Ao falar com os organizadores do South Summit Brazil, fica nítida a obstinação deles em fazer algo que não se vê em qualquer lugar. Segundo o presidente do evento, o empresário gaúcho José Renato Hopf, “não existe evento minimamente parecido” com o que acontece em Porto Alegre desde 2022. E para a terceira edição do encontro, que acontece agora em março, o plano é consolidar de vez esta visão.
“Estamos chegando onde queríamos chegar quando trouxemos o evento pra cá. Muita conexão global, investidores, empresas e as pessoas percebendo o tamanho deste encontro”, pontua José Renato, em conversa exclusiva com o Startups.
Novamente sediado em um dos cartões-postais de Porto Alegre, o Cais Mauá às margens do Rio (ou lago, se você quiser ser mais específico) Guaíba, o South Summit quer se solidificar no calendário nacional como uma versão gaúcha do SXSW: um evento de inovação que, em vez de ficar em um lugar restrito (por exemplo, um centro de convenções), é realizado aproveitando a cidade, começando no cais e se expandindo para outras áreas da capital.
“Temos como matriz o South Summit de Madri, mas uma de nossas inspirações é o SXSW, que tem o espaço para palestras, mas que promove também a conexão e o relacionamento utilizando a cidade como pano de fundo”, explica Thiago Ribeiro, CEO da edição brasileira da conferência. Segundo ele, foi esse aspecto que conquistou inclusive a idealizadora do evento em Madrid, Maria Benjumea.
De acordo com Thiago, a possibilidade de imprimir um “sabor local” ao encontro foi um dos diferenciais na escolha de trazer o evento espanhol para o Rio Grande do Sul. O estado chegou a entrar na disputa para sediar o Web Summit (que depois escolheu o Rio de Janeiro), mas segundo o CEO, se tratou menos de uma disputa de força e mais da possibilidade de fazer algo novo. “O Web Summit tinha uma ideia fechada de como o evento deveria ser, e com o South Summit tivemos abertura para fazer à nossa maneira, uma co-criação com o pessoal de Madri”, pontua.
Segundo os organizadores, para a edição 2024 a expectativa é chegar a 24 mil participantes, ampliando em cima do público de anos anteriores – 20 mil em 2022 e 22 mil no ano passado. Além disso, em termos de participação internacional, o número de países presentes também deve aumentar, podendo chegar a 80 – no ano passado foram 50.
Outro ponto levantado pelo empresário foi o aumento do interesse de fundos, tanto nacionais quanto internacionais, para participar. Em 2024, são 140 fundos confirmados, um salto considerável em relação aos 100 que compareceram ao Cais Mauá no ano passado. “Em 2023, causamos uma impressão muito forte com os fundos. Eles se espantaram com a dimensão do evento, o que gerou até um boca-a-boca para esta edição, e ninguém mais quer ficar de fora”, revela José Renato.
Na visão de José Renato e de Thiago, essa evolução ajudou a definir de vez a personalidade do encontro, inclusive para se diferenciar de outros grandes eventos de inovação que compõem a agenda nas próximas semanas – duas semanas depois do South Summit já tem outro evento no Rio Grande do Sul – Gramado Summit – e na sequência já é a vez do Web Summit Rio, que espera bater até a meta de público do South Summit, chegando a 30 mil participantes.
“Vejo estes eventos com focos distintos. O Web Summit, por exemplo, eu vejo mais como um evento para ‘innovation lovers’, enquanto o nosso puxa mais pra pegada do South Summit de Madri, reunindo o que chamamos de ‘innovation doers’. Por isso é que temos tantas empresas e fundos querendo participar. É um evento para aprender e se relacionar, mas é pra fazer negócio”, dispara José Renato, alguém que não é nenhum estranho ao termo “fazer”. Antes de se tornar presidente do Grupo Four e do South Summit Brazil, ele fundou uma das primeiras e mais famosas fintechs do país: a GetNet, vendida ao Santander em 2014 por mais de R$ 1 bilhão.
Números e atrações
Já falamos um pouco sobre o aumento esperado de público e fundos, mas segundo os organizadores, o crescimento não para por aí. “Esperamos subir de 700 para mil investidores, e subir de 3 mil para 3,5 mil startups. A expectativa é ter uns 140, 150 speakers internacionais”, diz José Renato.
