Era uma sexta-feira, dia 03 de maio de 2024. Após receber os avisos da Defesa Civil, o Instituto Caldeira teve que ser evacuado, pois a histórica cheia do Lago Guaíba iria atingir o hub. Entre funcionários do instituto e integrantes das empresas sediadas no hub, ninguém estava preparado para a violência das águas que invadiriam o local. Em questão de horas, o primeiro andar do local estava totalmente submerso, passando dos 2 metros de altura em alguns pontos.
Passado um mês desde a catastrófica enchente que assolou a capital gaúcha e todo o Rio Grande do Sul, agora o Instituto Caldeira e seus integrantes – empresas, colaboradores e outros parceiros – estão se preparando para um novo desafio: o de voltar a ser um hub ativo e se reerguer em meio à destruição.
“É um negócio muito trágico e bizarro o que estamos vivendo. É um desafio até mesmo para organizar e acelerar o processo de retomada, mas é o que estamos buscando fazer no momento”, desabafa Pedro Valério, diretor executivo do instituto, em um papo exclusivo com o Startups.
Avaliando o estrago
Segundo uma estimativa preliminar do hub, o impacto nas startups – prejuízos materiais, assim como o tempo que as empresas estiveram paradas durante o tempo das enchentes – passa dos R$ 400 milhões. Foram mais de 3,5 mil pessoas impactadas pela suspensão das atividades no local, isso sem contar as pessoas que foram impactadas diretamente, tendo suas casas alagadas, por exemplo.
“Então, os dados e o tamanho do impacto a gente ainda está levantando. Acho que ainda vai levar um tempo pra ter clareza e conseguir estimar o tamanho do impacto econômico e social que isso teve, não só no Caldeira, mas no ecossistema de inovação e empreendedorismo como um todo no Rio Grande do Sul”, avalia Pedro.
Entretanto, enquanto a água do Guaíba continua a baixar e as pessoas vão tentando recuperar suas casas e seus bens, o Caldeira também se mobiliza para retornar às atividades. E como um bom hub de inovação, a ideia é não esperar o momento perfeito. Aliás, o plano é já abrir suas portas na próxima segunda (10).
“O Caldeira tem 130 empresas com escritórios aqui dentro, então trazer essa galera aqui para dentro e começar a operar já a partir de segunda-feira no segundo e no terceiro andar, é parte essencial para trazer o Instituto de volta à normalidade”.
Apesar de toda a destruição no andar térreo, o Instituto Caldeira está adaptando as suas estruturas no segundo e terceiro andar para receber as empresas que tiveram seus escritórios atingidos. Com este esforço, o plano é fazer o hub voltar a pulsar, em paralelo às pesadas reformas que o primeiro piso exigirá nos próximos meses. Em relação às reformas, o conselho do instituto estima que a recuperação do andar alagado exigirá algo em torno de R$ 35 milhões a 40 milhões.
Apoio para retornar
Durante o período crítico da enchente, o instituto e seus integrantes encontraram abrigo no Tecnopuc, tradicional parque tecnológico sediado em uma região não atingida na capital, e de lá, o plano para a retomada já começou a ser traçado.
Segundo Pedro, mesmo com as atividades suspensas no hub, o Caldeira manteve conversas constantes com os 500 membros – de empresas a instituições – entendendo qual foi o dano e o impacto da enchente e como conduzir a recomposição da normalidade.
“Pensamos em como isso poderia ser feito, seja de forma operacional ou em questões como acessar linhas de crédito, de fomento. Inclusive, vamos lançar uma semana inteira de apoio ao empreendedor, trazendo agentes como Sebrae, BNDES, BRDE, FINEP, escritórios de advocacia, entre outros, para ajudar as empresas a ficarem de pé novamente”, pontua.
Além disso, do ponto de vista institucional, o Caldeira quer trazer mais empresas grandes para perto, com um programa de “fundadores beneméritos”, que ao contribuírem com cotas maiores para a reconstrução do hub, poderão ter voz nas decisões do instituto no futuro, ao lado das 42 fundadoras originais do espaço – onde figuram nomes grandes do ecossistema gaúcho como Agibank, Sicredi, Banrisul, Panvel, Lojas Renner, entre outras.
Começa pelas pessoas
A obra pode custar os seus milhões, mas para começar a recuperação do Caldeira, Pedro coloca as suas fichas no elemento que fez o hub se tornar um símbolo do cenário startupeiro de Porto Alegre e do estado: a mobilização do ecossistema. Um exemplo disso foi o mutirão de limpeza que o instituto fez no primeiro fim de semana após baixarem as águas no local.
Cerca de 300 pessoas – entre empresários, funcionários das startups e entusiastas da inovação – se juntaram ao time do Instituto para ajudar a retirar a lama do local, remover móveis destruídos e dar o pontapé inicial para os esforços de limpeza que prosseguem até o momento.
“A solidariedade tem sido algo avassalador. Recebemos a ajuda de gente do bairro que nem sabe muito bem o que o Caldeira faz, mas entende que é algo bom para a vizinhança”, relata Pedro, citando o exemplo dos alunos do Geração Caldeira, programa que promove a formação de jovens talentos em tecnologia, a partir de vivências dentro do hub.
Inclusive, uma das primeiras ações, ainda durante as cheias, foi a de dar uma linha de apoio aos jovens do programa, que em sua maioria vivem em regiões adjacentes ao instituto, que foram fortemente afetadas pela enchente.
“Mesmo com toda a tragédia, isso se reverte em algo positivo para o futuro, pensando em ações para criar convergência nos múltiplos atores, instituições, empresas, órgãos públicos, que querem o desenvolvimento do quarto distrito e das pessoas que aqui vivem”, finaliza Pedro.