
Em um universo tech em que a maior parte do hype fica reservado para o que se faz no Vale do Silício, Paddy Gosgrave está interessado em olhar para outras direções. Na abertura do Web Summit 2025, o fundador e CEO do evento não poupou alfinetadas para deixar isso claro – e colocou até o Pix na jogada para ilustrar o seu ponto.
“O domínio do ocidente na tecnologia está acabando”, disse Paddy, categoricamente, em seu discurso no palco principal da MEO Arena, completamente lotada na noite de segunda (10). Sobre o Pix, ele manteve o tom incisivo. “O sistema financeiro ocidental vai passar por uma revolução causada pelo Pix. É tão revolucionário que se tornou alvo frequente do presidente Trump nos últimos meses. Ele pode colocar em risco os sistemas financeiros que hoje conhecemos”.
Foi o suficiente para fazer arrancar gritos e aplausos do público brasileiro presente, e que no contexto geral compõe uma fatia significativa dos 70 mil participantes que são esperados nos três dias de Web Summit Lisboa.
Discussões sobre o Pix à parte (que inclusive será tema de um painel no palco principal mediado pelo fundador do Startups, Gustavo Brigatto, no último dia de evento), outro ponto focal de Paddy em seu discurso foi a China. Pela primeira vez na história do Web Summit, o país asiático terá um palco dedicado (China Summit) às suas tecnologias, especialmente em áreas como robótica e IA.
“Nos próximos dias, vocês verão os robôs humanóides mais avançados do mundo nos pavilhões do Web Summit, mas não serão europeus, nem serão americanos. Em vez disso, são chineses”, pontuou.
O convite do CEO para olhar na direção da maior economia asiática não é à toa. Em meio aos seus esforços de tornar o Web Summit um evento cada vez mais global, a China está na mira. Além das já existentes iterações no Rio de Janeiro, Doha (Catar) e Vancouver (Canadá), Paddy tem o plano de reviver o evento na China, algo que ele já tinha tentado de 2015 a 2019, com outro nome (Rise).
Os Jogos Olimpicos da tecnologia
Para dobrar a sua aposta em uma visão menos concentrada no mercado tech ocidental, o CEO do Web Summit chegou até a referenciar um comentário antigo sobre o evento. “Já fomos chamados de ‘Jogos Olímpicos’ da tecnologia. Então vamos aproveitar isso hoje”, disse, fazendo a deixa para um “desfile de delegações” dos quase 160 países que tem empresas no encontro.

Essa atenção a mercados menos badalados serve inclusive para a Europa. Segundo Paddy, a economia está se aquecendo em países antes “esquecidos” pelo continente. Um exemplo dado por ele foi o do ecossistema alemão, que viu uma queda no número de startups. Por outro lado, a vizinha Polônia bate recordes de novas empresas.
Mas nem tudo está perdido para o velho continente, que foi representado no keynote de abertura pela startup de crescimento mais rápido da história, a sueca Lovable. O CEO Anton Osika compartilhou com a plateia a história de sucesso de sua plataforma que propõe que qualquer pessoa possa usar AI para criar seu próprio software.
Mesmo com toda a atenção que a Lovable recebeu no último ano, de ofuscar grandes startups do Vale do Silício, Anton não se furtou em mostrar que não está interessado em “jogar o jogo” das startups norte-americanas. Segundo ele, na Lovable a busca por crescimento não significa uma “crunch culture”.
“Me importo em que todos sejam movidos pela nossa missão. As melhores pessoas no meu time, a maioria delas, têm filhos, e se importam com o que fazemos, mas não estão trabalhando doze horas por dia”, dispara. Ainda assim, somos uma startup, então eles provavelmente trabalham um pouco mais que a maioria dos empregos na Suécia”, finaliza.