçãs com maçãs”, afirma Vitor Pajaro, investidor na Astella e criador da metodologia.
Segundo ele, o objetivo é que a fórmula ajude as empresas a serem precificadas corretamente, fazendo com que o valor do aporte seja condizente com o valuation que a startup terá em um eventual exit. A ideia é que isso favoreça tanto o investidor, quanto o empreendedor.
“O V multiple nasceu como uma forma de ajudar a gente com as nossas conversas, ajudar os empreendedores e levar também o conceito para outras gestoras, de modo que tudo isso volte para o ecossistema”, afirma Vitor.
Crescimento tem peso dobrado
Mas, afinal, em que consiste o V multiple? A fórmula usada para determinar o múltiplo da empresa é a seguinte:
V = post-money valuation / gross profit / (1+YoY Growth*2)
Ou seja, o cálculo considera o valuation previsto após o investimento, dividido pelo lucro bruto, dividido pela velocidade de crescimento multiplicada por dois.
Vitor explica que o V multiple é uma variação da Rule of 40, métrica aplicada às empresas de software que considera duas variáveis: quantos porcento a empresa está crescendo, mais quanto tem de geração de caixa. Segundo a regra, o resultado deve ser igual ou superior a 40.
Por exemplo, se uma empresa cresce 60% ano a ano e queima 20% do caixa, tem 40 de diferença, e estaria dentro do benchmark.
Com o tempo, o mercado começou a adotar também a Rule of X, isto é, o conceito de que o crescimento da receita da empresa deve ter um peso duas vezes maior em relação à geração de caixa.
No caso do V multiple, não é considerada a geração de caixa, mas o valuation da empresa, além do lucro bruto e do crescimento, também com peso dobrado, como a Rule of X.
“O que a gente percebeu é que, no passado, nossos melhores investimentos vieram de empresas com V multiple mais baixo do que aquelas com V multiple mais elevado”, explica Vitor.
Para o investidor, na América Latina, os melhores investimentos vêm de startups com V multiple abaixo de 4.5x, enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, esse recorte é para múltiplos de 6.5x.
Há 16 anos no mercado, a Astella se especializou em empresas de tecnologia em estágio inicial, que desenvolvem soluções relevantes para setores-chave da economia, com foco principal em SaaS, marketplace e B2B. Atualmente, a gestora tem cinco fundos, que investem em 28 startups. A gestora possui cerca de R$ 1 bilhão sob gestão.
A casa fechou parceria recentemente com a plataforma de ativos globais HMC Capital para oferecer os investimentos em startups a investidores institucionais, como family offices, fundos de pensão, bancos e instituições financeiras de desenvolvimento.