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EXCLUSIVO: Nova gestora de Laura Constantini terá foco em family offices

Nido nasce para ajudar famílias a criarem suas próprias carteiras de investimento em startups, com atuação mais próxima dos fundadores

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Laura Constantini, fundadora da Nido | Foto: Divulgação
Laura Constantini, fundadora da Nido | Foto: Divulgação

Laura Constantini está de volta ao jogo. Um ano e meio após sua saída da Astella – gestora que fundou em 2008 ao lado de Edson Rigonatti –, a investidora revelou com exclusividade ao Startups os detalhes de sua nova empreitada: a Nido. Com nome que remete a “ninho” em italiano, a nova gestora de venture capital terá uma abordagem distinta, voltada especificamente para os family offices.

A decisão foi fruto de muita reflexão, planejamento e pesquisa de mercado, conta Laura, que depois de sua saída da Astella passou a repensar o momento vivido pelo venture capital e a forma como esse mercado tem sido construído no Brasil. De um lado, o entusiasmo dos anos de juros baixos deu espaço a um cenário mais cauteloso, com ajustes nos valuations e uma nova percepção de risco.

Além disso, Laura percebeu que havia um problema na forma como o mercado brasileiro de VC lida com os investidores. Enquanto nos Estados Unidos a participação de investidores institucionais é maior, por aqui, o mercado tem sido impulsionado majoritariamente por famílias e investidores individuais, que possuem expectativas e perfis bastante distintos dos LPs (limited partners) norte-americanos.

Em uma série de conversas com os family offices brasileiros, Laura fez o que chama de um “customer discovery” sobre o que levou muitas famílias a se afastarem do VC. O diagnóstico foi claro: frustração. Segundo ela, a maior parte dos investidores não buscava apenas retorno financeiro, mas proximidade com a inovação, com empreendedores, e até com temas ligados ao legado familiar e às próximas gerações. Em vez disso, encontraram distância, pouca visibilidade sobre o portfólio e dificuldade de entender o valor real do que haviam investido.

“As famílias olham para trás e percebem que não só não tiveram a experiência que gostariam, como não têm condições de avaliar o que fizeram, o que tem no portfólio, quanto vale. O que era para ter prazer e aprendizado se tornou uma falta de entendimento. Isso por si só fez com que muitas famílias enxugassem o investimento em venture capital, principalmente porque não existe a possibilidade de elas estarem próximas do ativo como gostariam”, explica Laura.

Surgiu assim a ideia de criar uma gestora que invertesse a lógica do venture capital. Em vez de ter uma tese de investimentos focada em segmentos específicos de empresas e buscar atrair o empreendedor, a Nido parte do que as famílias querem e então busca empreendedores que mais se adequem a esse perfil.

Com foco em governança, construção de relacionamento e tradução acessível da lógica do ecossistema de startups, a Nido propõe um programa recorrente que une experiência, alocação de capital e proximidade com os empreendedores.

Diferentemente dos fundos tradicionais, a Nido não opera com um veículo único, nem em modelo de Fundo de Investimento em Participações (FIP). Cada família escolhe os ativos nos quais quer investir e monta sua própria carteira, com dois a três investimentos por ano por família.

Com um olhar voltado para startups em estágio growth, a Nido também quer se beneficiar da flexibilidade de entrar em rodadas secundárias e montar estruturas sob medida para as necessidades de cada família. “O growth é mais palatável para as famílias porque já tem algum resultado, já dá para acompanhar a performance. Além disso, o early stage está bem servido no Brasil, enquanto o growth ainda tem espaço, e é onde as famílias podem realmente contribuir, têm proximidade com setores específicos da economia, entendem a dinâmica”, avalia Laura.

Lançada recentemente, a Nido já atende a três famílias – duas do setor imobiliário e uma do financeiro. O processo de construção de confiança tem sido gradual e baseado em relacionamento, escuta ativa e transparência, conta a investidora.

“Existe uma questão de construção de relacionamento para a família não achar que está caindo no mesmo erro que cometeu no passado. Normalmente, as famílias não têm pressa. Quanto mais a gente consegue estar próximo do empreendedor, mais vai fazendo sentido”, explica.

Com um olhar atento ao ecossistema, Laura também tem estabelecido parcerias com gestores de fundos e de patrimônio. Essa colaboração amplia o acesso a boas oportunidades e fortalece a proposta de uma gestora que entende que investir em venture capital vai além da tese setorial, mas envolve contexto e conexões.

“Da Astella, o que eu trouxe comigo é essa tese de investimento em ecossistema. Isso está imbuído na minha forma de olhar as coisas e operar. É uma lente que está aqui e uma tese que continua válida. Trago da minha experiência um network que goste dessas trocas”, diz.