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Ser imigrante em um país estrangeiro é difícil. Ser imigrante, criar uma startup e tentar conseguir investidores em um país estrangeiro, é quase impossível. Foi para facilitar esse processo que a aceleradora canadense Global Startups decidiu lançar o GSA Ventures, um fundo que investe especificamente em startups de minorias e imigrantes no Canadá. O país oferece um programa de vistos para startups.

Residente no país há 15 anos, a colombiana Miryam Lazarte, general partner da GSA Ventures, participou de diversos painéis na edição deste ano do Web Summit Rio, e conta que o Brasil é um país estratégico para o grupo de investidores. Em entrevista exclusiva ao Startups, ela aponta que muitas das empresas apoiadas pela iniciativa são fundadas por imigrantes brasileiros.

“Nós percebemos que era necessário haver alguém que desse esse primeiro cheque para as startups de imigrantes recém-chegados ao Canadá. A comunidade de investidores no país é muito avessa a riscos. Especialmente quando eles não conhecem bem o país de origem dos fundadores, não sabem como funciona a economia de lá, se existe estabilidade política. Mas depois que nós entramos no jogo, sabemos que outros entrarão também”, afirma Miryam.

Resiliência latina

A investidora também aponta que a comunicação é um obstáculo para os imigrantes na hora de fazer pitchs e apresentar suas startups aos fundos. Isso ocorre tanto em razão das dificuldades com o idioma, o que pode fazer com que esses fundadores se sintam menos confiantes, quanto por questões culturais. Segundo ela, os latinos tendem a evitar abordagens mais diretas, enquanto norte-americanos preferem que os assuntos sejam tratados de forma mais objetiva. Parte da missão do grupo envolve orientar esses fundadores com relação a esses detalhes.

“O nosso conselho é que as pessoas entendam que sotaque não importa. Os investidores se importam com o que você está comunicando. E imigrantes tendem a dar voltas, em vez de ir direto ao ponto, o que pode ser considerado grosseiro nas nossas comunidades. Nós precisamos dar contexto para tudo, e demoramos muito para chegar até a parte importante”, ri.

Myriam acrescenta que muitas fundadoras enfrentam dificuldades em dobro, por serem mulheres e imigrantes. “A maior parte do problema não é que os investidores as percebem como pessoas menos capazes. É que elas percebem que são vistas dessa forma. Nossa conclusão é que elas precisam trabalhar sua autoestima na hora das apresentações. Sempre haverá um viés no mercado, mas o importante é como você lida com esse viés”, aconselha.

Para a general partner da GSA Ventures, uma das qualidades dos fundadores latino-americanos é a resiliência diante das dificuldades. Segundo ela, esse é um dos pontos em que as startups de imigrantes saem na frente em relação às empresas locais canadenses. “A crise é uma condição na América Latina. Nós sempre passamos por crise após crise, e isso faz com que as nossas companhias se fortaleçam. Faz com que as empresas sejam capazes de pivotar e encontrar novas formas de fazer as coisas”, diz.

A GSA Ventures tem colaborado com aceleradoras e centros de inovação no Brasil, e está buscando por oportunidades tanto para co-investir, quanto para ajudar na expansão de startups baseadas no Canadá para o mercado brasileiro. O grupo também planeja realizar intercâmbios e treinamentos entre os dois países.

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