
Taxas de juros altas, burocracia e um mercado concentrado estão entre os desafios para captação de recursos por parte das empresas no mercado bancário. A tokenização surge como uma alternativa, em uma modalidade que tem sido chamada de renda fixa digital – ou seja, a negociação de títulos de dívida (como acontece com debêntures, por exemplo), mas em forma de tokens, dentro da infraestrutura blockchain.
No entanto, o crescimento dessa modalidade – e, principalmente, do seu mercado secundário – depende de um aumento de liquidez que só será alcançado com a entrada de investidores institucionais. Essa foi a conclusão do painel Capital as a Service: O novo mercado de crédito, do evento Digital Assets Conference (DAC 2025), que aconteceu nesta segunda-feira (22) no teatro B32, em São Paulo.
O painel contou com a mediação de André Gouvinhas (MB), e participação de Eduardo Prates (Prata Digital), Lucas Viegas (Moody’s) e Marcelo Urbano Dias (Augme).
Hoje, cerca de 65% do crédito corporativo ainda está nas mãos dos grandes bancos, contra 85% no passado, destacou André, que é CFO e COO no Mercado Bitcoin (MB). A plataforma tem apostado na renda fixa digital como uma vertente estratégica para o negócio, indo além das criptomoedas.
Os tokens são distribuídos por meio da plataforma de crowdfunding da MB Securitizadora, nos termos da Resolução nº 88 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que entrou em vigor em 2022. Isso permitiu a disponibilização dos documentos das operações, além de informações essenciais, termo de risco, lâmina do produto, entre outros.
Para Lucas Viegas, vice-presidente e analista sênior da agência de análise de risco Moody’s, a tokenização tem a vantagem de permitir o fracionamento dos ativos, possibilitando sua negociação no varejo. No entanto, é preciso melhorar o ambiente regulatório, que hoje limita o crowdfunding e as negociações no mercado secundário.
“E aí é a história do ovo ou a galinha. Vem primeiro a demanda para depois ter a regularização ou é o contrário? Hoje, a questão regulatória é o grande entrave. Isso é a falta de interoperabilidade entre as plataformas, já que cada uma tem o seu pool de liquidez. Quando for possível conectar esses pools, teremos um mercado secundário mais pujante”, aponta.
Segundo ele, há quatro riscos considerados pela Moody’s atualmente quando se trata de tokens: a solidez da plataforma; a governança dos smart contracts; a representação do ativo no mundo real; a o risco externo (reguladores, segurança cibernética etc).
Marcelo Urbano Dias, managing partner da Augme Capital, destacou que um dos principais problemas de títulos de dívida hoje no mercado é a falta de padronização: “Cada lugar tem um modelo de contrato, cada cartório faz de um jeito. A garantia de recebíveis no Tribunal de Justiça de São Paulo tem uma interpretação diferente de outros estados. Nada é padronizado”, afirma.
Para ele, a organização trazida pela tokenização é uma vantagem para o investidor institucional. No entanto, ainda falta uma maior padronização dos investimentos e uma melhor governança da marcação a mercado dos ativos, principalmente os menos líquidos.
“Como ferramenta, a tecnologia é poderosa. Mas quem vai trazer liquidez é o investidor tradicional, que precisa de processos bem construídos”, diz.
*A repórter viajou a convite do MB