Em relacionamentos, é comum prestar atenção a alguns sinais de alerta, as chamadas red flags – ou bandeiras vermelhas, em português. No ecossistema de startups, não é muito diferente. Na hora de decidir entre investir ou não em uma empresa, os fundos de venture capital também ficam atentos a indícios de que algo pode dar errado no futuro.
“Sinais de alerta incluem falta de experiência prévia dos fundadores no mercado em que atuam, compreensão insuficiente do mercado potencial e falta de sofisticação na apresentação e no modelo de negócios”, explica Carlos Simonsen, managing partner da Upload Ventures, em entrevista ao Startups. “A qualidade técnica e a capacidade de execução do time de fundadores são inegociáveis. Sem isso, mesmo uma ideia promissora pode falhar na implementação”, acrescenta.
Algumas red flags podem surgir apenas no momento da due diligence. Ou seja, quando o fundo olha mais de perto para a real situação da startup. Sandro Cortezia, fundador e CEO da Ventiur, destaca que a transparência dos fundadores sobre as contas da empresa, situação tributária, entre outros pontos, é fundamental.
“Se a gente identifica que o empreendedor faltou com a verdade, mascarou alguma informação, é no go, direto. Não dá para esconder debaixo do tapete alguma situação que a gente pode acabar descobrindo lá na frente. Se o empreendedor traz a situação aberta, é mais fácil encontrar um caminho”, afirma.
Leonardo Cruz, managing parter na Mergus Ventures, acrescenta que um empreendedor transparente gera confiança por parte dos investidores, mesmo que a empresa tenha problemas. Entre os sinais de alerta, ele destaca a falta de vínculo dos fundadores com o problema que eles se propõe a resolver.
“Às vezes o fundador ele encontra o problema, mas não se envolve tanto quanto quem passou por aquela situação. Por exemplo, tivemos um caso de um fundador que viu um problema em um setor específico, mas o seu histórico era em outros setores. Ele tinha experiência, excelente formação, mas não tinha vínculo com o setor em questão. Isso faz com que ele tenha menos resiliência do que alguém que está mais envolvido”, explica Leonardo.
O managing parter da Mergus também evita investir em empreendedores que tenham um “plano B”. Ou seja, pessoas que tenham um outro emprego ou atuem como consultores, tenham outros negócios, e por aí vai. Segundo Leonardo, as chances de que o fundador decida abandonar o barco no meio do caminho são grandes nesses casos.
Para Sandro, da Ventiur, o alinhamento entre fundadores e investidores é outro ponto que serve de alerta. “A gente está começando um casamento, então é importante que a gente consiga conviver bem. Levamos em consideração a postura do empreendedor, se está aberto para receber feedback, não ter uma postura arrogante, ser coachable”, diz.
As red flags também variam conforme o estágio da startup, aponta Carlos Simonsen. “No late-stage, priorizamos métricas de crescimento, eficiência no uso de capital e a capacidade de escalar o negócio”, afirma.
Já no early-stage, em que há poucas informações sobre a empresa, é comum que os investidores prestem mais atenção aos fundadores e às suas habilidades técnicas e interpessoais.
“A reputação é muito importante. Normalmente a gente pergunta sobre o passado, a relação com pares, com outras empresas, para saber se o empreendedor será capaz de formar bons times, motivar as pessoas”, conta Leonardo.
Com um ano desafiador à frente, influenciado pelas taxas de juros altas e um dólar em patamares elevados, prestar atenção a esses sinais é importante para que os fundadores consigam captar recursos no mercado. Sandro afirma que há recursos, mas que os investidores estão mais seletivos e criteriosos.
“É aí que bons empreendedores se destacam. O recado é para que mantenham a resiliência e a postura, porque o mercado vai voltar a aquecer”, aconselha.