A cobertura do SXSW tem apoio da
Há uns 6 anos, conversando com o presidente de uma grande agência de publicidade, acabamos caindo no assunto SXSW.
Naquele ano, parecia que os brasileiros fora da bolha da publicidade tinham, finalmente, descoberto que a conferência existia, e todo mundo estava falando dela. Com o hype, a reação do publicitário não poderia ser outra: “o SXSW acabou”, comentou.
Corta para março de 2024 e o prognóstico não se confirmou. Pelo contrário. O evento que em sua 38ª edição começa hoje (8) e segue até dia 16, só ficou mais forte. E o “hype” cresceu junto. Os brasileiros invadem a capital do estado do Texas. O Itaú é um dos principais patrocinadores do evento. A Globo tem uma presença importante. E o Governo de São Paulo montou a São Paulo Experience, ou SPXP.
SXSW is dead. Long live SXSW
Entendendo um pouco da avaliação feita pelo executivo lá atrás, não dá pra dizer que ele não tenha um pouco de razão. Pode-se sim dizer que o SXSW morreu. Aquele do passado – menor, indie, um aglomerado de “desajustados” da música, do cinema e da inovação que encontraram no “Keep Austin Weird” um refúgio para discutir microtendências que o mainstream provavelmente não estava pronto para absorver (ainda).
À parte do lado cultural – com centenas de bandas indies se apresentando, e filmes de baixo orçamento buscando seu lugar ao sol – hoje a pauta de inovação do SXSW já está mais ligada a temas mainstream como inteligência artificial e realidade virtual, nada muito diferente do que já se vê em conferências como, por exemplo, no próprio Vale do Silício. Claro que Austin ainda confere um sabor “outsider” aos processos, mas analisando friamente, até o que nasceu como contracultura pode ser fagocitado pelo “esquemão”. Não que isso seja exatamente ruim, mas é algo bem diferente do que o SXSW era quando nasceu.
De fato, são 24 trilhas de conteúdo: 2050, Advertising & Brand Experience, Artificial Intelligence, Climate Change, Creating Film & TV, Creator Economy, Culture, Design, Energy, Fashion & Beauty, Film & TV Industry, Food, Game Industry, Government and Civic Engagement, Health & MedTech, Music & Tech, Music Careers, Psychedelics, Sports, Startups, Tech Industry, Transportation, Workplace, and XR.
E com o excesso de informação disponível hoje em dia, é praticamente impossível que algo que seja dito em algum painel seja muito diferente do que já está publicado no YouTube ou em algum podcast ou notícia em um site por aí.
Com isso chegamos à primeira dica do que NÃO esperar do SXSW 2024: grandes revoluções ou novidades. O lance é mais entender como fazer conexões entre diferentes pontas, e aproveitar a diversidade do público de mais de 200 mil pessoas para aumentar sua rede de contatos.
O que mais?
Seguindo na nossa anti-lista, trouxemos as opiniões de alguns especialistas em SXSW, gente que já foi algumas vezes e sabe do que está falando:
Léo Xavier, sócio e CEO da Môre, Talents for Tech & Design
A beleza do evento é sua amplitude de temas, de pessoas e de formatos. Portanto, se eu fosse você, não esperaria encontrar essa semana em Austin um ambiente que apenas reafirme suas crenças ou que te deixe confortável com suas certezas. É preciso um tanto de coragem para se mostrar aberto ao novo.
É também uma demonstração de inteligência (humana, bem humana) se colocar numa posição de aprendizagem constante, sem filtros ou barreiras. Para mim, o SXSW é exatamente sobre uma grande porosidade para receber uma carga incrível de conteúdo e aprender, aprender e aprender.
Camila Costa, CEO e sócia da agência iD\TBWA
Não espere um oba oba sem propósito. Tem evento toda noite, mas o pessoal tá lá pelo conteúdo de valor. Não vai só pela curtição. Tem coisas no centro de convenções, estandes de empresas, patrocinadores. Mas o que se vê é menos sobre vendas e mais sobre experiências.
Tampouco espere calmaria. Não dá para esperar nada morno. O evento é descentralizado, tem muita coisa espalhada pela cidade. Austin interia respira o SX. Você está andando pela rua e encontra com muita gente legal. Vá aberto ao acaso.
Flávio Pripas, sócio da Staged Ventures e do Experience Club US
O que não esperar do SXSW 24 é como as “forças externas” podem ter impacto significativo nas nossas vidas:
- Eleições Americanas – hoje é o Super Tuesday e o Trump foi confirmado X Biden; como vai ser o mundo num segundo mandato do Trump, agora com muito mais força política?
- China X EUA – pouco se fala desta nova “guerra fria” pela supremacia do AI
- As novas guerras: Ucrânia, Israel, etc. – o que esperar de impacto no mercado de inovação
- O que acontece se terroristas cortam os cabos de Internet (como anunciaram que tinha acontecido ontem)? Starlink é a solução?
- Será que teremos uma nova pandemia? Como estamos nos preparando? (ninguém quer ir para conversas assim porque são chatas)
O SXSW é egocêntrico e falta um olhar mais amplo para forças externas que moldam nossas vidas.
Daniel Leipnitz, diretor corporativo e de relações humanas da Visto Sistemas
Não espere ir a todas as palestrar que deseja. Não vai conseguir ir a 95% delas.
Um segundo “não” é para a busca de investidores. Quem vai com esse intuito, de conseguir investidor, tá indo para o lugar errado. Lá é lugar para ver tendências, o que está acontecendo, encontrar outras pessoas de relacionamento.
Mesmo que os investidores estejam lá e tenha pessoas super qualificadas – talvez o melhor lugar do mundo com C-levels brasileiros – eles não estão lá para olhar isso. Eles estão para outra coisa. Para se relacionar, conhecer outras pessoas e para ver tendências de futuro.