Na terra do SaaS, quem investe em hardware é rei – ou rainha. Nascida em 2014, a gestora Indicator Capital apostou em Internet das Coisas (IoT) e tecnologias inteligentes e conectadas quando o mercado brasileiro de venture capital ainda se voltava majoritariamente para softwares e fintechs. Agora, com as deep techs ganhando força por aqui, a gestora colhe os frutos de ter sido uma das primeiras a investir nesse segmento.
“Em 2016, quando lançamos o Fundo 1, a gente falava que o SaaS ia ficar inteligente. A gente não falava de IA, mas de data intelligence. IA era um dos ramos, assim como machine learning. Agora, está fácil falar de IA. A demanda por dados em tempo real passa por uma necessidade de malha tecnológica. É nessa malha que a gente investe. Se, há alguns anos, os investidores olhavam com algum preconceito para hardware, agora começam a ver que é receita recorrente”, explica Derek Bittar, co-fundador da gestora.
Com US$ 70 milhões sob gestão, a Indicator está no seu segundo fundo, que conta com capital âncora do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da veterana global Qualcomm Ventures, que investiram, juntos, R$ 85 milhões.
O fundo foi lançado em 2021 e já captou, ao todo, R$ 333 milhões. Entre os investidores, estão empresas como Banco do Brasil, Multilaser, Motorola, Lenovo e Telefônica, além de agências de fomento como a AgeRio e o Sebrae-SP.
Do total de 13 investidas, cinco entraram para o portfólio do fundo em 2024: Cogtive, Neowrk, umgrauemeio, Infleet e Multiledgers. Até o final do ano, mais uma deve ser anunciada.
Para 2025, a Indicator pretende fazer mais sete investimentos. A busca é por rodadas Série A e cheques de, em média, US$ 2 milhões. “O menor cheque foi de US$ 500 mil e o maior foi de US$ 5 milhões”, conta Derek, que diz que a ênfase é “tecnológica, não setorial”.
O investimento do BNDES no fundo faz parte do Plano Nacional de IoT, e tem o objetivo de acelerar tecnologias de setores estratégicos para o país, como Agricultura, Saúde, Indústria 4.0, Cidades Inteligentes e Mobilidade.
“Reunimos diversos perfis de investidores, entre eles, agências de fomento brasileiras. Então um dos critérios para a escolha das empresas é que a tecnologia esteja sendo desenvolvida no Brasil. Mas a governança pode ser internacional, inclusive é interessante que a empresa possa ser expandida internacionalmente”, afirma Derek.
Presença no Vale
A Indicator Capital foi fundada pelos irmãos Derek e Thomas Bittar com Fabio Iunis de Paula, ex-diretor de investimentos na Intel Capital. Com backgrounds complementares, cada um possui o seu “chapéu” na gestora.
Derek, que atuava na mesa de operação de gestoras de ações, faz a “digestão” do dealflow, enquanto Fabio é responsável pelo desenvolvimento e growth das empresas. Já Thomas, que construiu sua carreira em fusões e aquisições (M&A), oferece suporte às investidas no momento do exit.
A gestora possui operações em São Paulo e no Vale do Silício, onde Fabio fica baseado. Na capital paulista, o escritório também abriga um espaço de trabalho para seis das empresas investidas, além de um espaço para eventos.
Os sócios criaram uma metodologia de escolha das startups que, segundo Derek, “olha puramente a tecnologia”, sem se voltar para o fundador, o que ajuda a evitar os vieses inconscientes. O objetivo é ter um portfólio mais diversificado em termos de gênero, cor e regiões do país.
“Nosso processo de triagem é muito pragmático e logo no início conseguimos retirar os vieses. Como resultado, conseguimos uma diversidade geográfica, com portfólio que abrange todas as regiões do país, com exceção da região Norte. Temos duas founders mulheres e três founders negros”, afirma o co-fundador da Indicator.