Banco do Brasil
Edifício do Banco do Brasil em Brasília (DF) (Foto: rafastockbr / Shutterstock.com)

Ser uma “startup de 217 anos” é o mantra que o Banco do Brasil (BB) tem usado para resumir sua estratégia em inteligência artificial. Fundado em 1808 pelo então príncipe regente Dom João VI, o banco público mais antigo do país tem aplicado IA para automatizar processos, apoiar decisões e aprimorar a gestão de riscos, o compliance e a sustentabilidade. No caminho, enfrenta o dilema típico das grandes corporações: inovar com agilidade sem abrir mão do rigor jurídico e da cultura de segurança que sustentam sua credibilidade.

No Recife, sob o sol de 29 graus e o clima abafado típico da região, o ar-condicionado do auditório no Moinho Recife dava um respiro para quem acompanhava o painel do banco durante o Rec’n’Play. Lá dentro, executivos falavam sobre inteligência artificial com o entusiasmo de quem provou que tradição e inovação podem coexistir sob o mesmo teto.

“A aceleração digital é o novo modo de operar do Banco do Brasil”, afirmou Michele Alencar, gerente-executiva responsável por negócios com o setor público. O uso de IA cresceu 130% nos últimos três anos e hoje está presente em quase todas as 44 unidades do Banco do Brasil. A tecnologia atua em frentes como detecção de fraudes e lavagem de dinheiro, assistentes conversacionais e análises preditivas em setores que vão do agro à sustentabilidade.

Um dos exemplos mais simbólicos é o uso de dados geoespaciais para identificar áreas degradadas por pastagem, permitindo oferecer linhas de financiamento voltadas à recuperação ambiental. Outro projeto, de encarteiramento automatizado de clientes, aumentou em quatro vezes a rentabilidade dos perfis atendidos. 

Na área de operações, a automação inteligente tem reduzido custos e liberado tempo para o trabalho analítico. André Valadares, gerente de soluções da diretoria de operações, citou o caso da tributação de ordens de câmbio, que passou de um processo manual de 40 minutos para menos de 10 com apoio de agentes de IA. “Essas soluções já geraram mais de 30 mil horas de eficiência operacional só no último ano”, afirmou.

Governança e responsabilidade

O avanço da IA traz ganhos, mas também novas responsabilidades. Segundo Alexandre Frizoni, advogado e líder da diretoria jurídica do Banco do Brasil, a área acompanha os projetos desde o início para garantir segurança e conformidade, especialmente diante da LGPD e do projeto de lei 2338, que propõe regras específicas para o desenvolvimento, fomento e uso ético da IA no Brasil.

“Hoje, talvez ninguém consiga garantir 100% de explicabilidade e transparência em um modelo de IA, porque isso envolve sigilos empresariais e propriedade intelectual. Mas precisamos estar preparados: no futuro, pode haver legislações que assegurem ao usuário o direito de pedir justificativas para decisões tomadas pela IA. Ele poderá contestar a decisão e solicitar sua revisão por um humano”, afirmou Alexandre. 

Ele defende ainda que o jurídico deixe de ser um “freio de mão” e passe a funcionar como um “GPS” no processo de inovação, orientando os times sobre riscos e caminhos mais seguros.

Um banco em transformação

Transformar uma instituição centenária em uma organização orientada por dados é mais do que uma mudança tecnológica – é cultural. Esse processo passa pela formação de pessoas e pela confiança institucional nas novas tecnologias.

“Não existe IA de qualidade sem dados de qualidade”, destacou Pablo Claudino, gerente de soluções da unidade de Inteligência Artificial e Analytics do Banco do Brasil. “É fundamental ter cuidado contínuo com os dados, para que sejam governados, integrados e aplicáveis”, completou.

O desafio do BB vai além de implementar soluções de IA: é integrar a tecnologia à cultura corporativa, engajando tanto equipes experientes quanto novas, e garantindo que todos entendam o valor e os limites da inovação. É essa combinação de tradição, governança e agilidade tecnológica que resume a ambição de ser uma “startup de 217 anos”.