Como diz o ditado, a necessidade é a mãe da invenção. Diante da escassez de liquidez no ecossistema de inovação, cada vez mais investidores de startups têm desenvolvido novas maneiras de captar recursos. É o caso da GVAngels, comunidade de investidores-anjo que lançou no início deste ano uma nova modalidade de investimento tokenizado, em parceria com o Mercado Bitcoin (MB).
A plataforma funciona como uma espécie de bolsa de valores privada, em que as participações nas empresas são transformadas em tokens, que podem ser negociados entre os membros da GVAngels. Atualmente, a comunidade conta com cerca de 300 anjos.
Apesar de a tokenização ter começado a ser implementada neste ano, o mercado secundário só será colocado em prática em meados de 2026, conta Lorenzo Barbati, diretor executivo do GVAngels. “Já fizemos bastante investimento por meio desse novo modelo, mas o mercado secundário só será implementado após de 18 meses, que é para deixar os investimentos maturarem”, afirma.
O clube de investimentos tokenizado já realizou aportes em sete startups e dois fundos. Essa, inclusive, é uma possibilidade trazida pelo novo modelo. Chamado de Token-I, esse veículo investe como pessoa jurídica (PJ), ao contrário do investimento-anjo convencional, em que os aportes são feitos por um grupo de pessoas físicas.
“O Token-I possui governança centralizada, com tomada de decisão descentralizada. Isso nos permite, por exemplo, entrar em fundos de venture capital como LPs”, aponta Lorenzo.
A estrutura jurídica foi validada com o escritório Machado Nunes, e uma legal opinion do Machado Meyer Advogados.
A expectativa é que, até o final deste ano, o GVA Token-I tenha captado R$ 5 milhões. Os cheques são de R$ 200 mil a R$ 500 mil por startup. Para os investidores, o ticket único é de R$ 50 mil, o que equivale a um token, podendo chegar a R$ 200 mil – ou seja, quatro tokens por pessoa.
Na prática, o token permite que o investidor-anjo do ecossistema GVAngels invista em um portfólio diversificado de startups. Com o mercado secundário, os membros poderão trocar e vender participações entre eles, sem intermediários e processos burocráticos.
Segundo Lorenzo, os tokens são precificados ao longo da jornada, e refletem o valor atualizado dos ativos, acompanhando a mudança de valuation da startup a cada nova rodada.
“Os anjos acabam entrando no começo da jornada e não necessariamente vão acompanhar o founder até o fim da jornada. É como um treinador de juvenil”, brinca Lorenzo, que complementa: “Percebemos que havia uma demanda por mais liquidez e formas de diversificar a carteira sem ter que passar por processos complexos e burocráticos”.
O MB entrou como parceiro no desenvolvimento da infraestrutura em blockchain que permite que essas negociações aconteçam no modelo tokenizado. As trocas e vendas de participações vão se dar por meio da própria plataforma do MB.