A cobertura especial do Startups no Web Summit Rio 2023 tem o apoio da Headline.
Muita coisa mudou de um ano para cá: no começo do ano passado, o nascimento de novos unicórnios – no caso, empresas com avaliação acima de US$ 1 bilhão – ainda era algo esperado para o Brasil, visto o boom de empresas recebendo este valuation em 2020 e 2021. Contudo, o inverno dos VCs está aí e agora a pergunta é se o país verá alguma empresa bilionária no futuro. Segundo os fundadores dos unicórnios Loft e Ebanx, a marca ainda é atingível, mas hoje ela se tornou uma meta diferente.
“No final do dia o objetivo é construir um negócio perene. Buscar o status de unicórnio ainda vale, mas é algo para o longo prazo”, avaliou Florian Hagenbuch, presidente e fundador da proptech Loft, durante o painel de encerramento do palco principal no Web Summit Rio.
A declaração de Florian chega a ser um tanto curiosa, já que sua empresa conseguiu chegar ao valuation de US$ 1 bilhão apenas um ano e meio após sua fundação. De agosto de 2018 a janeiro de 2020, a empresa levantou cerca de US$ 275 milhões, algo que pode ser considerado impossível no cenário atual de venture capital no Brasil.
Para Wagner Ruiz, cofundador e CFO do Ebanx, chegar a um megavaluation ainda é tangível, mas é preciso entender que as métricas mudaram – e bastante. “Ainda temos espaço para buscar esta marca, mas as coisas estão diferentes hoje. A base não se trata principalmente de crescimento, mas estamos falando mais sobre resultados e a linha final”, disse.
O Ebanx foi um dos primeiros unicórnios do país, chegando a valuation em 2019 após uma rodada de valor não aberto, liderada pela FTV Capital. Entretanto, diferentemente de outras startups que tiveram crescimento meteóricos até se tornarem unicórnios, a fintech levou seis anos para chegar à marca.
De acordo com o cofundador do Ebanx, as coisas mudaram no Brasil com a chegada do SoftBank, que anunciou em 2018 um fundo de US$ 5 bilhões para investir em startups latinas, e abriu o talão de cheques para altos valores. “Foi uma combinação de fatores, com abundância de capital financeiro e capital humano”, comentou o executivo.
Receita para criar unicórnios?
Tá, mas e hoje? Existe chance de chegar ao patamar de unicórnio? Perguntados se existe uma receita para chegar ao cobiçado status, Florian e Wagner foram diretos. “Antes de tudo, você precisa resolver um problema dos consumidores, construir um grande time e, é claro, trabalhar duro e executar. É preciso ter um pouco de sorte também”, disparou Florian.
Falando especificamente sobre os investimentos, ambos reconheceram que o momento está menos favorável para os fundadores, diferentemente de alguns anos atrás, em que muitas rodadas eram fechadas rapidamente já que os fundos disputavam as startups com maior potencial de crescimento.
“A balança está bem mais no lado de investidor, que tem mais tempo para negociar e avaliar as startups para fazer as propostas”, pontuou Wagner, dando outras razões para as rodadas estarem menos “inchadas” do que em 2020 e 2021.
Na visão de Florian, o ecossistema brasileiro ainda está no meio de sua crise de investimentos, e problemas ainda devem ser vistos nos próximos trimestres, com fechamentos e demissões. Aliás, tanto Ebanx quanto Loft se depararam com a necessidade de fazer cortes para equilibrar suas contas. “Quando você prioriza o sucesso da companhia, você tem que fazer escolhas difíceis”, afirmou o executivo, ao falar do enxugamento que a proptech fez ao longo do último ano.
Para o presidente da Loft, o mercado está aos poucos caminhando para uma correção. “O que vivemos no pico não foi muito racional, e o que vivemos de retração no ano passado também não foi. Leva um tempo para essas emoções assentarem. A correção foi muito severa, e agora caminhamos para um caminho mais saudável. Mas eu sou um otimista, então posso estar errado”, finalizou.