Brazil at Silicon Valley

Empresa que não usar IA será comprada pela que usa, diz pai do CRM

Tom Siebel, avalia que uso da tecnologia não é questão de se, mas quando, e diz que não é preciso temer a inteligência artificial geral (AGI)

Tom Siebel na Brazil at Silicon Valley 2024
Tom Siebel na Brazil at Silicon Valley 2024

Tom Siebel estava lá quando os CEOs disseram que não iam usar mini computadores. Eles estava lá quando houve resistência ao uso dos bancos de dados relacionais. E quando os diretores de tecnologia não queriam usar PCs. Também viu os CEOs dizerem que não iriam colocar seus negócios na nuvem. “E esses CEOs não duraram muito tempo”, brincou ele arrancando risadas da plateia de brasileiros durante a Brazil at Silicon Valley (BSV). Com sete décadas de Vale do Silício, o empreendedor pai do CRM compara a atual febre da inteligência artificial a esses outros ciclos do mundo da tecnologia e é enfático ao dizer que a adoção de IA não é um se, mas um quando. “É uma questão de sobrevivência. Aqueles que não adotarem serão comprados por aqueles que adotarem [a IA]”, cravou.

Para Siebel, o atual momento é de criação da infraestrutura tecnológica da IA, com foco no silício. Quando esse ciclo estiver completo, e o hardware se tornar uma comodity, as aplicações é que terão o real valor. “Nos anos 90 a parte mais cara da tecnologia era o PC. Eu diria que 90% do valor estava no silício e no hardware. Quanto custa um PC poderoso hoje? Hoje o custo efetivo de um PC é de US$ 200 por ano. Quando você adiciona aplicações nele, o custo delas é de US$ 8 mil por ano. Foi o que aconteceu com os PCs e é o que vai acontecer com a IA. Eu garanto. É assim que os mercados evoluem”, afirmou.

Potencial transformador e reality check

Siebel disse acreditar que a IA generativa é um assunto tão transformador que ele, pessoalmente, mandou imprimir 10 mil cópias do livro “What is ChatGPT doing… And Why Does it Work” para distribuir para as pessoas. Durante sua apresentação ele citou vários termos relacionadas à tecnologia e deu uma de Tim Maia em sua fase racional, mandando todo mundo ler o livro.

Apesar de defender o melhor entendimento da tecnologia, o fundador não acha que será necessário recapacitar toda a força de trabalho para aprender ciência da computação. A perspectiva dele é justamente o contrário. “Você não vai ter que recapacitar todos os motoristas de táxi do Rio para serem cientistas da computação. Esqueça isso”, brincou ele erguendo seu iPhone e apontando para a tela do aparelho. Para ele, as pessoas vão usar IA de diferentes formas – para escrever código, no direito – mas sem nem saber o que está acontecendo, já que as interfaces deixarão o uso mais simples.

Siebel também avalia que não será possível criar leis que regulamentem a inteligência artificial generativa pelo simples fato de que ninguém sabe como esses modelos funcionam hoje em dia, nem os próprios sistemas, nem seus criadores.

No que pode ser considerado um terceiro ato de sua revisão de mitos sobre a inteligência artificial, ele ainda afirmou que não é necessário ter medo da inteligência artificial geral (AGI) e das máquinas tomarem  conta do mundo. Isso porque as pessoas tendem a subestimar o poder de processamento do cérebro humano, achando que ele pode ter seu funcionamento replicado em computadores. “O cérebro não é um dispositivo digital”, pontuou.

Olhando o futuro, não o passado com IA

Desde 2011 Siebel lidera a C3.ai, uma empresa de dados que tem um portfólio de 60 aplicações corporativas que usam inteligência artificial e desenvolveu 28 modelos de IA generativa voltados a tarefes específicas. Ele criticou modelos como os da OpenAI e o LLama, projeto open source da Meta, que, segundo ele, não atendem às demandas das empresas em termos de segurança, proteção de propriedade intelectual, rastreabilidade e consistência (a mesma pergunta recebe respostas diferentes e ainda há o risco de alucinação). A proposta da C3 é colocar uma camada de isolamento entre os dados corporativos e os modelos, restringindo o compartilhamento de dados com o exterior. E mais do que gerar relatórios sobre o que já aconteceu, o objetivo é permitir prever cenários. Ele citou um projeto de manutenção preventiva desenvolvido com a Força Aérea dos EUA que permite colocar no ar 25% a mais aeronaves todos os dias por evitar problemas de manutenção antes que eles aconteçam.

*O jornalista viajou com parte das despesas custeadas pela organização da BSV