Se na edição 2023 do Web Summit em Lisboa o clima era de euforia com as novidades envolvendo o uso da inteligência artificial generativa, este ano o que se vê é um pouco mais de cautela no ar. O “alguma coisa AI” ainda é visto em boa parte das descrições do que fazem as startups que expõem nos cinco pavilhões. Mas os debates sobre o assunto já evoluíram para a página dois.
Falando sobre como como manter a confiança em ambientes de trabalho em tempos de implementação de AI, a COO e head de negócios da Asana, Anne Raimondi, declarou que a melhor maneira é… admitir que ninguém sabe muito bem o que está fazendo. “Não sabemos onde a AI vai nos levar. A confiança vem justamente quando isso é falado abertamente”, declarou. “É preciso ser transparente a respeito de como decisões estão sendo tomadas, quais os objetivos da empresa”, disse.
Respondendo às perguntas do jornalista Steven Greenberg, da CBS, Anne decidiu apresentar um retrato otimista de como a AI pode servir para melhorar a vida dos funcionários. Diante da questão da extinção de vagas de trabalho, ela citou um caso em que funcionários de atendimento ao cliente, depois da implementação de um chatbot, receberam treinamento para ocuparem outras funções, mais valorizadas, dentro de uma empresa. Ela também mencionou empresas em que a AI permite analisar e compartilhar todos os processos de tomadas de decisão, aumentando a transparência.
A proteção de dados coletados e utilizados por AI também tem sido tema de inúmeras discussões. Lambert Hogenhout, líder de dados e AI da ONU, lembrou que “grande parte das nossas preocupações relativas a AI, como copyright ou discriminação, já são cobertas pelas leis. É preciso apenas atualizar as leis existentes”, pontuou. E colocá-las em prática, obviamente.
Na abertura do evento na segunda (11), o professor do MIT, Max Tegmark, já havia feito alertas sobre a corrida para criação da inteligência artificial geral (AGI). Segundo ele, isso não é necessário, já que é possível fazer muita coisa com as tecnologias disponíveis atualmente. Além disso, o especialista disse acreditar que ter a AGI antes de serem definidos os parâmetros de até onde ela pode ir e como será usada é um grande erro.
Até o chefão de assuntos regulatórios da Microsoft, Brad Smith, subiu ao palco para defender o desenvolvimento responsável da IA, tanto em termos sociais, quanto de impacto ambiental. “Parte do nosso trabalho é construir uma governança para as comunidades, para os países do mundo [de forma conjunta]. Vamos começar com as coisas que nós fazemos como companhias individualmente que sejam construídas sobre padrões industriais que podemos criar e que vão exigir políticas nacionais, internacionais e até globais”, defendeu no palco principal do evento.
Brad Smith classificou a IA como a 4ª revolução industrial, e e disse que desta vez, será preciso fazer algo que não foi feito nas anteriores, que é a preocupação com as necessidades do planeta. “Não podemos simplesmente só construir centros de dados e consumir energia sem nos preocuparmos com o impacto para as comunidades, para os países e para o planeta”, acrescentou. Segundo ele, é preciso um compromisso para usar boas fontes de energia, com zero emissões de carbono. “Se isso significa investir mais, vamos apoiar esses investimentos”, cravou.
Assim como outras empresas de tecnologia, a Microsoft tem apostado na energia nuclear para sustentar o crescimento de demanda por eletricidade dos centros de dados que está construindo ao redor do mundo para os seus serviços.
Com a Europa liderando os esforços globais de regulação da IA, o Web Summit pode ser considerado o palco ideal para esses debates. Se eles vão resultar e mudanças ou ações práticas ainda não dá para garantir. Mas que certamente vão garantir mais alguns painéis em futuras edições do evento, isso é certeza.