fbpx
Compartilhe

A Oico, startup criada em 2020 para atuar como um marketplace de materiais de construção, decidiu dar um tempo em seu modelo de negócios original e buscar alternativas para seguir operando. Com a pausa, a companhia enxugou sua operação e demitiu 70% do quadro, o equivalente a 40 pessoas. O Startups apurou que a companhia já vinha reduzindo sua equipe anteriormente até chegar na estrutura que foi reduzida há duas semanas. 

As 15 pessoas que restaram na empresa vão tocar, junto com os fundadores, o processo de encontrar novos caminhos usando recursos que ainda sobraram no caixanessa . “O modelo de marketplace B2B em construção da forma que a gente fazia dependia de escala e demandava capital. Com a virada do mercado desde o ano passado, ter os recursos para atingir esse objetivo ficou mais difícil. Então decidimos pausar a operação e buscar uma forma de gerar valor com os ativos que construímos”, disse Pedro Rocha, cofundador da Oico, em conversa com o Startups. Segundo ele, os ativos a que ele se refere são tecnologias para diferentes elos da cadeia e também o relacionamento com clientes e fornecedores.

Perguntado sobre o quanto a startup ainda tinha de caixa e quanto tempo ele acredita que será necessário para encontrar uma nova forma de atuar, o fundador não quis dar detalhes. Ele reforçou que o movimento de pausa foi feito de forma conversada e em bons termos com os investidores para que a companhia pudesse pagar todas as obrigações e pendências e minimizar os impactos da decisão. “Temos sorte de ter os investidores que temos. O conselho está muito alinhado com o caráter de risco de uma startup de seed stage, de tentar um modelo que não dá certo da forma que é e de buscar alternativas. Os investidores entendem muito bem isso. Faz parte”, disse Pedro.   

Modelo de operação

A Oico nasceu sob a avaliação de que o varejo de material de construção – o 3º maior do setor no Brasil – tem um perfil muito pulverizado, o que abriria espaço para o modelo de centralização de compras proposto por ela. Pedro Rocha e seu sócio Pedro Dellagnelo não tinham nenhuma experiência no mundo da construção civil quando decidiram criar o negócio no fim de 2009. Rocha vinha do agro e Dellagnelo tinha trabalhado em marketplaces.

Em seu “cardápio”, a Oico colocou 100 mil produtos de mais de mil fornecedores. A ideia era  ter um sortimento amplo para atender todas as necessidades dos construtores. O modelo não previa estoque próprio e sim a operação no formato de crossdocking, recebendo produtos e os redirecionando para os compradores com uma operação de última milha – mas sem ter uma frota própria. “Nosso negócio não é comprar e estocar”, disse Rocha ao Startups em janeiro de 2022.

Na época, a startup estava anunciando a captação de uma rodada seed polpuda: R$ 30 milhões. Na lista de investidores estavam Valor Capital, Tiger Global, CSN, Inova Ventures, Maya Capital, FJ Labs, e Jonathan Wasserstrum, cofundador e presidente do marketplace de locação de escritórios SquareFoot. Antes, a Oico já tinha levantado um pre-seed também gordo, de R$ 8,5 milhões, com FJ Labs e Maya. A companhia passou pelo programa de aceleração da Y Combinator em 2020.

Na época em que foi lançada, os marketplaces B2B despontavam como uma grande tese de investimento para atacar gargalos e ineficiências em diferentes cadeias na América Latina, o que justificava as altas expectativas. Com menos recursos disponíveis para financiar essas propostas, o conceito de marketplace B2B está sofrendo.

Ex-colaboradores ouvidos pela reportagem descreveram a notícia da pausa das operações e das demissões como “um choque”. “Pareceu um pouco contraditório, porque a empresa parecia ter margem, os números não se mostravam insustentáveis e a saúde financeira não era ruim. No entanto, explicaram que a margem de lucro não estava boa e que o negócio não era sustentável”, disse uma pessoa com familiaridade no assunto.

Apesar do percalço, Pedro diz ainda estar otimista com o setor de construção por ser um segmento grande e carente. “Temos muito orgulho do que construímos em 3 anos. Acredito que em outro momento de mercado o nosso modelo poderia funcionar. Assim como acho que existem outros modelos que são mais adequados para o atual cenário”, avaliou.     

LEIA MAIS