Uma das atratividades dos fundos de corporate venture capital (CVC) é a possibilidade de integração da startup com os negócios da empresa investidora. No caso da L4 Venture Builder, a corporação por trás do fundo é ninguém menos que a B3, a bolsa de valores brasileira. Com um ano e meio desde o seu lançamento, o fundo já investiu 45% dos R$ 600 milhões de capital comprometido e planeja novos investimentos ainda para este ano.
Apesar de ser muitas vezes enquadrado na categoria de CVCs – o fundo foi, inclusive, citado pela LAVCA como um dos CVCs mais ativos da América Latina –, o L4 é, na verdade, um fundo independente com único cotista.
Em entrevista exclusiva ao Startups, os co-fundadores Pedro Meduna e Tiago Wigman afirmam que esse tipo de arranjo permite que o fundo ofereça às empresas investidas todas as vantagens de estarem conectadas a uma corporação como a B3, sem a obrigação de ter, necessariamente, uma sinergia ou papel estratégico para os negócios da companhia. Apesar disso, a busca é por empresas que possam ser adjacentes ao negócio da B3.
“O que a gente busca é valorizar as empresas onde a gente investe. Em geral, as corporações tendem a tratar o CVC como uma área, enquanto no nosso caso é mais parecido com um fundo de venture capital, no sentido de que temos uma visão de retorno financeiro e de ciclo, com um período de investimento de cinco anos”, explica Tiago.
A L4 já realizou 11 investimentos diretos em startups brasileiras e de outros países, como Israel, Reino Unido e Suécia. Para este ano, a ideia é realizar mais dois a quatro aportes. Além disso, o fundo também investe em dois fundos estrangeiros, o Plug and Play (EUA) e o Shapers (Europa), focados em early-stage.
“O fato de a B3 ser uma empresa muito versátil e diversificada, com negócios nas áreas de dados, softwares financeiros, tecnologia, registros para imóveis e automóveis, entre outros, permite que a gente invista em setores muito diversos. Temos investidas em áreas desde software de concessionária de veículos, até cibersegurança, calculadora para fundos passivos e IA para relatório de researching”, diz Pedro.
Criada para atuar como venture builder, a L4 pode tanto construir teses do zero, quanto participar de rodadas, seja liderando ou como follower, no Brasil e no exterior. Segundo Pedro, a tese do venture building, embora tenha muito potencial, também consome muito tempo, o que não permitiria que o fundo atuasse apenas dessa forma.
Com cheques entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões, em média, o fundo tem preferência por startups um pouco mais maduras, que estejam nas séries A e B. No entanto, há flexibilidade. “Já fizemos cheques de R$ 5 milhões e já analisamos oportunidades maiores. Também fazemos growth, com série C, e podemos fazer seed. O importante é que tenha um modelo de negócio provado e esteja escalando”, afirma Pedro.
Entre as empresas investidas estão a sueca Vermiculus, que desenvolve alta tecnologia para bolsas de valores, câmaras de compensação e liquidação e centrais depositárias. O time fundador da empresa já tinha relação de mais de dez anos com a B3, o que facilitou na etapa de due diligence estratégica do investimento. Atualmente a Vermiculus está desenvolvendo a nova central depositária da B3.
Outro exemplo é a Data Rudder, startup de Florianópolis fundada para atacar riscos de fraude em soluções Pix por meio de inteligência artificial e machine learning. Atualmente, a B3 e a Neoway (adquirida pela B3 em 2021) possuem produtos desenvolvidos em parceria com a startup.
“O momento atual é desafiador, com o mercado mais devagar, mas isso nos dá mais capacidade para analisar os investimentos com calma e escolher melhor. Estamos tentando cobrir diferentes verticais, olhando com cuidado para áreas como agro e seguros, onde ainda não temos investimentos”, conta Tiago.