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Fundadoras projetam um 2025 ainda desafiador para captações

O evento “Empower Summit: Women in Tech” reuniu mulheres investidoras e fundadoras no Cubo Itaú para discutir os rumos do setor

Erika Vaz, founder da to.gather, durante o “Empower Summit: Women in Tech”, no Cubo. Foto: Divulgação
Erika Vaz, founder da to.gather, durante o “Empower Summit: Women in Tech”, no Cubo. Foto: Divulgação

A lenta recuperação do mercado de investimentos em venture capital em 2024 deve seguir no mesmo ritmo em 2025, sobretudo para startups nos estágios iniciais. Esta é a percepção de um grupo de empreendedoras femininas, fundadoras e CEO de startups de base tecnológica entrevistadas pela Startups durante o “Empower Summit: Women in Tech”, evento que reuniu mulheres investidoras e empreendedoras no Cubo Itaú, nesta terça, 26, em São Paulo.

“Antes de fundar a Mosaic.ai, trabalhei em duas startups que foram investidas em momentos muito diferentes do atual. Hoje, os cheques estão menores e é preciso ter um produto muito bem desenhado, alinhado às exigências do mercado, mostrar tração e números consistentes para atrair  investidores”, disse Flávia Neves, CEO da Mosaic.ai, plataforma SaaS que usa ciência de dados e IA para analisar os dados de capital humano e intelectual dos colaboradores e gerar insights estratégicos para a gestão de pessoas nas empresas.

Ainda em estágio de pré-seed, a Mosaic.ai prevê desenvolver provas de conceito com pelo menos cinco empresas em 2025 e finalizar a negociação com investidores-anjo para conquistar sua primeira captação de recursos para a empresa.

Na avaliação de Erika Vaz, CEO e cofundadora da to.gether, startup de inteligência de dados para a diversidade corporativa, há dois anos no mercado, 2025 ainda será um ano de crescimento lento, justamente porque a empresa está em estágio inicial.

Ela está em busca de sua primeira rodada de investimentos no próximo ano, para acelerar o processo de crescimento, mas também depende do avanço de políticas públicas, como a obrigatoriedade de prestação de contas sobre diversidade nas empresas que começa a ser desenhada no governo federal. A Lei 14.553/2023 estabelece que as empresas do setor público e privado devem incluir nos registros administrativos um campo para declarar o segmento ético e racial a que pertencem.

Hoje, a pauta de diversidade é impulsionada nas empresas principalmente pelas políticas de ESG, mas alguns novos desafios podem impedir a consolidação dessa pauta nos próximos anos.

“Apesar de o Brasil abrigar um cenário favorável para a pauta social, a recente mudança eleitoral nos EUA pode ter algum impacto no tema. Sabemos que políticas internacionais influenciam como as empresas trabalham e podem impactar um crescimento expressivo da pauta de diversidade nas organizações”, disse Erika ao Startups. Por outro lado, reforçou que a Europa tem um comprometimento maior com a pauta e pode ser um contraponto à gestão Trump.

Em seu pitch, Erika disse que menos da metade (45,5%) das empresas mensura diversidade de seus colaboradores adequadamente, por usar sistemas não integrados e manuais. Sua solução tem como proposta apoiar o RH na integração da folha de pagamento ao mapeamento da diversidade, provendo dados, análises e diagnósticos em tempo real para gerar insights e apoiar decisões estratégicas. Único, Iteris e Mahle Brasil são algumas das empresas que já usam a solução da to.gether.

Pioneirismo também é desafio

Já a EasyTelling, plataforma que usa inteligência artificial para transformar evidências científicas em conhecimento aplicado, tem um desafio adicional à captação de investimentos para ganhar tração no mercado: o pioneirismo de sua solução.

A plataforma, voltada a empresas e pesquisadores, acessa uma base de cerca de 215 milhões de artigos científicos em diversos campos de pesquisa global, e transforma evidências científicas complexas em insights aplicáveis para o negócio. Não só reduz as buscas feitas por departamentos de P&D de algumas semanas para poucos minutos, como traduz o texto científico dos artigos em uma linguagem mais acessível e de uso prático, por meio de uma metodologia proprietária, a Knowledge Translation.

