Carlos Simonsen, managing partner da Upload Ventures | Foto: Divulgação
Carlos Simonsen, managing partner da Upload Ventures | Foto: Divulgação

Quando se trata de inteligência artificial, tem sido cada vez mais difícil encontrar um meio termo. De um lado, há quem diga que existe uma bolha prestes a explodir. No outro extremo, há quem acredite que, sem a tecnologia, não existe investimento de venture capital. Para Carlos Simonsen, managing partner da Upload Ventures, porém, a realidade não é nem tanto ao céu, nem tanto à terra.

Em entrevista ao Startups, o investidor afirma que a concentração dos fundos de venture capital gringos, em especial os norte-americanos, em empresas de IA “parece exagerada”. No entanto, ressalta que, no Brasil, a tecnologia tem sido uma importante aliada de setores como fintechs e legaltechs.

“No Brasil, o que se vê são principalmente soluções AI-enabled. A IA é uma devoradora de informações em tempo real, e tem aplicações que fazem muito sentido em setores como legaltechs, que lidam com um volume grande de dados. Além disso, soluções que não dependem só do tech, mas do canal de distribuição, acabam tendo uma vantagem natural”, explica Carlos.

Recentemente, o relatório Venture Pulse Q3’25, publicado pela KPMG, mostrou que, apesar de a IA ser a menina dos olhos do venture capital, em regiões emergentes como América Latina, África e Sudeste Asiático, as fintechs provavelmente continuarão sendo a principal prioridade de investimento.

O managing partner da Upload Ventures concorda e destaca que, no Brasil, ainda há muito espaço principalmente para o segmento B2B – e, cada vez mais, com fintechs voltadas para nichos específicos.

“Software e fintechs estão caminhando para ter uma confluência de teses”, diz o investidor, referindo-se a startups que começam com soluções para gestão de negócios específicos e, no fim das contas, acabam fornecendo também serviços financeiros. “O grande fluxo de informações desses negócios de software acabam trazendo mais valor para a estratégia de crédito”, explica Carlos.

Com tese agnóstica, a Upload Ventures tem focado principalmente em B2B e na tese AI enablement – ou negócios que incorporam a inteligência artificial para ganhar mais eficiência e escala, ainda que não necessariamente desenvolvam uma tecnologia própria de IA.

Entre as últimas investidas da gestora estão a CUB, fintech de gestão de recebíveis no mercado imobiliário, que levantou US$ 5,5 milhões em uma rodada Série A liderada pela Alexia Ventures e Upload.

Outro investimento recente foi na IORQ, fintech de “credit-as-a-service” criada por Patrick Sigrist (co-fundador do iFood), que captou R$ 35 milhões com Monashees, Upload, ONE.VC e Norte.

“O primeiro grande golaço das fintechs foi a bancarização da população, com grandes exemplos como Nubank e Mercado Pago. Agora, a nova grande onda das fintechs está no B2B e no embedded finance”, avalia Carlos.

Além de fintechs, o investidor afirma que outras teses que têm chamado a atenção da gestora são IoT (internet das coisas), saúde (com teses adjacentes às healthtechs) e “coisas que são tipicamente brasileiras”, como diz o investidor. Por exemplo, setores que existem no Brasil por conta de questões regulatórias, como soluções para medicina ocupacional e exames admissionais e demissionais.

Com uma vertical de early-stage, comandada por Rodrigo Baer, e uma de growth, liderada por Carlos Simonsen, a Upload planeja ir a mercado para captar no próximo ano. Apesar de admitir que o cenário continua desafiador por conta das taxas de juros, Carlos afirma que há investidores globais que olham para a América Latina como uma região que oferece vantagens, como um mercado endereçável volumoso e boa liquidez.

Para o investidor, porém, a IA tornou mais difícil de prever os próximos movimentos no mercado de venture capital. “Nunca se sabe qual vai ser o horizonte. O curto prazo virou médio prazo. Qualquer previsão para daqui a dois anos está longe da realidade”.