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Os IPOs estão vindo em 2024, mas só na economia real

Em painel durante o Web Summit Rio, especialistas dão a real sobre a expectativa de IPOs das startups para este ano e além

IPOs
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Unico, Creditas, MadeiraMadeira, Gympass (digo, Wellhub), e muitas outras. Desde 2022, a sala de espera dos IPOs das grandes empresas brasileiras de tecnologia tem seus ocupantes. Entretanto, segundo especialistas, o “cauteloso otimismo” para novas ofertas públicas em 2024 tem pela frente um realismo cruel. Segundo eles, os IPOs estão vindo, mas não no setor tech.

“Eu até acho que teremos uma volta dos IPOs no Brasil, mas na economia real. Quanto às empresas de tecnologia, estou pessimista”, afirmou Marcello Gonçalves, sócio da DOMO.VC, em painel no palco principal do Web Summit Rio.

Para Fabiana Fagundes, sócia-fundadora da FM/Derraik, o momento é de ceticismo. Segundo ela, a maioria das startups brasileiras tem dificuldades em atingir a maturidade necessária para render em um ambiente como o da bolsa de valores, em que investidores querem retornos consistentes a cada trimestre.

“Você olha para o mercado e é fato que grande parte das empresas listadas são da economia tradicional. Na bolsa brasileira temos ainda um agravante. É pequena, apenas com 200 empresas listadas. Para investir em uma empresa tech em um mercado de baixa liquidez, é muito mais difícil”, avalia Fabiana.

Para completar, Fabiana pontuou que, caso os IPOs de tecnologia retornem, o cenário será completamente diferente, pedindo market caps bem mais sólidos do que os vistos na época de bonança do mercado brasileiro. “Nas conversas que tive com banqueiros, todos eles esperam uma retomada no Q4 de 2024 ou Q1 de 2025, mas com valuations bem diferentes de 2021”, ponderou.

Segundo a sócia da FM/Derraik, a expectativa para os IPOs é de que as empresas tenham pelo menos US$ 700 milhões de float (20% do valuation, ou seja, elas devem valer cerca de US$ 3,5 bilhões. No Brasil, o ideal seria algo em torno de R$ 1 bilhão de float, ou R$ 5 bilhões de valuation.

Para os especialistas, são tempos bem diferentes comparados aos 45 IPOs vistos no Brasil em 2021, em que empresas avaliadas em poucas centenas de milhões de reais foram listadas – um exemplo é o da GetNinjas, que fez um IPO valendo R$ 321 milhões, e despencou na bolsa a ponto de fazer em janeiro passado uma Oferta Pública de Aquisição (OPA)

Pensou IPO, pensou além do Brasil

Para Marcello Gonçalves, os founders que ainda pensam no IPO como uma meta para sua empresa, precisam pensar globalmente, ou pelo menos em mercados além do Brasil, como a América Latina. “Empresas brasileiras que não tem ambição de ser global não tem chances de fazer um IPO”, disparou.

Para o sócio da DOMO.VC, para startups que não chegarem no patamar bilionário necessário para fazer sua listagem, o caminho dos “big exits” se tornou outro. “Meu ceticismo com os IPOs é inversamente proporcional ao otimismo que eu tenho para os M&As”, pontuou.

É um pensamento que se alinha com outros especialistas de mercado. No começo do ano, a PwC Brasil divulgou que o mercado de M&A tende a retomar a rota de crescimento em 2024, com interesse maior do investidores por compra de controle societário ao invés de compra da participação minoritária, com 54% das operações do período (contra 47% no mesmo período do ano passado).

Entretanto, para os fundadores de tecnologia que ainda pensam em uma oferta pública, a dica dos dois especialistas é o de “colocar a barba de molho”. “No momento, IPOs só estamos vendo no México e são de economia real. De tecnologia, por enquanto não tem nada rolando, em lugar nenhum” finalizou Fabiana.