“O lado bom desse pioneirismo é que estamos navegando em um mercado de oceano azul, mas ao mesmo tempo isso exige didatismo e explicação maior dos benefícios para as empresas”, explicou Maria Paola de Salvo, CEO e founder da EasyTelling, que tem POCs desenvolvidas com a Samarco e a Loccus. A startup foi uma das investidas da Antler no início de 2024, captando US$ 125 mil em uma rodada pré-seed e busca nova captação seed para 2025.

Maria Paola acredita que os desafios globais que são causados pela mudança climática devem potencializar seu negócio, uma vez que as empresas vão necessitar de uma perspectiva científica para resolvê-los nos próximos anos. Em contrapartida, a crescente onda de conservadorismo global pode ser tanto um ofensor como gerar oportunidades para a EasyTelling. “Para combater a tendência negacionista que surge com essa onda de conservadorismo, o apoio na ciência será fundamental na contra-argumentação”, acredita.

Falta espaço para “ousadia” e surgimento de unicórnios

A investidora Carolina Strobel, sócia-fundadora da Antler Brasil, valida a visão das fundadoras sobre o mercado de investimentos em VC para o próximo ano.

Segundo ela, 2024 foi um ano de baixos investimentos. “Seguimos sofrendo com a falta de liquidez global. Quando olho para os fundos da Antler em várias regiões do mundo, os do Brasil estão entre os piores em liquidez, porque a gente compete com a inflação e juros elevados. Considerando o cenário macroeconômico para 2025, tudo me leva a crer que essa situação irá se manter”, analisou Carolina, em entrevista ao Startups.

Esse cenário de baixo apetite para investimentos em inovação é especialmente crítico nos estágios de pré-seed e seed, que não geram resultados imediatos para os fundos. “Isso faz com que a gente exija das empresas que estão nesses estágios criarem um produto diferenciado para um mercado grande, resolvendo o problema de forma eficiente, tenham um time capacitado e que monetizem nos primeiros 6 a 18 meses. Isso não é fácil e restringe muito a inovação. As empresas crescem menos, com uma realidade pé no chão.”

Carolina acredita que se isso pode ser visto como algo de certa forma equilibrado e estável para o mercado, também impede que grandes disruptores surjam de maneira rápida. No Brasil, o prazo médio para uma startup virar unicórnio gira em torno de seis a sete anos, mas para isso é “preciso ousadia, o que o mercado não está permitindo no momento”.

Startups que antes conseguiam passar do estágio de pré-seed para seed em um ano, ela prossegue, agora levam pelo menos 18 meses para essa transição e, mesmo assim, precisam ter um plano B para cortar custos, demitir pessoas, se necessário, e continuar se mantendo saudável.

Fomento ao empreendedorismo feminino

Nos últimos anos, o ecossistema empreendedor brasileiro tem investido em criar mecanismos para aumentar a participação feminina no mercado de VC, já que apenas 12% das startups investidas têm uma mulher no time de fundadores e apenas 4% são de times exclusivamente fundados por mulheres, de acordo com dados divulgados no evento. A segunda edição do Empower Summit, iniciativa do Cubo for Investors, busca ampliar o networking das mulheres empreendedoras e conectá-las com investidoras.

No encontro desta terça, sete empreendedoras apresentaram o pitch de suas empresas e participaram de uma masterclass sobre Técnicas de Negociação com a professora da FGV Daniela Gabbay. As fundadoras fizeram parte do programa de desenvolvimento do Female Force, organização sem fins lucrativos que fomenta oportunidades para garantir maior equidade de gênero para o empreendedorismo em tecnologia feito por mulheres. Além da Mosaic.ai, EasyTelling e to.gather, estiveram presentes as fundadoras da Plutu (saúde pet), Zaya (gestão de impacto ambiental para empresas) e Sofi (negociação de dívidas) e de representante da Pode Perguntar (saúde feminina).