Há quem diga que a biotecnologia é a nova inteligência artificial. Com potencial para revolucionar desde o agronegócio até as indústrias de saúde e farmacêutica, o setor promete despontar nos próximos anos – especialmente no Brasil, que abriga a maior biodiversidade do planeta. De olho nesse mercado, o fundo de venture capital argentino GRIDX tem trabalhado para construir startups de biotech por aqui, unindo cientistas a empreendedores com perfil de negócios.
Criado em 2017, o GRIDX chegou ao Brasil em 2021, com escritório no Cubo, em São Paulo. A empresa de VC atua no modelo de company building, em que participa do processo de criação da empresa desde a formação da equipe de fundadores. Com dois fundos, o GRIDX se prepara para lançar o terceiro fundo em 2026, e quer atrair investidores brasileiros – alô, family offices!
Atualmente, o fundo 2 da casa tem quatro empresas brasileiras investidas: Bsafe (biopesticidas), UpDairy (proteínas alternativas), Qnity (eletroquímica quântica) e APEXzymes (produção de enzimas). Segundo Francisco Salvatelli, partner do GRIDX e responsável pela operação do fundo no Brasil, o objetivo é anunciar mais dois investimentos no país até o final do ano.
O processo de seleção e formação das empresas tem três etapas: Explore, Ignite e Grow. O primeiro consiste na apresentação das equipes científicas, além de triagem e seleção dos empreendedores. Na segunda parte, esses participantes trabalham juntos em uma série de projetos e atividades até que aconteça o match entre os dois lados. Em seguida, há a formação da empresa, com validação do produto. Por fim, na última fase, a startup é então incorporada ao portfólio da GRIDX e recebe o primeiro cheque, de US$ 250 mil.
“Nós fazemos follow-ons de até US$ 1,5 milhão, mas não lideramos as rodadas. A partir do recebimento do primeiro cheque, entendemos que quem tem que ter o protagonismo são os founders. Parte dessa maturidade que empresa tem que ter é de buscar fundos e convencer outros investidores de que aquilo está fazendo sentido”, explica Francisco.
Para encontrar essas equipes científicas, o GRIDX tem apostado na aproximação com universidades e centros de pesquisa. A Qnity, por exemplo, surgiu de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), enquanto a APEXzymes é incubada da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo o executivo, a ideia é começar a buscar parcerias também em outras regiões do país.
“A gente investe para que a pesquisa saia do laboratório e se transforme em uma solução que ajude a resolver um desafio global. Percebemos que as universidades brasileiras estão se abrindo cada vez mais para isso, e existe um potencial enorme, tanto no Brasil, quanto na América Latina. O país tem biodiversidade, tem cientistas super capacitados, que colaboram com o mundo inteiro, são criativos. O contexto é muito favorável”, afirma.
Um dos requisitos para que a startup seja selecionada para receber investimentos do GRIDX é que a solução desenvolvida pelo time seja global. Ou seja, que possa ser aplicada a problemas no mundo todo, de forma mais abrangente, e não seja focada em um problema específico do Brasil.
O motivo, segundo Francisco, é que a captação de recursos para deep tech – e biotecnologia, mais especificamente – no Brasil ainda é uma dificuldade dos fundadores. Depois que as startups recebem o primeiro cheque do GRIDX, o mais comum é que os próximos investimentos venham de fundos internacionais, dos Estados Unidos ou Europa, por exemplo.
“Nós exigimos que a solução seja global não porque é mais glamuroso, mas porque essas startups vão competir com empresas do mundo todo por investimentos. Quando a gente senta com um fundo lá fora, é mais difícil explicar um problema local, por maior que seja o impacto. Resolver um problema global aumenta as chances de conseguir recursos”, explica o investidor.