A quinta edição do Rio Innovation Week terminou na sexta-feira passada (15) dividindo opiniões. Entre as críticas, longas filas, tumulto e desorganização eram constantemente citados, enquanto, do lado dos elogios, a qualidade dos painelistas e a diversidade do público chamaram a atenção. Para muitos, as comparações com o Web Summit, que acontece no primeiro semestre no Rio Centro, eram inevitáveis. Mas, como dizia minha avó, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
A começar pelo público, que nesta edição do Rio Innovation Week superou expectativas, levando 205 mil pessoas para o Pier Mauá durante os quatro dias de evento. O número é seis vezes maior que o público da última edição do Web Summit Rio, por onde passaram cerca de 34 mil pessoas em 2025.
Em termos de espaço físico, os dois eventos possuem quase o mesmo tamanho – o WebSummit foi realizado em 87 mil metros quadrados, enquanto, o RIW, em 90 mil metros quadrados. Isso ajuda a explicar o tumulto durante os quatro dias do evento no Pier Mauá, quando muitas vezes o deslocamento entre um armazém e outro se tornava inviável.
Para o ano que vem, a ideia é expandir o RIW para outros pontos da cidade, disse o cofundador e diretor-geral do evento, Jerônimo Vargas. “A ideia é levá-lo para a Zona Sul, Zona Norte e Zona Oeste, abraçando ainda mais o Rio de Janeiro e democratizando ainda mais o acesso”, anunciou, em nota.
A medida pode ajudar a distribuir o público, reduzindo alguns dos problemas desta edição, como as longas filas. Durante o evento, o Startups ouviu relatos de quem ficou mais de 1h30 para retirar a credencial no primeiro dia, e de filas de mais de meia hora para o banheiro. Em cinco anos de RIW, era de se esperar que esses problemas, que se repetem a cada ano, já tivessem sido solucionados.
O maior uso da cidade também pode fazer sentido para um evento que tem buscado, cada vez mais, se parecer com o South by Southwest, que acontece todos os anos em Austin, no Texas. Ao contrário do Web Summit, que tem foco maior em tecnologia, o RIW tem abraçado o tema da inovação de maneira mais abrangente, incluindo na programação painéis sobre música, cinema, moda e cultura em geral, como acontece com o SXSW.
Assim como o evento gringo, o RIW também apostou em shows de música ao final de cada dia. No entanto, todos eram realizados no pier, enquanto o SXSW tem programações musicais espalhadas pela cidade.
Entre os palestrantes, chamaram a atenção nomes internacionais que já passaram, inclusive, pelo SXSW, como a futurista Amy Webb e Peter Diamandis, cofundador da Singularity University.
A diversidade dos temas ajuda a trazer também uma diversidade maior de público em relação ao Web Summit. Para quem faz parte do ecossistema de startups, é comum ver rostos conhecidos ao caminhar pelos pavilhões do Rio Centro. No RIW, o contato com outros setores é maior, com forte presença de entes públicos e até mesmo militares – o evento contou com a presença de duas embarcações da Marinha, o veleiro Cisne Branco, e o NAM Atlântico, o maior porta-helicópteros da América Latina.
Ao longo do Pier Mauá, era comum ver grupos de estudantes, famílias e curiosos em geral, atraídos por palestras com figuras conhecidas do grande público, como Gil do Vigor, Rebeca Andrade, Ney Matogrosso, Sebastian Vettel, Fátima Bernardes, entre outros. Talvez seja possível dizer que o Web Summit é mais B2B, enquanto o RIW está mais para o B2B2C.
Outra característica do RIW é um público mais local – das 205 mil pessoas que estiveram no evento, apenas 15% vieram de fora do estado do Rio, e 25% de fora da capital, segundo levantamento da Riotur e da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico (SMDE).
Ao contrário do Web Summit, no qual as palestras são em inglês, o RIW tem a maior parte da sua programação em português, o que deixa de fora o público internacional.
Para quem busca networking, vale ter em mente que o público presente no RIW não será necessariamente o que está sempre por eventos de inovação como WebSummit, South Summit, entre outros mais frequentados pelo ecossistema Faria Limer.
No geral, o RIW tem definitivamente uma pegada mais carioca – desorganizado, sim, mas espetaculoso. Ao contrário de eventos de inovação mais “corporativos”, o Rio Innovation Week aposta na vocação carnavalesca da cidade para incorporar instalações artísticas e interativas, e convidar o público a brincar e testar inovações, como drones e um simulador de capotamento do Detran-RJ.
Para quem não ainda não foi ao RIW e tem dúvidas se deveria ir no ano que vem, vale alinhar expectativas e ter em mente qual o objetivo com o evento. Se a ideia é ver e ser visto pelos mesmos rostos de sempre, existem lugares melhores. Se o objetivo é se aproximar do ecossistema carioca de forma ampla, vale.
Em termos de conteúdo, recomendo ir com a mente aberta e fugir um pouco dos temas de sempre para aproveitar uma diversidade de assuntos que nem todos os eventos oferecem. Ao ver tantos grupos de estudantes entusiasmados com painéis sobre filosofia, adrenalina, trends da internet, arte, luxo, entre tantos outros, fiquei me perguntando se não deveríamos carregar para a vida adulta mais dessa curiosidade adolescente.
Recentemente, foi anunciado que o RIW ganhará um evento irmão em São Paulo, realizado pela Base, mesma organizadora do Rio Innovation Week, e o Estadão. A ideia, parece, é manter essa característica mais local do evento, atendendo às vocações do estado, como finanças e agronegócio. Faz sentido.
A primeira edição do São Paulo Innovation Week (SPIW) foi anunciada para maio de 2026, e tenho certeza que será mais organizada que a do Rio. Mas a vista da Cidade Maravilhosa, essa São Paulo vai ficar devendo.