A festa acabou, e é hora de lidar com os vícios criados na embriaguez do sucesso que foi o boom de investimentos vivido pelas startups em 2021. Assim resumiu o CEO da Creditas, Sergio Furio, ao falar do cenário das fintechs para 2023.
“Estamos vivendo uma ressaca prolongada de uma grande festa”, disparou o executivo, durante um dos paineis no primeiro dia do South Summit Brasil, em Porto Alegre. Na ocasião, ele falou de forma franca sobre as duras penas que principalmente as grandes empresas do setor estão passando para se manter valorizadas no mercado.
“Até um ponto, estamos sacrificando nossa estratégia de crescimento para garantir a sustentabilidade do negócio. Reconhecemos que as coisas mudaram no late stage e nós precisamos nos adaptar”, avalia Sergio.
A declaração do executivo vem poucos dias depois da última divulgação de resultados da Creditas, em que a companhia registrou no último trimestre de 2022 um prejuízo líquido de R$ 208,6 milhões. Na ocasião, a companhia afirmou que em 2023 a expectativa é que a operação atinja o break-even.
Para chegar neste equilíbrio, a companhia fez recentemente alguns movimentos, como o desligamento de operações dentro de sua divisão Creditas Auto, demitindo funcionários e terceizando serviços como o de recondicionamento de veículos para revenda.
Momento delicado
Segundo aponta o CEO da unicórnio, apesar das fintechs ainda estarem aquecidas, investidores estão bastante conservadores, até mesmo para rodadas de financiamento via débito. “Até mesmo para levantar crédito via FDIC está complicado, o mercado ainda está bastante assustado”, afirma, fazendo alusão ao cenário de incertezas e altos juros.
Em termos de financiamento, a Creditas não anunciou nenhuma nova capitalização desde a sua série F no começo de 2022, quando levantou R$ 260 milhões em uma rodada liderada pela Fidelity, e teve um adicional de US$ 50 milhões no segundo semestre.
Além disso, a empresa não toca mais no assunto de um possível IPO, movimento que até o início de 2022 parecia inevitável para a companhia. Entretanto, as reviravoltas do mercado em 2022 colocaram não apenas os planos da Creditas, mas de praticamente todas as postulantes a uma oferta pública, de molho.
Unicórnio desde 2020, quando levantou US$ 255 milhões em uma rodada série E, a Creditas já acumula mais de US$ 830 milhões em investimentos, de players como SoftBank Group Corp, Fidelity Investments, Wellington Management, QED Investors, Kaszek, VEF e o fundo InnoVentures do Santander.
Buscando alternativas
Apesar do momento turbulento no cenário financeiro, o CEO da Creditas vê oportunidades para as fintechs crescerem junto ao consumidor final. “Agora que os bancos colocaram o pé no freio, é o momento de conquistar e fidelizar clientes com produtos diferenciados de crédito”, avalia o CEO.
Para o fundador e CEO da fintech Clara, Gerry Giocamán Colyer, que também participou do painel, o momento é de retomar a essência do negócio, focando nos problemas dos clientes, confiando no crescimento orgânico enquanto os cheques maiores não chegam.
“Os investidores estão esperando mais e o capital está mais caro. É hora de investir na tecnologia e no serviço, que é o que faz a diferença no final”, completa Gerry.