Os últimos dois anos não foram fáceis para o ecossistema de startups. Mas, como diz o ditado, mar calmo nunca fez bom marinheiro. E os empreendedores que conseguiram chegar até aqui estão, sem dúvidas, mais maduros e preparados do que há alguns anos. Para Santiago Fossatti, sócio da Kaszek e responsável pelo escritório da gestora no Brasil, este é o “melhor momento em 25 anos” para investir em negócios de tecnologia na América Latina, e isso se deve, em parte, à qualidade dos fundadores, que estão mais experientes.
Em entrevista exclusiva ao Startups, Santiago conta que a Kaszek já fez cerca de 10 investimentos nos últimos 12 meses, e que a perspectiva é fazer novos aportes até o final do ano. No ano passado, a gestora – que é uma das principais firmas de venture capital da América Latina – concluiu a captação de cerca de US$ 1 bilhão, divididos em dois fundos: early-stage (US$ 540 mil) e late-stage (US$ 450 mil).
O portfólio de investidas da Kaszek inclui empresas como Nubank, QuintoAndar, Guiabolso e Creditas, entre outras. Segundo o executivo, a ideia é continuar investindo em startups que tenham “ideias brilhantes, com execução brilhante”.
“Em linhas gerais, estamos com o nível de atividade alto, tanto na perspectiva de investir em novas companhias, quanto em rodadas de follow-on. Temos visto uma nova geração muito boa de founders, alguns que já tinham empreendido antes, de forma bem sucedida, ou que tinham sido C-Levels, e já possuem conhecimento no mercado e no setor. O ecossistema como um todo está mais amadurecido na América Latina e há cada vez mais founders com experiência criando negócios relevantes”, avalia Santiago.
Para o early-stage, os cheques variam, em média, de R$ 5 milhões a R$ 50 milhões, com possibilidade de follow-on. Já para o late-stage, os valores podem ser acima de R$ 100 milhões.
Brasil ainda é o principal mercado
A procura é por startups em toda a América Latina, embora a gestora tenha escritórios em Bogotá, Cidade do México, Montevidéu e São Paulo. Segundo o executivo, o Brasil continua sendo um dos principais mercados para a Kaszek, mas nos últimos anos perdeu espaço para ecossistemas de outros países da região.
“O Brasil é o principal mercado da região. Tem a maior população, maior PIB. Tem o Pix, que está sendo estudado a nível mundial e possibilita novas experiências, novos entrantes no mercado. Mas, no início, 80% dos nossos investimentos eram em empresas brasileiras. Hoje, o país continua sendo praticamente a metade dos investimentos, enquanto outros mercados como México, Colômbia e Chile também estão chegando e produzindo uma leva de empreendedores muito ambiciosos”, afirma.
Agnóstica com relação aos setores das suas investidas, a Kaszek busca empresas de tecnologia em geral, sempre com foco na América Latina. Entre os setores que já receberam investimento da gestora estão, por exemplo, serviços financeiros, educação, saúde, e-commerce, marketplaces, software corporativo e SaaS.
“Hoje tem uma onda de companhias criando infraestrutura para o mercado financeiro como a Kanastra, que a gente investiu recentemente, para administração de FIDCs. Também temos visto muitos empreendedores trabalhando com greentechs, em soluções para coleta de lixo e captura de carbono, por exemplo”, conta Santiago.
Para o investidor, a inteligência artificial tem propiciado o surgimento de novas empresas no mercado, com potencial de liderarem transformações em seus setores, como foi o caso de Nubank e QuintoAndar. Ele acredita que a tecnologia passará a fazer parte de todos os negócios, como ocorreu com a internet, e afirma que a Kaszek tem feito investimentos em empresas que “já nascem entendendo essa plataforma”.
“As revoluções anteriores sempre tiveram novos entrantes e companhias que já existiam e adaptam seus modelos de negócio a esses frameworks. É o que temos visto com Apple, Microsoft e Nvidia, que nasceram junto com a internet e hoje estão liderando. Acreditamos que isso vai acontecer por aqui, que companhias vão aproveitar muito bem essa nova onda, e que vão surgir novas entrantes, como o Nubank e o QuintoAndar foram. Nós lideramos o Seed do Nubank quando ainda era só um Power Point. Estamos animados para investir em empresas que já nascem no contexto da inteligência artificial”, diz.