Quando o fundador Diego Martins anunciou sua saída do cargo de CEO da unico no começo do ano, foi uma surpresa para o mercado. Entretanto, essa não foi (com o perdão do trocadilho) a única: para a cadeira de Diego, que resolveu assumir a posição de CTO global da IDTech, o nome anunciado foi Sergio Chaia, veterano do mercado que há tempos não liderava um negócio. Aliás, mesmo para Sergio Chaia, se tornar o CEO de uma das startups mais quentes do país foi um tanto surpreendente.
“Honestamente, não era o meu projeto original liderar a Unico. Não tinha intenção de voltar a ocupar uma posição de CEO. Já fiz isso três vezes”, revelou Sergio, em conversa exclusiva com o Startups durante o Web Summit Rio.
A última experiência do executivo como CEO foi à frente da Nextel, onde ficou de 2006 e 2012 e liderou um momento de crescimento na operadora. Depois disso, ele se distanciou do comando de grandes empresas, focando em uma carreira de coach e mentor de outros empresários, incluindo Diego Martins.
Foi essa aproximação com o fundador da Unico que fez Sergio repensar sua convicção sobre não ser CEO novamente. Em janeiro, a fim de voltar ao desenvolvimento de novos produtos e de uma estratégia de internacionalização, Diego deixou o cargo de CEO e fez um apelo ao mentor para assumir o cargo.
“Decidi aceitar a posição por dois motivos. A primeira é que o Diego é um cara visionário e tem a capacidade de entregar produtos especiais”, diz Sergio, que já tinha se aproximado da Unico em 2022 como advisor, ajudando em projetos como consolidação da área de marketing e vendas.
O segundo motivo é o desafio proposto pela Unico, que é o de contar com o novo CEO para trazer mais eficiência para o negócio, com uma gestão ainda mais profissional. “É algo que eu me senti confortável em fazer, até porque já acompanhei a Unico como advisor nos últimos anos. Juntamos a possibilidade de ajudar o Diego a inovar e internacionalizar com minha capacidade de fazer uma gestão eficiente e deu nisso”, afirma.
De olho em uma gestão mais robusta, a Unico já vinha se mexendo desde o ano passado. O ex-Hapvida Mauricio Teixeira chegou na empresa no segundo semestre de 2023 para assumir a cadeira de CFO, e o ex-Meta Guilherme Ribenboim chegou na mesma época para o cargo de CRO da companhia.
Metas a bater
Fechando seu primeiro trimestre à frente da IDTech, os planos do executivo é o de continuar tracionando os produtos que a companhia lançou no último ano, como o unico IDPay, voltado especialmente ao e-commerce e o IDunico, que utiliza mecanismos determinísticos de autenticação, em vez dos probabilísticos, um produto que a empresa quer levar a mercados além do financeiro, onde está boa parte de seus clientes.
“A missão também esse ano é continuar demonstrando aos clientes como eles podem se beneficiar com nossos produtos em diferentes formas. Os resultados tem sido bons, e estamos focados em manter essa cadência de gestão, melhorando processos internos e focando na melhoria dos produtos junto aos nossos clientes”, destaca Sergio, sem abrir números.
Por falar em buscar maior eficiência, vale lembrar que a unico fez um corte considerável em seu quadro de funcionários no começo do ano. Segundo apurou o Startups na época, cerca de 20% do quadro foi dispensado. Em janeiro de 2023, a idtech unicórnio demitiu cerca de 110 funcionários (10,5%) do quadro, sendo que já tinha demitido em outubro de 2022.
Entretanto, segundo Sergio, apesar dos cortes na carne, a expectativa para o ano é positiva. “Temos a previsão de um ano muito bom e até agora estamos seguindo esse curso”, novamente sem entrar em números específicos sobre isso.
Para se tornar maior, uma das cartas na mesa da Unico é a internacionalização. Desde o ano passado, a companhia já fala em “atacar” o mercado mexicano, uma área que, segundo o novo CEO ainda sofre grandes dificuldades com fraudes. “O México se tornou líder em fraudes em compras por cartão de créditos. É algo que o Brasil já sofreu por um tempo, e quando chegarmos no México, vamos fazer a diferença assim como fizemos no Brasil. Em 2023, evitamos mais de R$ 70 bilhões em fraudes”, diz o CEO.
Contudo, segundo o executivo, é grande a pressão de clientes locais que tem presença em outros países, para que a IDTech leve suas soluções para fora. “Estão nos perguntando quando vamos abrir em outros países. Não diria que vamos chegar no México em breve, mas estamos observando, incluindo outros países da América Latina”, revela.
Perguntado sobre um possível IPO, Sergio respondeu rápido. “A gente não tá pensando no IPO. Tá pensando em fazer a unico cada vez mais especial e relevante para nossos clientes. E se um dia vier um IPO, vai ser uma consequencia. Não é um movimento voltado para esta finalidade”, explica.
Concorrência e rejuvenescimento
Quando a Unico surgiu, ainda como Acesso Digital, o mercado de autenticação e identidade digital era mais restrito, o que contribuiu para que a IDTech se estabelecesse como uma das mais promissoras do país, inclusive chegando ao patamar de unicórnio em 2021 após uma rodada de R$ 625 milhões liderada pela General Atlantic e pelo SoftBank.
Entretanto, mais de dez anos depois, o cenário é outro, com empresas como idwall e CAF ocupando o mercado e também recebendo investimentos. Entretanto, segundo Sergio, a concorrência mais acirrada não é uma preocupação para a Unico.
“Esse aumento de concorrência é um sinal da importância desse mercado de identidade digital. Se esse mercado não fosse relevante não atrairia concorrência. Nossa missão é continuar liderando com folga este mercado, e a gente tem conseguido isso”, avalia.
De acordo com o executivo, essa liderança se comprova em números. “7 dos maiores varejistas do país são nossos clientes, e 4 dos 5 maiores bancos são atendidos por nós. 6 das 10 marcas mais valiosas do país utilizam nossas tecnologias”, diz Sergio. “Esse movimento do Diego em criar novos produtos e novas formas de crescimento serve para continuar liderando esse mercado”, completa.
Com os desafios no horizonte, o desafio do CEO da Unico é fazer o que já conhece, mas de uma forma diferente. Acostumado com outra realidade como um C-Level em tecnologia, agora pela primeira vez à frente de uma startup, Sergio quer liderar de forma mais leve, sem perder a eficiência.
“Trabalhar numa empresa que protege as pessoas a partir dos dados e possibilita a elas acessar as coisas com menos burocracia é algo que me anima muito. É diferente das empresas em que trabalhei antes. Agora estou em uma empresa de tecnologia de ponta, ‘made in Brazil’, que atrai talentos locais e cria uma safra de produtos com potencial global. Pra mim é um ‘banho de juventude'”, finaliza.