
Na hora de captar recursos para sua startups, qual é a melhor escolha: venture debt (VD) ou venture capital (VC)? Para muitos fundadores, parece uma escolha de um ou outro. Entretanto, na visão de investidores, as duas modalidades de funding podem coexistir dentro de uma startup – basta fazer a abordagem correta.
Essa é a máxima trazida em um painel durante o South Summit Brazil 2025, em Porto Alegre. De acordo com Paula Giraldo, sócia do fundo mexicano de venture capital 30N Ventures, o novo momento do mercado está permitindo uma convergência real entre estratégias de venture capital e debt como formas de financiamento nas startups.
“Antes existia uma noção de que, quando um fundador levantava uma rodada de equity, não era possível captar em venture debt, pois se achava que toda rodada de VD se pagava em equity. Entretanto, agora que mais e mais startups estão focadas em rentabilidade e em seus unit economics, o venture debt se tornou uma opção atrativa”, explica.
Para Gabriela Gonçalves, fundadora e sócia no fundo de venture debt Namari Capital, a opção pelo venture debt se tornou uma alternativa às chamadas “rodadas bridge” que muitas startups fazem entre avançar de uma série A para uma série B, por exemplo.
Olhando para o exterior, o volume de dinheiro captado em venture debt subiu consideravelmente. Nos Estados Unidos, por exemplo, 2024 bateu recordes, chegando a US$ 46 bilhões em rodadas de dívida – superando os US$ 41 bilhões anotados em 2021. Entretanto, para os investidores, esse crescimento deve ser encarado com o olhar correto.
“Venture debt não é algo que um fundador deva usar para testar coisas novas. Mas no caso de startups que estão escalando produtos e sabem quanto podem obter de retorno em cada dólar investido, podem ser mais interessantes do que mexer no captable”, avalia.
Um exemplo de startup que optou por esse caminho foi a Solfácil, que em 2022 reforçou sua série C de R$ 100 milhões liderada pela QED com mais R$ 100 milhões em venture debt – e a Namari (na época Brasil Venture Debt), entrou na rodada. Outra startup que fez o mesmo foi a gaúcha Umbler, que captou R$ 10 milhões com a Namari para dar escala em seu produto de marketing conversacional.
Mas se dívida é dívida, onde fica a diferença entre buscar financiamento em um banco ou “prender o rabo” com um fundo de venture debt? Para Federico Sader, chairman da plataforma de crowdsourcing para startups PiniOn, comparados às instituições financeiras tradicionais, recorrer ao venture debt tem suas vantagens. “Há um maior balanceamento no valuation feito pelos VDs. É possível captar mais capital baseado nos dados de fluxo de caixa e renda recorrente futura”, explica.
“Para uma captação em venture debt, empresas que já tem contratos de longo prazo e receitas recorrentes tem condições de fazer rodadas melhores. Até acontece de investir em empresas com menos receita, mas o investimento fica mais complicado, assumimos mais risco”, complementa.
No fim das contas, entre uma escolha ou outra, o consenso dos investidores é simples – mantenha suas opções abertas e proteja o dinheiro captado. “Como gostam de dizer, cash is king”, dispara Federico.
“No venture debt, você sabe exatamente quanto vai pagar pelo dinheiro que levantar. No equity, isso não é tão claro. Porém, conhecendo bem seu negócio e tendo bons fundamentos, fica mais fácil fazer a opção mais adequada para o negócio”, complementa e finaliza Gabriela.