
São tempos difíceis para o venture capital, mas isso não impediu a Kiara Capital de finalizar seu primeiro closing, para o fundo de estreia da casa. Com tese em fintechs B2B, o veículo começou a investir com capital próprio e hoje possui R$ 75 milhões sob gestão e cinco investidas. A meta agora é chegar a R$ 170 milhões – com um limite de até R$ 230 milhões para investir em 15 a 20 empresas, e cheques a partir de R$ 1,5 milhão.
Uma das particularidades do Kiara Capital Fund I é que os sócios fundadores seguirão sendo os maiores cotistas do fundo, com compromisso de nunca deterem menos que 10% do capital total. A regra funciona como um fator de atração de investidores, explica o sócio Michael Esrubilsky, em entrevista ao Startups.
Segundo ele, a maior parte dos LPs (Limited Partners) são family offices ou multi-family offices, além de investidores individuais, como founders e indivíduos ultra high net worth. “A gente não poderia captar com essas pessoas sem mostrar que a gente está junto e tem confiança no retorno”, afirma.
Com sede em Miami, a Kiara Capital tem presença nos Estados Unidos e no Brasil. O portfólio atual inclui startups no Brasil, México, Colômbia e EUA, totalizando cerca de R$ 12 milhões já investidos.
“A gente capta globalmente, mas com foco nos EUA e Brasil, onde temos relacionamentos. O mercado não está fácil. Além do cenário macro de juros altos, na categoria específica de VC tem muita gente investida aguardando momentos de liquidez. Como o mercado te estado carente de IPOs e saídas, os investidores estão tentando digerir as safras anteriores para focar nas próximas”, aponta Michael.
A criação do fundo foi precedida por uma fase de validação prática da tese. De acordo com Michael, a Kiara Capital nasceu da vontade de aplicar a lógica de uma startup à construção de um fundo especializado. “Passei a vida sendo empreendedor, e quis aplicar a mesma metodologia de prova de conceito”, afirma.
A equipe começou investindo com recursos próprios, analisando se havia, de fato, um ecossistema maduro o suficiente para sustentar um fundo focado exclusivamente em fintechs B2B – algo comum nos Estados Unidos, mas ainda pouco explorado na América Latina.
Desde então, a gestora analisou aproximadamente 160 startups e mantém um processo seletivo altamente rigoroso. “O índice de conversão é baixo. Olhamos de 15 a 20 oportunidades por mês, mas só investimos quando o alinhamento entre time, tese, timing, estratégia e termos faz sentido”, diz Michael. Em 18 meses, foram realizados cinco investimentos, o que reforça a filosofia da casa de se concentrar em menos empresas para oferecer apoio mais próximo e qualificado aos empreendedores.
A tese de investir em fintechs B2B vem sendo moldada pela evolução tecnológica e regulatória dos mercados em que a Kiara atua, além da própria trajetória dos sócios. Com mais de 25 anos de experiência em fintechs, Michael tem um histórico de quatro exits e 14 investimentos com retorno médio de 45% ao ano em dólar. Já Daniel traz mais de 15 anos de experiência em private equity, venture capital e inovação em mercados emergentes, além de ter atuado como conselheiro em empresas de alto crescimento nos setores de saúde, tecnologia e serviços financeiros.
Soluções cross-border, stablecoins e pagamentos em tempo real estão entre os temas acompanhados de perto pela gestora. O valor dos cheques depende do estágio de maturidade da empresa.
Para Michael, o potencial de internacionalização é interessante, mas não se aplica a todas as teses, apesar de o fundo atuar de forma global. “Cross boarder é a tese mais óbvia para internacionalizar, mas quando tem algo extremamente regulado e adaptado para aquele país, pode não fazer sentido”, aponta.