A janela de IPOs para empresas de tecnologia parece ter se reaberto com as listagens da ARM, Instacart e da Klaviyo, o que coloca as empresas latinas no radar. Na avaliação de Hernán Kazah, cofundador da gestora Kaszek, não se trata de se, mas quando essas aberturas de capital vão acontecer. E a expectativa é que isso aconteça mais para 2025 ou 2026.
Na avaliação do investidor, nomes do portfólio como QuintoAndar e Creditas, e mais algumas estão na fila para o processo de listagem, mas ainda têm que evoluir parte de seus modelos, o que pode segurar um pouco a estreia no merca público. “Talvez alguma aconteça em 2024. Depende muito do mercado. Se o mercado fica muito bullish [otimista] antes, ou se fica mais no meio”, disse Hernán em conversa com o Startups durante o Vamos Latam Summit, em São Paulo.
Para ele, depois de 2020 e 2021 de otimismo em excesso, 2022 congelado, e 2023 de início de recuperação no mercado de venture capital, 2024 deve ser no meio ainda e, se tudo der certo, em 2025 o cenário fica mais positivo.
Cenário melhorando
Com US$ 3 bilhões sob gestão e com 120 startups investidas, a Kaszek é um dos principais nomes do venture capital latino – e, quiçá, global – por isso tem uma visão privilegiada do mercado. E a percepção é que as coisas estão realmente voltando. Ele citou o próprio ritmo de investimentos da gestora. Enquanto ano passado ela só fez um aporte (ou talvez nenhum, ele não soube dizer ao certo), em 2023 já foram 7 ou 8, com o ritmo melhorando principalmente a partir do 2º trimestre.
De acordo com Hernán, os fundamentos de avaliação de um negócio não mudaram e equipe, tamanho do mercado e modelo de negócios continuam sendo os guias. Ele assume que, no momento de otimismo, mesmo a Kaszek, que tenta ser disciplinada sempre, se deixou levar. E o mesmo aconteceu ano passado com as perspectivas mais pessimistas. Mas o trabalho é para não ser tão influenciado pelos humores externos.
O momento de recuperação, no entanto, não vai impedir que a limpeza do mercado continue, com algumas companhias com dificuldades ficando pelo caminho. “Quem captou lá atrás e tem dinheiro para gastar, mas que os investidores não vão preferir não investir lá. O sistema deveria ser assim sempre. A inovação é muito darwiniana o tempo todo. Mas o saldo final vai ser positivo”, cravou.
Empresas melhores, na média
Segundo ele, a menor disponibilidade de capital fez com que o topo do funil de novas oportunidades a serem analisadas ficasse menor. Mas, ao mesmo tempo, também melhorou, na média, a qualidade das startups e de quem quer tocar um novo negócio. “Em 2020 e 2021 tinha muito empreendedor turista. Hoje não tem. Quem tenta levantar capital é alguém que tem um alto nível de convicção sobre o problema que está tentando resolver. Não tem ninguém que está especulando ‘eu seria empreendedor, mas ao mesmo tempo talvez continue trabalhando no banco’, ou ‘alguém está me oferecendo um cheque bom, vou ser um empreendedor’” contou.
Outra mudança que tem acontecido, segundo ele, é a criação de modelos e formatos mais originais para atacar os problemas detectados na região, sem se basear tanto em ideias ou formatos já criados fora do Brasil – os famosos copycats. “Tem alguns modelos que até já são referência para fora”, disse.
Hernán avaliou que os copycats ganharam uma conotação pejorativa, mas que a “inspiração” em algo que já foi criado, por si só, não é um problema – afinal, até este Startups pode ser visto com um copycat de um grande portal americano referência em notícias sobre startups. “O Google não foi o primeiro mecanismo de busca. A Apple não foi a primeira fabricante de computadores”, argumentou. Para ele, usar as referências foi uma parte do processo de evolução do mercado e a tendência é que, agora, mais criações originais ganhem espaço.
Pra não dizer que não falamos de IA
Buzzword do momento, a inteligência artificial apareceu como um tópico mais no fim da conversa. Perguntado se, hoje, basta colocar AI na apresentação para atrair a atenção da Kaszek, Hernán disse que, se ela estiver no contexto certo, faz sentido, senão, não. “AI é um processo de alocação de recursos. Vai fazer sentido em todas as empresas. Mas você não pode fazer em tudo porque a tecnologia não está disponível. Então você que escolher onde vai colocar agora, onde não vai colocar. É um pouco de gestão de portfólio. Fazer as apostas corretas para investir para onde vai ter impacto.
De acordo com ele, a dica dada às empresas é que todas tenham uma estratégia de IA, com uma sequência das coisas que deverão ser feitas e revisões. Nessa estratégia é preciso olhar: o que fazer gora, o que fazer amanhã e o que fazer daqui 3 anos. A ideia é evitar o excesso de otimismo como acontece em 2021, e fazer coisas sem sentido, mas também não fazer nada e deixar espaço para que um concorrente possa fazer antes.