Quanto a patrocínios, apesar do evento ter como principal apoiador o governo gaúcho, o idealizador do South Summit Brazil destaca que, este ano, o número de empresas interessadas em patrocinar foi maior do que o esperado. “O próprio governo federal, esse ano está mais presente. Além disso, temos muitas empresas nacionais conosco, então o evento vai ganhando uma cara nacional, global a cada ano”, pontua José Renato.
Na lista de palestrantes confirmados estão nomes gringos como Uri Levine, cofundador do Waze, e o autor britânico John Elkington, e Guibert Englebienne, cofundador da Globant, assim como nomes conhecidos do cenário nacional como Carlos Takahashi, CEO da BlackRock Brasil, Guilherme Bonifácio, cofundador do iFood e André Penha, cofundador do Quinto Andar, entre outros.
Outra mudança apontada por José Renato Hopf foi a de estender a duração dos painéis e palestras. “Estávamos utilizando o playbook de Madri, com painéis de 15 a 30 minutos. Aqui no Brasil, a gente quer que o conteúdo tenha mais tempo para render. Então, estamos ampliando o espaço, os stages, mas diminuindo um pouco os speakers em favor de conteúdos mais aprofundados”, diz o empresário.
Quanto à variedade de palestrantes, segundo Thiago Ribeiro, o sucesso das edições anteriores impactou consideravelmente a programação para 2024. Se no primeiro South Summit, a programação ainda tinha uma predominância de representantes do ecossistema gaúcho, para 2024 a cara é de um evento bem mais cosmopolita, com participação massiva de outras regiões e países.
“Na primeira edição, foi natural ter mais gaúchos participando. Ainda é uma presença forte, pois fazemos o evento no Rio Grande do Sul. Entretanto, mudamos o jogo no ano passado e para este ano, estimo que 50% do público e da programação já é composto por gente que vem de fora”, diz Thiago.
Ah, e voltando ao assunto da programação não ficar só no Cais Mauá, a programação paralela – chamada Night Summit – aumentou exponencialmente. “São mais de 40 eventos paralelos acontecendo, e tem uma diferença em relação ao ano passado, em que rolaram muitos eventos proprietários. Esse ano, a gente passou a receber ofertas de eventos e entendemos isso como uma oportunidade de agregar mais marcas e parceiros no processo”, destaca Thiago.
Endereçando os problemas
Se você é leitor do Startups há mais tempo, pode se lembrar que, em nossa cobertura do primeiro South Summit, chegamos a ser um tanto críticos em relação aos problemas que a primeira edição enfrentou, especialmente em seu dia de abertura. Foi chuva na cabeça, dificuldade em acessar palcos, banheiros químicos que não deram conta. Apesar de ser algo “do jogo”, especialmente em uma primeira edição, poderiam ser aspectos que diminuiriam a empolgação do público para edições futuras.
Felizmente, para José Renato e Thiago, não foi isso o que aconteceu, e no ano passado eles tiveram a chance para corrigir o curso. “Montamos a primeira edição em tempo recorde, cerca de 100 dias. Seria inacreditável não ter algum problema. Mas do primeiro para o segundo, a gente olhou todas as oportunidades de melhorias e ‘tacamos’ todas”, explica Thiago.
No ano passado, um dos problemas que persistiu foi a lotação de alguns dos palcos, o que gerou filas e deixou participantes frustrados por perderem um ou outro speaker. Para endereçar esta questão, a organização tratou de aumentar o espaço, “retrofitando” mais galpões, aumentando a área coberta em 150% e subindo a área utilizada de 22 mil metros quadrados para 38 mil. Segundo os organizadores, questões como o acesso e saída via carro no Cais Mauá também terão uma atenção especial este ano.
“Tudo que cresce traz novos desafios. Então a gente também tem novas questões que identificamos e estamos atacando todas elas, mas eu acho que, nesse ano, não apenas estamos resolvendo, mas também dando o salto de qualidade”, avalia o CEO do South Summit.
Com edições confirmadas até 2027, e a poucas semanas da edição 2024, agora o South Summit quer fazer a máxima divulgada ainda em 2022 – transformar Porto Alegre na capital da inovação da América Latina durante três dias – ser mais do que um wishful thinking. “Estamos chegando no ponto que sonhamos. É um evento brasileiro, mas a gente se consolida como um dos grandes eventos globais de inovação a partir deste ano”, finaliza José Renato.