Evento da Apex Brasil antes do Web Summit Lisboa | Foto: divulgação
Evento da Apex Brasil antes do Web Summit Lisboa | Foto: divulgação

Segundo um recorte da Fundação Dom Cabral divulgado este ano, de pequenos e médios negócios no Brasil (o que inclui startups), cerca de 11 mil tem atuação internacional, sendo exportadoras ou com operações fora do país. Isso representa apenas uma fração dos mais de 360 mil negócios que tem o potencial de vender no exterior. Entretanto, fomentar é apenas uma parte do caminho – é preciso descomplicar esse processo.

Esse foi um dos temas tratados durante um evento pré-Web Summit Lisboa, realizado pela ApexBrasil, que reuniu mais de 100 startups e representantes de 30 empresas europeias para se conhecerem e fechar possíveis negócios.

De acordo com a entidade, o plano com o evento – e com a missão que, em parceria com o Sebrae, trouxe mais de 300 startups para o Web Summit – é repetir a dose do que foi visto no ano passado, quando as startups brasileiras levantaram mais de US$ 800 milhões em negócios durante e após a conferência.

Para Odir Dellagostin, diretor-presidente na Federação Gaúcha de Amparo à Pesquisa no Rio Grande do Sul (Fapergs), a internacionalização dificilmente é vista pelos fundadores no começo de suas jornadas, visto que o Brasil já é um mercado de dimensões continentais. “É algo muito diferente de outros mercados latino-americanos, que já pensam em ser internacionais cedo”, destaca.

Entretanto, conforme explica Odir, algumas iniciativas como o Tecnova já estão focadas em fazer a internacionalização parecer distante ou um “bicho de sete cabeças”. Na ultima edição, o programa de subvenção federal incluiu trilhas de internacionalização, com treinamentos básicos e avançados. “Então agora, as empresas estão sendo instigadas e forçadas até a pensar em internacionalização”, aponta.

Um exemplo destas startups early stage que aproveitaram eventos e fomentos para internacionalizar cedo foi a Twiggy, marca de IA para varejo que levantou este ano uma rodada pré-seed de R$ 3,5 milhões liderada pelo FUNSES e WOW Aceleradora. Segundo o cofundador e CEO Ian Oliveira, participar do Web Summit foi um passo importante para “quebrar” fronteiras – hoje, a empresa já tem presença nos EUA, Emirados Árabes e alguns países da Europa.

“Estar em eventos como o Web Summit nos ajudou a entender como podemos atender mercados nos exterior, inclusive em parceria com varejistas brasileiros que queriam trazer suas lojas para outros países”, destacou Ian, durante o seminário.

Destruindo mitos

Do ponto de vista dos investidores, uma das principais provocações realizadas durante o encontro veio de Bruno Montez-Carpes, Global Executive da Capricornio Capital, fundo inglês com foco em startups brasileiras. Para o executivo, está na hora dos fundadores se desvencilharem de ideias ultrapassadas, tanto na hora de buscar investidores internacionais, quando na hora de receber a grana.

“É preciso ser sucinto nas teses. É bonito falar que sua tecnologia é transformadora, mas sempre tenha um benchmark”, pontuou Bruno, contando uma anedota dos tempos em que foi CFO da healthtech Conexa e negociava uma rodada com a General Atlantic. “Eu não tinha tempo, eu não conseguia explicar que a nossa tese era democratizar a saúde, para a General Atlantic. Então resumi em dez segundos, dizendo que fazíamos o mesmo que dois cases mundiais – a Teladoc e Livongo – só que na América do Sul. Acabou”.

Não contente em fazer apenas uma provocação, Bruno veio com outra. Segundo o executivo da Capricornio, já passou da hora de complicar as estruturas jurídicas na hora de internacionalizar. Ou seja, é para cortar essa história de que uma startup internacional precisa de uma estrutura sanduíche em lugares como Ilhas Cayman ou em Delaware.

“Isso é uma fantasia que alguém inventou no passado. Não existe isso, e essa é uma crença que me dói ao ver ainda é forte entre os fundadores”, disparou Bruno. “O que existe a estrutura que vai funcionar bem pra aquele investidor que você está conversando. Não tem bala de prata pra captar investimento”, finalizou.

*O jornalista viajou a Lisboa a convite da ApexBrasil