Há 10, 15 anos, o boom de startups no Brasil se baseou no digital-first (ou cloud-first), de uma nova onda de fundadores que começaram seus negócios nativamente na nuvem, incomodando as grandes empresas que travavam suas batalhas para se digitalizar. Com o hype da IA, parece que um movimento semelhante está prestes a acontecer, e os disruptores de uma década atrás serão agora os que terão que “correr atrás”.
Esse dilema deu a tônica de um painel sobre oportunidades de investimento em inteligência artificial, durante o South Summit em Porto Alegre. Na visão de Pedro Sorrentino (Atman), Larissa Bomfim (Canastra Ventures), Marcelo Ciampolini (Antler) e Sung Lim (Grão.VC), compartilharam uma opinião simples: uma nova onda de startups “AI-first” terá grandes chances de incomodar e derrubar startups maiores que agora precisam se adaptar à nova onda.
“Quem chegar AI-first em determinadas verticais e com aplicações que resolvam dores de negócio, terão um grande diferencial. Para startups que já tem uma solução pronta, acrescentar IA de forma disruptiva é mais complicado. É como um bolo. Fica difícil de dar certo se acrescentar açúcar ou farinha depois que ele está pronto”, disparou Pedro, managing parter na Atman.
Para Larissa, cofundadora da Canastra Ventures, existe uma grande oportunidade para novos negócios aproveitarem o boom da inteligência artificial, desenvolvendo aplicações AI-native na camada de aplicação, e esse movimento não deve demorar muito para acontecer.
Fundado por Pedro Dias (ex-DOMO.VC e Siemens), Artur Dias (ex-Centauro e Hyperlocal) e Larissa Bomfim (Grupo SBF), a gestora lançou no ano passado um veículo de investimento de R$ 20 milhões, com cheques de R$ 500 mil por empresa, em troca de 7% de equity.
“Acho que os empreendedores brasileiros vivem um momento único, em que essas tecnologias de ponta como modelos de IA, estão chegando em tempo real. Todo mundo acessou o Deepseek ao mesmo tempo”, observa. “Isso traz uma vantagem para esses novos fundadores, que podem agir rápido e disruptar algum mercado que ainda sofre com custos e ineficiência. Estamos olhando muito para essas oportunidades”, destacou a executiva, em conversa com o Startups durante o South Summit Brazil 2025.
“Hoje já existem ferramentas onde possível lançar um app funcional a partir de um simples prompt para IA”, completou Sung Lim, fazendo menção ao recente lançamento ao Google AI Studio, recente lançamento da big tech.
Onde será a disrupção?
Para Pedro Sorrentino, a oportunidade para investir em startups de IA já não está mais nos modelos de linguagem, especialmente quando se fala de negócios em estágios mais iniciais. “Deixa os grandes torrar dinheiro com processamento, com treinamento, e focamos em investir uma camada acima, nas aplicações. Entramos em alguns negócios de LLMs três anos atrás, fizemos exits bem sucedidos, mas hoje já não faria esse tipo de investimento”, avalia.
Um desses exits foi o da Hyperplane, fintech que desenvolve soluções de IA para ajudar bancos a treinar, avaliar e implementar modelos de aprendizagem profunda (deep learning) em dados proprietários para tomada de decisões.
Em 2023, a Atman entrou com um cheque de US$ 500 mil em uma rodada de US$ 6 milhões. No ano passado, a Hyperplane foi comprada pelo Nubank por um valor não divulgado, mas que segundo Pedro, “foi acima de R$ 500 milhões”.
“É um movimento interessante que observamos, de empresas nativas de tecnologia, que estão correndo para se letrar em IA, e se elas não fizerem isso rapidamente e de forma eficiente, teremos uma nova onda de disrupção. É por isso que vemos empresas como o Nubank investindo bastante, tentando fechar esse gap em IA”, diz Larissa.
Perguntado sobre suas apostas sobre onde estarão as futuras inovações de impacto em IA, Pedro foi rápido na resposta. “Eu acredito que a maior parte das novas disrupções virão de empresas “AI-first” que estão começando a aparecer. “Empresas mais estabelecidas terão grandes dificuldades em fazer essa transição, precisarão rever sua gestão como um todo, fazer layoffs”, pondera.
Perguntado se esse movimento das startups AI first ser algo semelhante às cloud first incomodando as incumbentes em diferentes setor, Pedro também foi ligeiro na sua previsão. “Será parecido, mas muito mais rápido e agressivo”, finaliza.