KPTL
Renato Ramalho, sócio e CEO da gestora KPTL (Foto: Gil Silva/Kyvo)

Depois de um 2025 de “posicionamento e crescimento” das startups investidas, a KPTL projeta 2026 como um ano marcado pelo avanço do desinvestimento – movimento que acompanha o amadurecimento do portfólio, mas também um cenário macro que pode começar a destravar liquidez. A gestora, que soma mais de 140 investimentos e 26 exits, afirma que entra no próximo ano com “agenda madura” para vender ativos, ainda que 2025 tenha entregado menos transações do que o esperado.

“Embora a gente quisesse fazer mais coisas em termos de volume de transações – o que não foi possível dado as condições de mercado -, não foi um ano ruim de procura pelos ativos”, afirma Renato Ramalho, sócio e CEO da KPTL, em encontro com jornalistas. “Os últimos anos foram marcados por uma redução de dinamismo econômico, com aumento das taxas de juros, menos M&A e menos fluxo de capital. Ainda assim, entramos em 2026 com uma agenda madura de desinvestimento.”

Para ele, há sinais suficientes para acreditar que 2026 tende a ser mais favorável. “Sou naturalmente otimista”, diz.

A avaliação do CEO é que o pano de fundo econômico para investimentos alternativos deve melhorar. A expectativa é que o Banco Central sinalize novos cortes de juros em 2026 –  mesmo que marginais – e que o governo amplie gastos por ser ano eleitoral. “Se o Banco Central der uma sinalizada de que deve começar a ajustar os juros, acho que isso já dá outro pano de fundo.”

A leitura da KPTL é que qualquer movimento na renda fixa, hoje ultraconcentrada, libera centenas de milhões para mercados como venture capital. “É pouco no bolo dos trilhões, mas para nós já ajuda em muita coisa”, diz Renato.

O executivo também enxerga 2027 como um ano com situação fiscal mais encaminhada, o que pode estimular empresas a anteciparem movimentos de compra já em 2026. “Dependendo das condições de mercado, algumas organizações podem antecipar suas pautas de desinvestimento e já ir às compras. Isso tudo contribui para criar dinamismo para nós e para as corporações.”

IPOs e M&As ensaiando retorno

O ambiente internacional mais aquecido deve respingar no Brasil, segundo o CEO, tanto pela liquidez global quanto pelo represamento de IPOs no país. “Estamos há três anos sem IPO tech no Brasil. Se o mercado voltar a falar em IPO, isso é importante para nós, porque antes de abrir capital, as empresas normalmente se preparam para M&A”, afirma Renato Ramalho.

A dinâmica costuma ser a mesma: companhias que planejam ir à bolsa aceleram aquisições para ganhar musculatura. “Elas falam: ‘estou indo para lá, mas vou comprar as empresas A, B, C para levar junto’”, explica o executivo.

Visão geral do portfólio

Os números internos reforçam a confiança da gestora. Entre 2024 e 2025, a fatia de empresas que faturam acima de R$ 50 milhões no portfólio subiu de 4% para 10%, enquanto a participação das startups de até R$ 10 milhões caiu de 61% para 51%. O movimento indica um conjunto de investidas mais maduras e com maior tração.

Somadas, as empresas do portfólio faturam R$ 1,1 bilhão – crescimento de 31% em relação aos R$ 890 milhões registrados no ano anterior. Segundo a KPTL, 2025 foi um ano forte de evolução para as investidas.

A gestora tem hoje mais de 50 investimentos em deep tech, que já representam mais de um terço do portfólio (cerca de 70 empresas ativas). Outro eixo relevante é o de biotechs: são 23 investidas desde o início da tese, das quais entre seis e sete seguem ativas.

Renato Ramalho reforça que o Brasil tende a manter protagonismo em setores nos quais tem vantagens estruturais. “A agenda climática, incluindo descarbonização e transformação energética, veio para ficar, e o Brasil é potência.” Para ele, mercados B2C e consumo digital não devem ganhar centralidade. “O Brasil não é óbvio nisso. Outros lugares fazem melhor, tanto para investir quanto para criar.”

A estratégia, afirma o CEO, é reforçar áreas nas quais o país “consegue fazer diferente”: deeptech, biotech, negócios B2B e verticais que dependem de base científica forte ou de capital humano altamente qualificado.

Os próximos passos da KPTL

A KPTL espera manter um ritmo estável de investimentos em 2026, embora menor do que nos ciclos de liquidez abundante. O foco do ano será o desinvestimento, impulsionado pelo amadurecimento do portfólio e por uma possível retomada do dinamismo em M&A.

“Entendendo que a macroeconomia não vai mudar tanto, mas que pode haver uma diminuição de juros no Brasil, o foco é desinvestimento e manter um ritmo ok de novos aportes”, afirma Renato. Segundo ele, o portfólio “continua amadurecendo”, o que tende a facilitar as vendas de ativos.

A gestora também deve trazer novidades ligadas à agenda de desinvestimentos – especialmente no avanço de potenciais exits – mas Renato diz que os detalhes “ainda não podem ser antecipados”.

O ano de 2026 marca também uma mudança na liderança da gestora. A KPTL acaba de anunciar a chegada de Vasco Crivelli Visconti como novo sócio. Com mais de 25 anos de experiência entre startups e grandes empresas, incluindo uma passagem recente pela Meta, o executivo empreendeu nos anos 1990, depois atuou na Lokau.com na Espanha e participou de transformações em setores como finanças, agro, mídia e varejo, passando por BrandsClub, Shoptime e B2W. Na Meta, liderou a estratégia de negócios e monetização das plataformas de mensageria, contribuindo para consolidar o WhatsApp como pilar da transformação digital global.