fbpx
Compartilhe

“Os founders que estão aguardando a liquidez do mercado voltar ao que era em 2021 estão em um estado de negação”. A fala de Romero Rodrigues, managing partner da Headline e sócio da XP responsável por venture capital, dá o tom do momento vivido pelo ecossistema de startups. Com menos dinheiro na mesa, a busca por investimentos tem sido mais criteriosa, e quem quer atrair recursos terá que se adaptar. O Startups conversou com investidores de VC, de corporate venture capital (CVC) e de investimento anjo para saber o que o mercado está buscando neste ano. De antemão, uma coisa é certa, valuations inflados não passarão.

Fundador e CEO do BR Angels, grupo de investimento-anjo que identifica e investe em negócios de alto potencial, Orlando Cintra afirma que os investidores têm buscado mais qualidade e valuations mais realistas. Em 2023, o BR Angels realizou e participou de seis rodadas de investimento, que totalizaram R$ 18,4 milhões. Para este ano, o grupo tem R$ 20 milhões para investir, mas está mais exigente.

“Existia um FOMO (fear of missing out). Como havia muito dinheiro no mercado, tinha muita startup aparecendo, muitos unicórnios. Empresas que pediam valuations enormes, sem faturamento. A gente negava e passava duas semanas, outro micro VC investia nesse valuation. Aí a gente começava a pensar: e se ela é a próxima unicórnio e eu disse não? Graças a Deus, isso nunca aconteceu, mas esse medo fazia as pessoas investirem”, explica Orlando.  

Dinheiro, há

O investidor afirma que existem recursos disponíveis no mercado, em especial nos níveis pré-seed, seed e early stage. No entanto, é preciso que haja perspectiva de crescimento da empresa e um nível mais alto de maturidade. “O maior problema hoje é encontrar as startups corretas. Além do básico, que é olhar founders, tamanho de mercado, como está estruturada, hoje exigimos um pouco mais do PMF (product market fit), ou seja, um produto ou serviço que esteja comprovado no mercado”, afirma o CEO do BR Angels.

Romero, por sua vez, não poupa superlativos ao falar sobre o que a Headline tem buscado como investimento: “empresas com alto potencial de crescimento, que tenham um modelo de negócio escalável, que estão resolvendo problemas importantes em mercados gigantescos, e tocadas por times excepcionais”, detalha. De acordo com o investidor, a gestora busca ainda negócios que não precisem de muito capital para escalar e que sejam mais online que offline. “Escalar bit, é muito mais fácil do que escalar átomo”, diz.

Apesar de não vislumbrar um cenário de liquidez como o que se viu há anos atrás, Romero acredita que existem recursos para boas empresas. Ele lembra que nos momentos de pouca liquidez é quando costumam surgir as melhores companhias de tecnologia. “Todo mundo de rede social e de economia compartilhada – Airbnb, Uber, Pinterest, Instagram, WhatsApp – fez suas rodadas de early stage justamente após a grande crise financeira global, em 2009. Esses momentos forçam os founders a pensarem em modelos mais eficientes de capital”, aponta.

Soluções para empresas

Mas nem só de investimento anjo e VC vivem as startups. O corporate venture capital é um segmento que tem crescido e oferecido oportunidades de aportes em meio à crise de liquidez. É o caso da fintech Virgo, de serviços e soluções financeiras para o mercado de capitais, que lançou em 2021 seu próprio CVC, o Virgo Ventures. A iniciativa veio junto com a rodada série A da empresa.

“Decidimos olhar justamente novos produtos para os nossos próprios clientes ou soluções que pudessem aprimorar o nosso core business. Como passamos a ser lucrativos no ano passado, temos mais interesse nesse movimento de inovação por meio da alocação de capital”, explica Daniel Magalhães, CEO e fundador da Virgo.

Segundo Daniel, os investidores de CVC costumam olhar principalmente para a aderência das soluções oferecidas pelas startups às necessidades da empresa que fará o investimento. Para este ano, o braço de ventures da fintech pretende focar em banking e orquestração financeira; dados; ferramentas de monitoramento; além de uma categoria que Daniel chama de inovação de fato, que inclui, por exemplo, inteligência artificial e blockchain.

Crescimento sustentável

O managing partner da Headline explica que a gestora não costuma focar em setores específicos, mas busca as empresas que considera mais adequadas à sua tese, com maior potencial de crescimento, e um bom time. “A gente entende que é muito difícil a gente acertar de onde vai vir a inovação. Há cinco anos atrás era tudo blockchain, há três anos atrás era tudo metaverso. Esse ano é tudo AI. Então imagine que a gente decida focar em AI, mas surge uma nova tendência. Então, na prática, o que a gente faz é estar sempre falando com todas as startups”, afirma ele, que prioriza empresas com gestão eficiente dos recursos.

Para Daniel, da Virgo, o crescimento a qualquer custo deu lugar a uma busca dos investidores pelo crescimento sustentável. O executivo explica que a nova onda de startups tende a ser mais “consciente” com o capital, justamente porque tem menos acesso ao dinheiro. “Tem dois tipos de founders: aquele que acredita no negócio e quer se realizar com isso, e aquele que estavam jogando conforme a música. E a música há alguns anos era crescimento de receita. Eu vi muitos founders adaptando a sua gestão para atender à música que precisavam para captar dinheiro. Mas a melodia agora passou a ser de crescimento consciente. O founder que estava pelo negócio deu certo com mais consistência”.

LEIA MAIS