Perdendo o posto

Em breve, não seremos os mais inteligentes, diz especialista de Stanford

Na BSV, Michal Kosinski defendeu que a evolução da IA fará com que as máquinas assumam características consideradas exclusivas dos humanos

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Michal Kosinski, professor de Stanford, durante a BSV
Michal Kosinski, professor de Stanford, durante a BSV. (Crédito: Monking)

De Mountain View, Califórnia*- Sentir. Expressar emoções. Ter consciência. Essas são características que tornam os seres humanos únicos. A espécie mais inteligente que habita o planeta. E as máquinas não serão capazes de nos igualar. Será?

Com o desenvolvimento acelerado da inteligência artificial, essa crença pode cair por terra. “Podemos, dentro em breve, nos ver na situação de não sermos mais o ser mais inteligente”, alertou o professor de Stanford, Michal Kosinski. Ele foi o primeiro nome a subir  ao palco da sétima edição da Brazil at Silicon Valley (BSV).

Para a plateia de quase 700 brasileiros, o especialista misturou insights científicos e questionamentos filosóficos e confrontou a audiência sobre as definições do que é inteligência e também consciência.

Na avaliação de Michal, os avanços da inteligência artificial representam não apenas um avanço tecnológico, mas uma mudança hierárquica, já que, ao serem treinados para prever a próxima palavra de uma sentença, os modelos de linguagem natural (LLMs), passam a demonstrar habilidades semelhantes ao pensamento humano, à criatividade e até mesmo à empatia. Por esses motivos, o especialista argumentou que já estamos vivendo na era da chamada inteligência artificial geral, ou AGI. “Pede para a IA escrever um poema. Ela faz. Pede pra ela buscar alguma coisa pra vocês na internet, ela pode fazer. Agora ela começou até a seguir pedidos no mundo visual. O que é isso senão AGI?”, argumentou.

Ele disse acreditar que os LLMs – que ele acha que são nomeados de forma errada porque fazem mais do que linguagem – não estão só imitando a linguagem humana, mas também evoluindo, se tornando capazes de entender conceitos complexos como geografia, cultura e emoções. E essa evolução não é simplesmente o resultado de melhora na programação, mas uma evolução do processo de treinamento em si. E na medida que ficam mais sofisticados, eles passam a exibir características que antes eram consideradas unicamente humanas, como a consciência. “A consciência evoluiu em nós. Não seria a primeira vez que isso aconteceria”, questionou.

Neste processo, Michal disse acreditar que as máquinas têm uma vantagem em relação aos humanos. Diferentemente de nós, que temos emoções ligadas a processos químicos que acontecem no nosso cérebro, as máquinas podem “sentir”, sem as limitações. Ou seja, elas podem simular sentimentos de forma muito eficiente. Esse processo não é desconhecido. É sabido que sociopatas são incapazes de sentir algumas emoções simulam alguns sentimentos para manipular outros.

*O jornalista viajou a convite da BSV