
Depois de alguns anos de euforia, megarodadas e ralis de supervalorização de startups de IA, parece que o “repuxo” está ganhando força. Diversos investidores estão abrindo o olho para o fim de uma possível bolha nos valuations de IA, e no Web Summit Lisboa, e a discussão também ganhou os palcos. No primeiro dia de evento, quem também “cantou a pedra” de uma possível correção no mercado de IA foi ninguém menos de Jack Selby, empresário integrante da notória “PayPal Mafia” e sócio de Peter Thiel no family office Thiel Capital.
“Acho que já passamos do pico da IA. Provavelmente isso aconteceu há uns três a seis meses”, disparou o executivo. Na visão de Jack, o sinal que marou o topo do fenômeno para ele foi a megarodada de uma startup liderada pela ex-CTO da OpenAI, que teve uma avaliação bilionária antes mesmo de sair do papel.
Ele não falou nomes abertamente, mas provavelmente ele se referiu à Thinking Machines, startup fundada pela ex-OpenAI Mira Murati, que levantou US$ 2 bilhões na maior rodada seed da história, liderada pela Andreesen Horowitz e que colocou a companhia em um valuation de US$ 10 bilhões.
Para Jack Selby, a tendência é que a partir de 2026 o setor entre em um período de correção natural, em que os fundamentos e os resultados concretos começarão a separar o valor real do entusiasmo especulativo. “A tecnologia tem valor real, mas também pode estar massivamente superinvestida. Duas coisas podem ser verdadeiras ao mesmo tempo: a inovação é genuína, mas o mercado pode estar em um nível de investimento acima do razoável”, destaca.
De acordo com o investidor, o setor está finalmente saindo de uma fase de “superinvestimento em promessas”, enquanto os casos de uso e a monetização ainda amadurecem. No fim das contas, ele ainda é otimista, apostando que no longo prazo, a IA será tão onipresente quanto a nuvem, mas é importante as empresas fugirem das palavras da moda e abordagens superficiais.
Para ilustrar seu ponto, ele contou sobre um evento em que ouviu pitches de diversos jovens empreendedores e os desafiou a explicar o que faziam sem usar a palavra “IA”. O exercício mostrou, segundo ele, que poucos sabiam expressar claramente seu propósito.
“Fiz eles explicarem o que faziam sem usar as palavras IA ou qualquer termo relacionado. Foi fenomenal: alguns conseguiram, outros travaram completamente”, contou. “Há alta correlação entre o número de buzzwords e o fracasso do negócio”.
No balanço geral, Jack Selby vê o cenário atual como uma repetição de padrões históricos. No caso da IA, o ciclo já atingiu o topo — e agora será o momento em que a disciplina, o foco em produtos reais e o valor gerado para clientes separarão os sobreviventes dos oportunistas.
“A tecnologia é real. O hype, nem sempre. O mercado vai descobrir a diferença — e isso já começou”, finaliza.