Luis Fernandes, vice-ministro do MCTI, no palco do Web Summit Lisboa | Foto: divulgação
Luis Fernandes, vice-ministro do MCTI, no palco do Web Summit Lisboa | Foto: divulgação

Em meio à guerra tarifária entre os EUA e o Brasil, o Pix foi um dos alvos escolhidos pelo presidente ianque Donald Trump. O popular sistema de pagamento brasileiro virou alvo de uma investigação, por ser considerado uma “ameaça” a plataformas financeiras norte-americanas como PayPal, WhatsApp Pay e outras. Entretanto, para representantes do governo brasileiro, essa suspeita não passa de balela.

“Isso é fake news, porque o Pix é basicamente um sistema público digital de pagamentos, garantido à população brasileira. Se for uma investigação neutra e objetiva, vai mostrar que as alegações são falsas”, disparou o secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luis Fernandes, em painel no center stage do Web Summit Lisboa.

“Não há base para ver isso como uma iniciativa contra os EUA e suas empresas. É simplesmente inovação, e inovação pública, o que às vezes incomoda”, completou Luis, em resposta ao jornalista e fundador do Startups, Gustavo Brigatto.

Para o economista e professor emérito da Universidade de Massachussetts, William Lazonick, o Pix se tornou uma pedra no sapato de big techs como a Meta, que tentaram emplacar soluções como o WhatsApp Pay no Brasil, mas foram atropelados pela rápida e massiva adoção do Pix. Em 5 anos de operação, o sistema do Banco Central movimenta mais de R$ 26 trilhões ao ano, com mais de 80% da população brasileira fazendo transações por este modelo.

“Provavelmente Mark Zuckerberg sussurrou algo no ouvido de Trump em uma daquelas reuniões na Casa Branca, quando ele não estava bajulando o presidente, e disse algo como: ‘Queríamos entrar no Brasil com o WhatsApp Pay, íamos controlar o sistema e os dados, mas eles criaram o Pix’. Trump provavelmente não fazia ideia do que estava sendo dito, mas soube que era algo que o Estado brasileiro havia feito — então mandou incluir isso na lista de exigências”, disse o professor.

Soberania econômica

Para William Lazonick, uma das razões pelas quais o Pix está chamando a atenção de governos e empresas de tecnologia é por mostrar que governos podem apresentar alternativas viáveis e eficientes ao modelo privado. Segundo ele, o Pix mostra que inovação e eficiência não precisam vir do setor privado nem depender de capital de risco.

“Nos Estados Unidos, o sistema de pagamentos ainda é caro, fragmentado e ineficiente. O que o Brasil fez com o Pix é o que os EUA deveriam ter feito há muito tempo — um sistema público e gratuito que funcione em tempo real”, afirmou o professor.

Perguntado se o Pix pode eventualmente “matar” o uso de cartões de crédito, Luis afirmou que no momento isso não faz sentido, já que o Pix é um sistema de pagamento e não de crédito aos usuários. Entretanto, isso não impede que eventualmente algo mude, já que produtos futuro como o Pix Garantido poderão substituir os cartões nas compras parceladas.

“No máximo, o Pix agora vai introduzir o parcelamento de pagamentos, que é um costume muito sólido no Brasil, vindo do tempo da hiperinflação. As pessoas se beneficiavam ao pagar depois — faz parte da nossa cultura”, disse Luis, fazendo uma menção marota a uma invenção 100% brasileira (o crediário), que nas mãos das fintechs já virou termos com Buy Now Pay Later.

Contudo, voltando à questão da soberania financeira, o vice-ministro apontou que o sucesso do Pix tem chamado a atenção de outros países, que estão estudando o modelo do Banco Central como referência. Segundo ele, o que era um projeto com fins nacionais passou a ser um instrumento de diplomacia tecnológica.

“O Pix é a prova de que o Estado pode ser inovador, quando combina visão estratégica, capacidade técnica e propósito social. Essa é uma inovação que não nasceu em um vale do silício — nasceu em Brasília”, finaliza.