Cristiano Amon, CEO da Qualcomm, durante o Web Summit Lisboa 2025
Cristiano Amon, CEO da Qualcomm, durante o Web Summit Lisboa 2025 (Foto: Divulgação)

Quem olha o valor de mercado da Nvidia chegando a US$ 5 trilhões pode achar que a batalha dos chips está ganha. Mas na avaliação do presidente da Qualcomm, o brasileiro Cristiano Amon, ela está apenas começando. “É um setor que muda muito rápido. Sucesso em um determinado momento não é garantia de sucesso no futuro”, disse ele, em conversa com jornalistas durante o Web Summit Lisboa 2025.

Para Cristiano, é preciso entender o atual momento da IA. Até agora, segundo ele, os investimentos foram feitos para a criação e treinamento dos modelos. Nessa fase, a Nvidia, se destacou com suas GPUs. Mas agora, vem a parte da inferência, que significa usar esses modelos no dia a dia. E é aí que a competição começa, porque é preciso ter um olhar para a relação de tokens por watt consumido, ou seja, a eficiência de processamento versus o consumo de energia.

E quem, segundo ele, está bem-posicionado para aproveitar esse momento? Sim, a Qualcomm. “A Qualcomm tem uma vantagem uma vez que a gente veio de processadores que estão acostumados a trabalhar com bateria, consumo de bateira baixa. O que é uma solução bastante competitiva para processamento de inteligência artificial na nuvem”, cravou.

No fim de outubro a fabricante anunciou sua entrada no mundo pós-GPU com o lançamento de dois processadores desenvolvidos para inferência (AI200 e AI250) que estarão disponíveis no mercado em 2026 e 2027, respectivamente.

O primeiro cliente contrato apresentado foi com a Humane, do governo da Arábia Saudita, para implantar 200 megawatts já em 2026. “Estamos em conversas com outros grandes empresas. Eu acho que é um momento importante para a Qualcomm”, disse. A entrada no mundo dos data centers animou o mercado. No ano, as ações da companhia acumulam alta de 23%, cotadas na faixa dos US$ 176. A Nvidia já se valorizou mais de 50% no ano, com seus papéis sendo vendidos perto dos US$ 200.  

O movimento de diversificação já começa a tomar forma na indústria com a OpenAI tendo fechado acordos com a AMD e a Broadcom para suprir sua demanda por processamento. De acordo com Cristiano, a Qualcomm não precisa ter uma fatia enorme do mercado. Uma fatia pequena já representará vários bilhões de dólares nos próximos anos para a companhia. “Eu acho que tem espaço para todas as companhias”, avaliou.

Perguntado sobre a existência, ou não, de uma bolha de investimentos em IA, Cristiano fez uma analogia com os primórdios da internet em 1999. “A internet hoje é muito maior do que se imaginava. Mas levou um tempo para isso acontecer. E com a IA vai ser a mesma coisa. Ela será muito maior do que as pessoas imaginam hoje. Quanto tempo vai levar? Não dá para saber. O potencial não está subestimado. O problema é o tempo [em que isso vai acontecer]”, ponderou.