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Para fundadores, cenário difícil é "volta ao normal" no Brasil

Para CEOs da Gupy, MadeiraMadeira e Olist, o tal "inverno dos investimentos" nada mais é que um "back to basics"

Web Summit Gupy
Web Summit Gupy. Crédito: divulgação

*A cobertura especial do Startups no Web Summit Rio 2023 tem o apoio da Headline.

Como as startups brasileiras estão sobrevivendo em um cenário econômico turbulento como o atual? Para os fundadores da Gupy, MadeiraMadeira e Olist, o tal “inverno dos investimentos” nada mais é que um retorno ao normal para quem é empreendedor no país.

“Enfrentar momentos difíceis é o que sempre vivemos enquanto empreendedores aqui no Brasil”, provocou Mariana Dias, CEO e cofundadora da HRTech Gupy, durante painel no primeiro dia do Web Summit Rio.

A opinião é compartilhada pelo fundador e CEO da Olist, Tiago Dalvi, que observa que o Brasil está apenas vivendo mais um dos vários momentos difíceis que já passou. A diferença é que muitos que entraram no momento atítpico do mercado (ou seja, entre 2019 e 2021), não estão sabendo lidar com o “velho normal”, em que os runways precisam ser esticados, as rodadas estão mais complicadas de levantar, e a receita virou requisito básico.

“Entre 2020 e 2021, muita coisa acontecia só com a apresentação no Power Point, na promessa”, provocou Tiago. “Em comparação, hoje ainda vivemos uma situação melhor do que tínhamos dez anos atrás”, destacou o CEO, desenhando uma diferença entre os empreendedores que trilharam o “caminho das pedras” antes de começar a festa do venture capital que teve seu ápice em 2021.

Para o CEO da Olist, em momentos complicados, os fundadores estão sendo obrigados a observar melhor onde estão as oportunidades. “No caso atual, mais do que focar em crescimento, voltar ao básico e cuidar da fundação do negócio se tornou o essencial”, frisou Tiago.

“Nos momentos mais fáceis, é mais tranquilo tomar riscos para crescer, mas nos momentos difíceis existem muitas oportunidades”, destacou a CEO da Gupy. Recentemente, a HRTech resolveu aproveitar o momento para fazer uma aquisição, comprando a Pulses em fevereiro deste ano. Foi a segunda aquisição da companhia após a empresa levantar R$ 500 milhões em uma rodada liderada por Softbank e Riverwood.

Duras penas

No caso da MadeiraMadeira, a empresa aprendeu a duras penas como navegar em um mercado em transformação. “É preciso ter disciplina nos momentos fáceis e nos difíceis. Aproveitamos esse momento de desaceleração para fortalecer o negócio e não repetir erros”, avaliou Daniel Scandian, cofundador e CEO da empresa.

Por falar em erros, vale lembrar que tanto MadeiraMadeira quanto a Olist tiveram que lidar com consequências indesejadas da corrida por crescimento vivida durante a pandemia. No ano passado, as duas companhias entraram na estatística de diversas startups grandes que tiveram que fazer cortes em sua força de trabalho.

Para a CEO da Gupy, a onda de investimentos e busca por crescimento desconectou algumas startups de sua cultura interna, resultando em contratações pouco eficientes e layoffs mais na frente. “Além do back to basics no core business, também é importante fazer isso na cultura da empresa”, destacou Mariana.

Na visão de Tiago Dalvi, no final do dia o momento se resume a uma tarefa importante: alocação de recursos. “Incerteza é a falta de previsibilidade, quando encurta o período de previsibilidade. O momento é de refletir como você aloca capital e que decisões vai tomar”, avalia.

Como dica para encerrar o painel, Mariana Dias deu a sua “receita de bolo” para distribuir os recursos do negócio – conselho vindo de alguém que colocou meio bilhão de reais no caixa. “70% vai para o core business, 20% vai para coisas novas que precisam ser mantidas (as aquisições?) e 10% para olhar o mercado e avaliar oportunidades”, finalizou.