Carlos Lopes, fundador da BluStone (no centro) e a equipe | Foto: Divulgação
Carlos Lopes, fundador da BluStone (no centro) e a equipe | Foto: Divulgação

Enquanto alguns setores já incorporam inteligência artificial aos seus negócios, outros mal começaram a abandonar planilhas e processos manuais. É o caso da logística — um mercado ainda analógico que a gestora BluStone identificou como oportunidade de investimento. A casa acaba de concluir a captação do seu segundo fundo, no valor de R$ 70 milhões, alcançando a marca de R$ 100 milhões sob gestão.

“Ao longo de anos acompanhando esse segmento, percebi que o mundo de logística era bem analógico, tudo era feito com papel e caneta, havia muita informalidade, o que gerava uma oportunidade enorme de trazer tecnologia. Ainda não havia um fundo de venture capital especializado nesse segmento, o que nos levou a lançar a BluStone em 2021″, conta Carlos Lopes, fundador e Managing Partner da BluStone.

Com o Fundo I, no valor de R$ 20 milhões, a ideia era trazer a expertise de Carlos no private equity, após sua passagem pela Patria, para os investimentos early-stage. “A estratégia era ser seletivo, disciplinado e com dedicação para apoiar os empreendedores”, afirma o investidor.

Enquanto muitos fundos early-stage avaliam centenas de startups por ano e investem em dezenas delas, a gestora adota um modelo mais concentrado: analisa cerca de mil empresas anualmente e seleciona apenas três a cinco para investir.

A tese vem trazendo bons resultados. Dos R$ 20 milhões disponíveis para o Fundo I, foram alocados R$ 10 milhões em cinco empresas. Todas captaram rodadas Série A e continuam sendo investidas da BluStone. O fundo tem o objetivo de sair por meio de venda para um estratégico ou rodadas mais avançadas, como séries C ou D.

Além disso, a casa aposta no conhecimento setorial como diferencial. A BluStone construiu uma rede de mais de 100 investidores e conselheiros estratégicos — entre eles executivos seniores de grandes corporações, sócios da McKinsey, diretores da Uber e fundadores de startups como Logcomex e Infleet. “Quando uma startup entra no fundo, ela já tem acesso a todos esses contatos. Isso ajuda demais nas apresentações e na abertura de portas”, diz Carlos.

Essa rede se mostrou fundamental para reduzir a taxa de mortalidade entre Seed e Série A. Das 11 empresas investidas pela BluStone até agora — somando os dois fundos —, dez captaram rodadas subsequentes, uma taxa bem acima da média do mercado.

Com o Fundo II fechado, a BluStone ampliou sua capacidade de liderar rodadas Seed, com cheques entre R$ 2,5 milhões e R$ 5 milhões. Para 2025, a expectativa é que quatro ou cinco empresas do portfólio atual façam rodadas Série B ou C. O fundo tem prazo de dez anos e deve investir em 15 a 20 empresas no total.

Performance acima da média

Os números do Fundo II também têm se mostrado promissores. As seis empresas do portfólio crescem, em média, 105% ao ano. Quase todas já realizaram rodadas Série A e algumas avançaram para a Série B, casos da MotoristasPX e da One Car Now, que expandiu operações do México para o Brasil e deve fazer uma Série C em 2025.

“Nosso retorno está muito acima do top decile global e da América Latina. Isso é baseado em rodadas subsequentes”, afirma Lopes. Ele destaca ainda a eficiência de capital das investidas: para cada dólar captado, as empresas do portfólio crescem quatro vezes — métrica que nos EUA raramente ultrapassa 1.

O desempenho atraiu investidores institucionais. O Fundo 2 é ancorado pelo Grupo Ultra, que viu na BluStone uma oportunidade de acesso ao ecossistema de inovação em logística. A parceria vai além do cheque: a gestora realiza reuniões mensais com o conglomerado para mapear dores operacionais e conectar startups do portfólio que possam resolvê-las. Além do grupo, o fundo conta com um investidor institucional internacional, family offices ligados ao setor de logística e pessoas físicas.

Mercado defasado

Para Carlos, a América Latina ainda tem muito valor a ser extraído no setor. “Muita gente pensa em eletrificação ou veículos autônomos quando fala de inovação em logística, mas o pessoal ainda está cotando frete em caderno. Tem muita coisa que é só digitalizar”, diz. Ele calcula que, para uma transportadora com margem de 4% a 5%, um ponto percentual de melhoria já representa ganho de 20%.

Outro gargalo é a fragmentação. Desde a criação do pedido até a expedição e entrega, os processos são desconectados. “Se consegue digitalizar, organizar os dados e integrar, já gera ganho imenso. Não precisa ser LLM para fazer diferença aqui”, afirma.

Além disso, há um equívoco sobre o perfil do setor. “Tem preconceito de que logística é asset heavy, mas é o contrário. Em termos de eficiência de caixa, nossas empresas têm métricas muito superiores às do mercado tradicional”, diz Lopes.