Dealflow

Crescera quer founders com "cabeça de investidor"

Gestora acaba de concluir a captação de R$ 300 milhões para o seu quarto fundo, com foco em estágios Seed e Série A

Fernando Silva, sócio da Crescera Capital e head de venture capital da gestora. Foto: Divulgação
Fernando Silva, sócio da Crescera Capital e head de venture capital da gestora. Foto: Divulgação

A relação entre fundadores e investidores é complexa, e exige que os dois lados busquem se entender. Quando isso não acontece, ambos podem sair perdendo. Prestes a lançar seu quarto fundo de venture capital, com foco em early-stage, a Crescera quer evitar esse tipo de problema.

“Queremos empreendedores com cabeça de investidor, não de dono”, diz Fernando Silva, sócio da Crescera Capital e head de venture capital da gestora.

A casa acabou de concluir uma captação de R$ 300 milhões para o seu novo fundo de VC, com capital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outras instituições de fomento. Agora, o objetivo é abrir captação para o setor privado, mirando um total de R$ 370 milhões para o Fundo 4.

O veículo, uma parceria de cogestão com a Triaxis Capital, será uma continuação do Fundo 2, que também era focado em early-stage e gerou bons resultados para a Crescera. Foram dois grandes exits: a Bling e a Vindi, ambas vendidas para a Locaweb. A primeira, de ERP, foi comprada por R$ 524,3 milhões, enquanto a Vindi, de SaaS e gestão de pagamentos, foi adquirida por R$ 180 milhões, segundo notícias da época.

Os fundos 1 e 3, focados em growth, também devem ganhar uma continuação em breve. A ideia, segundo Fernando, é começar a captar no final do ano que vem para o Fundo 5, que será focado em estágios mais avançados.

Por enquanto, porém, as atenções da gestora estão voltadas para o Fundo 4, que vai investir em 25 empresas no período de quatro anos. Os cheques vão variar, em média, de R$ 3 milhões a R$ 20 milhões por startup.

Com o objetivo de repetir o sucesso do Fundo 2, a preferência será por startups de SaaS e B2B, em estágios Seed e Série A. “É importante que os fundadores tenham um conhecimento muito grande do setor e estejam com corações e mentes no negócio. Não gostamos de empreendedores part-time”, afirma o head de venture capital da Crescera.

Alinhamento

Segundo ele, é preciso que os founders estejam alinhados com os objetivos da gestora.

“O investimento de VC é um casamento que tem hora para começar e acabar. O investidor não sai porque não gosta da empresa, mas porque precisa reciclar o capital. Gosto do empreendedor que entende essa limitação e vai conseguir me ajudar a sair. O ideal é que, na hora da saída, a empresa saia como um bloco inteiro, inclusive os founders. Mas se o empreendedor não quiser sair, preciso que ele me ajude a encontrar alguém para comprar a minha participação, por exemplo”, explica.

Além disso, a Crescera busca empresas que estejam alinhadas às práticas ESG (sigla em inglês para Meio Ambiente, Social e Governança). Fernando destaca que não se trata de um fundo de impacto, mas tem uma “pegada ESG”. Essa tem sido uma exigência dos investidores e, de acordo com o executivo, “traz benefícios claros de retorno para a empresa”.

“ESG não é mais um palavrão. Até mesmo para atrair talentos, ter um selo de boas práticas é muito levado em conta. Ninguém quer trabalhar numa empresa que destrói a natureza, que tem práticas ruins. Nós ajudamos a implementar e mensurar métricas aderentes a essas boas práticas”, diz.

Ano desafiador

Apesar de ter concluído uma captação, o sócio da Crescera afirma que o ano tem sido desafiador, tanto para o venture capital, quanto para o private equity. Para ele, a crise é sistêmica e muito influenciada pelas taxas de juros ainda altas tanto nos Estados Unidos, quanto no Brasil.

Do lado dos investidores, a preferência pela renda fixa aumentou, reduzindo a disponibilidade de capital para o venture, assim como para o mercado de ações. Isso afeta os IPOs e, consequentemente, reduz as saídas para os investidores.

Para as empresas, as taxas de juros altas encarecem o crédito, elevando o custo das operações e reduzindo a disponibilidade de caixa para aquisições, por exemplo, ou para investir em inovação de uma forma geral.

“A situação está um pouco complicada, entendo que faz parte dos ciclos do setor. Faço VC desde 1998, vivi bolha da internet, a crise do subprime. O mercado tem altos e baixos. Vivemos uma época maravilhosa em 2021 e agora estamos vendo o outro lado da moeda. Mas faz parte, é do jogo, e em cada ciclo a gente aprende a não cometer erros que cometeu no passado”, avalia Fernando, que aposta em uma retomada no segundo semestre do ano que vem.